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No Brasil, Macron critica acordo UE-Mercosul e propõe fazer 'um novo'

27/03/2024 21h18

O presidente francês, Emmanuel Macron, tachou, nesta quarta-feira (27), de "muito ruim" o acordo de livre comércio negociado entre o Mercosul e a União Europeia (UE) e propôs fazer "um novo", no segundo dia de sua visita ao Brasil.

O acordo "tal como é negociado atualmente é um acordo muito ruim para vocês e para nós", disse Macron durante o Fórum Econômico Brasil-França, realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O pacto, negociado desde 1999, prevê eliminar a maioria das tarifas alfandegárias entre os dois blocos com mais de 700 milhões de consumidores.

Mas está estagnado devido ao repúdio declarado da França e a reticências dentro da Comissão Europeia, braço executivo da UE.

"Não há nada no acordo que leve em consideração a questão da biodiversidade e do clima. Nada! Por isso digo que não é nada bom", enfatizou Macron, discursando para uma plateia de empresários brasileiros.

O presidente francês pediu a construção de outro acordo entre a UE e o Mercosul, que envolva as questões ambientais.

"Negociamos com o Mercosul há 20 anos. Vamos fazer um novo acordo [...] que seja responsável do ponto de vista do desenvolvimento, do clima e da biodiversidade", insistiu.

Após um acordo político em 2019, a oposição de vários países do bloco, incluindo a França, bloqueou sua adoção definitiva, um repúdio reforçado pela crise agrícola que sacode a Europa.

Outros países, como a Alemanha e a Espanha, defendem sua adoção, assim como o Brasil.

Antes de Macron, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na Fiesp que é preciso "explorar ao máximo as oportunidades de um intercâmbio maior entre União Europeia e Mercosul".

"Temos tempo ainda. É verdade que perdemos uma oportunidade no ano passado, mas nós não devemos desistir desse acordo", enfatizou, em referência à importante aproximação feita por Brasil e Espanha quando ambos estavam à frente dos blocos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro forte entusiasta declarado do acordo de livre comércio, mostrou-se otimista em conseguir concluí-lo, durante uma visita no início do mês do chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, que também o apoia.

- 'Defensores da paz' -

Macron passou por São Paulo, após encabeçar pela manhã, ao lado de Lula, a inauguração do submarino franco-brasileiro 'Tonelero', na base naval em Itaguaí, a cerca de 70 km do Rio de Janeiro.

O evento serviu para reforçar a associação estratégica entre os dois países.

O submersível, de propulsão convencional e fabricado com cooperação francesa, foi batizado com a quebra de uma garrafa de espumante pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.

Lula e Macron ressaltaram a importância desta associação em um mundo marcado por guerras e perturbações globais.

"A parceria que a França está construindo conosco é uma parceria que vai permitir que dois países importantes, cada um num continente, se prepare para que a gente possa conviver com essa diversidade sem se preocupar com qualquer tipo de guerra, porque nós somos defensores da paz em todo e em qualquer momento da nossa história", disse Lula.

O "Tonelero" é o terceiro de quatro submarinos Scorpène de propulsão convencional previstos no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que prevê 37,1 bilhões de reais para o desenvolvimento das capacidades submarinas do Brasil e sua indústria.

O "Angostura", o último destes exemplares destinados à proteção dos 8.500 km de costa do Brasil, deve ser lançado ao mar em 2025.

O acordo com a França, datado de 2008, prevê também um quinto submarino, que seria o primeiro do Brasil com propulsão nuclear.

"Quero que abramos um capítulo para novos submarinos [...], que olhemos de frente para a propulsão nuclear sendo perfeitamente respeitosos com todos os compromissos de não proliferação", disse Macron.

"A França estará ao lado de vocês", acrescentou o presidente francês ao lado de Lula.

Brasília busca convencer Paris a aumentar sua transferência de tecnologia para integrar o reator e vender equipamentos ligados à propulsão nuclear (turbina, gerador).

"Presidente Macron, volte para a França e diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra. Nós queremos ter o conhecimento para garantir a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos", declarou o petista.

Na terça-feira, primeiro dia da visita, Macron e Lula anunciaram um programa para arrecadar 5,4 bilhões de reais para investir em projetos de economia sustentável na Amazônia Legal e na Guiana Francesa.

A França é o terceiro maior investidor no Brasil, com cerca de 190 bilhões de reais, segundo dados do governo brasileiro.

Na quinta-feira, Macron voltará a se reunir com Lula em Brasília, em seu último dia de visita oficial ao país. 

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© Agence France-Presse

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