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Humanos apavoram mais animais selvagens que leões, aponta estudo

Sons de leões se mostraram menos assustadores que conversas de humanos, diz estudo - Reprodução/ Ajay Lalu/ Pixabay
Sons de leões se mostraram menos assustadores que conversas de humanos, diz estudo Imagem: Reprodução/ Ajay Lalu/ Pixabay
do UOL

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

24/10/2023 04h00Atualizada em 30/10/2023 18h11

Provavelmente você imagina que os leões são os seres mais temidos do planeta, já que são eles que levam o título de "rei dos animais". Mas, e se quem os animais mais temem forem nós, seres humanos?

É isso que aponta um novo estudo da Universidade de Western Ontario, em London, Ontário (Canadá), publicado na Current Biology no começo do mês: o medo dos humanos passa e muito o medo que elefantes, rinocerontes, girafas e outros mamíferos da savana africana sentem na presença de leões.

A pesquisa mostrou que a vida selvagem do Parque Nacional Greater Kruger, na África do Sul, onde foi feita a observação dos pesquisadores, tinha duas vezes mais chances de correr ao ouvir vozes humanas do que sons de leões ou de caça (cães e tiros). Os animais também abandonaram os poços de água 40% mais rápido ao ouvir sons humanos.

"Essas descobertas adicionaram uma nova dimensão aos nossos impactos ambientais em todo o mundo", declarou a professora de biologia da Universidade de Western Ontario, Liana Zanette, em comunicado.

Consequências

O estudo indicou que 94,7% das espécies de animais observadas correram mais rápido ou abandonaram poços de água mais rápido em resposta aos seres humanos do que leões.

Dentre os animais que correram, os pesquisadores registraram girafas, leopardos, zebras, javalis, hienas, cudos, impalas. Mesmo com seus portes consideráveis, elefantes e rinocerontes também abandonaram os poços de água de forma significativa só de ouvirem vozes humanas.

1 - Divulgação/ Liana Zanette/ University of Western Ontario - Divulgação/ Liana Zanette/ University of Western Ontario
Elefante corre de local próximo à fonte de água após ouvir vozes humanas
Imagem: Divulgação/ Liana Zanette/ University of Western Ontario

"O medo muito substancial dos seres humanos demonstrado aqui e em experimentos recentes comparáveis, pode-se esperar que tenha consequências ecológicas drásticas, porque novas pesquisas estabeleceram que o próprio medo pode reduzir o número de animais selvagens", alertou Liana.

Pesquisas globais recentes mostram que os seres humanos matam presas a taxas muito mais altas, por isso somos "superpredadores", sendo responsáveis por perturbar o equilíbrio natural da Terra ao matar muitos animais e peixes adultos. A Science chegou a publicar um artigo sobre o tema, em 2015.

"Consistente com a letalidade única da humanidade, dados da América do Norte, Europa, Ásia e Austrália, e agora nosso trabalho em África, estão demonstrando que a vida selvagem em todo o mundo teme o 'superpredador' humano muito mais do que o predador não-humano de cada sistema como leões, leopardos, lobos, puma, ursos e cães", ressaltou a professora da Universidade de Western Ontario.

A descoberta apresenta um dilema enorme com sérias consequências: como garantir o bem-estar animal se ele pode estar colocando sua alimentação e sobrevivência em risco ao notar os humanos e simplesmente correrem? "Fugir do poço significa que terão de encontrar outro lugar para beber — isso é um custo", falou Zanette ao Guardian.

Outro desafio surge para quem vive do turismo de vida selvagem, que em muitos lugares até mesmo protege esses animais ao financiar suas áreas de proteção, principalmente em África, destaca o artigo.

Esses resultados apresentam um novo desafio significativo para o gerenciamento de áreas protegidas e a conservação de vida selvagem. Porque agora é claro que até mesmo humanos benignos, como turistas de vida selvagem, podem causar esses impactos anteriormente não reconhecidos Liana Zanette, líder do estudo e professora da Universidade de Western Ontario

Como foi feito

Para realizar o estudo, Zanette e sua equipe precisaram implantar sistemas de câmera com alto-falante automatizados ocultos em locais próximos aos poços de água.

Os equipamentos só eram acionados quando um animal passava a uma curta distância, de cerca de 10 metros. As câmeras filmavam a resposta dos animais ao ouvirem humanos falando calmamente em seus idiomas locais.

Além das vozes humanas, também foram usados sons de leões rosnando e grunhindo, sons de caça e cantos de pássaros não ameaçadores como som de controle. Você pode conferir no vídeo abaixo.

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