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Thaís Oyama, autora de livro sobre governo Bolsonaro, estreia coluna no UOL

A jornalista Thaís Oyama - João Henrique Moreira/Jovem Pan
A jornalista Thaís Oyama Imagem: João Henrique Moreira/Jovem Pan
do UOL

Décio Galina

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/03/2020 15h32

Com os olhos de quem já acompanhou de perto os presidentes Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer, a jornalista Thaís Oyama ficou pra lá de surpresa ao testemunhar a idolatria a Jair Bolsonaro durante campanha pelo Nordeste em 2017. O choque a impulsionou a escrever Tormenta - O governo Bolsonaro: Crises, intrigas e segredos (Companhia das Letras) em apenas um ano a partir da posse.

"Na primeira parada, no Piauí, havia muita gente esperando por ele, urrando uma palavra que eu não entendia. Assim que chegou, Bolsonaro foi imediatamente carregado nos ombros, ele mal pisou no aeroporto. Perguntei a um senhor o que gritavam, e ele falou: 'mito'", relata a jornalista. Thaís Oyama estreia hoje no UOL coluna sobre política e comportamento.

Para se dedicar exclusivamente à produção do livro —lançada em janeiro, a obra já vendeu mais de 10 mil exemplares—, a jornalista pediu as contas da revista Veja, onde bateu cartão por 18 anos e ocupava o cargo de redatora-chefe.

"Estava querendo tirar férias do ambiente de redação, mas, ao mesmo tempo, não queria ficar distante da notícia, porque, como todo mundo, imaginava que o governo Bolsonaro seria algo bastante peculiar. Propor o livro foi uma ideia que permitia conciliar as duas coisas: sair da redação e continuar perto da notícia."

Capa do livro de Thaís Oyama - Divulgação - Divulgação
Capa do livro de Thaís Oyama
Imagem: Divulgação

Desde dezembro passado, Thaís assumiu o posto de comentarista no programa 3 em 1, na Jovem Pan. É sua estreia em uma rádio.

"Fiquei impressionada com o fato de no meio de toda essa disrupção digital, o rádio ter sobrevivido tão bem. A penetração e a influência dele são extraordinárias. Tudo repercute muito, e imediatamente. Estou gostando bastante da experiência de aprender algo novo a essa altura", diz a jornalista de 54 anos e passagens pelos principais veículos do país.

Mogi Miudezas

Os avós maternos de Thaís são das províncias japonesas de Gifu e Hyogo. O berço do flanco paterno fica nas províncias de Akita e Nagano. Desembarcaram no Brasil e cultivaram café. A mãe Ena Maeda Oyama, hoje com 78 anos e residente em São Paulo, chegou a Mogi em 1965, como professora primária. Lá, se casou com o nissei Carlos Oyama (1933-2012), que havia atuado como contador em São Paulo e estava em Mogi para trabalhar na relojoaria Cruzeiro —posteriormente inaugurou a loja Mogi Miudezas.

Thaís é primogênita dos quatro irmãos: André, Fernanda e Patricia (todos mogianos). Ela não contou com o apoio dos pais quando decidiu enveredar para o jornalismo. Carlos reagiu mal ao saber dos planos da filha. "Ele disse que o mercado era pequeno e que, mesmo em São Paulo, só havia dois jornais, o que significava pouco mais que 200 vagas de trabalho —muito pouco para tantos estudantes que se formavam. Respondi que conseguiria uma daquelas vagas [e conseguiu]. Ele, então, concordou. Até o dia em que morreu contava com orgulho o que achava ter sido muito atrevimento da minha parte."

A vontade de ser jornalista apareceu de maneira peculiar. "Sempre gostei muito de ler e de escrever, mas acho que a primeira vez que me encantei com o jornalismo, mesmo sem saber, foi no antigo curso primário."

Thaís recorda que, para a festa de formatura, os alunos pediram aos pais a doação de garrafas de vidro, que seriam vendidas para arrecadar dinheiro. "Fui incumbida de escrever a mensagem pedindo as doações. Fiz isso num papel, que foi xerocado e distribuído aos pais. Fiquei fascinada com o fato de que algo que havia escrito pudesse chegar e ser lido por tanta gente. Foi aí que a ideia de ser jornalista começou a surgir."

Passou no vestibular para a PUC-SP e disse adeus para Mogi. Durante a faculdade, teve sua primeira matéria publicada. "Com a minha grande amiga Dagmar Serpa [1965-2019], fiz uma matéria sobre detetives particulares. Era um trabalho pedido pelo professor Perseu Abramo, que dirigia um jornal em Santos. Ele gostou do resultado e decidiu publicar no jornal. Ficamos tão felizes que, na véspera da publicação, viajamos pra Santos e amanhecemos na praia para esperar o jornal chegar às bancas."

Tsunami no Japão e Coreia do Norte

Thaís conseguiu uma vaga na Folha de S.Paulo após passar em concurso para o suplemento Fovest. "O Otavio Frias Filho [1957-2018] havia assumido há pouco tempo e estava fazendo uma revolução lá, digitalizando a diagramação, enxugando os textos, proibindo aqueles gongorismos e montes de adjetivos, colocando jornalistas muito jovens no comando. Foi uma fase muito divertida e de aprendizado intenso."

O currículo da jornalista traz também passagens pelo jornal O Estado de S.Paulo, revista Marie Claire e TV Globo. Foi na Veja, porém, onde esteve por mais tempo: dos 18 anos, passou três como repórter e o restante como redatora-chefe. Assinou reportagens importantes, como a da Máfia do Apito: ao lado do jornalista André Risek, desvendou o esquema de suborno de juízes e conseguiu alterar o desfecho do Campeonato Brasileiro de 2005, quando o Corinthians se sagrou campeão.

Neste período, fez diversas reportagens internacionais que a levaram para Honduras, Irã, Afeganistão, China, tsunami no Japão (2011) e Coreia do Norte. "Estive na Coreia do Norte em 2009, o país era mais fechado ainda. O que mais me chocou foi a ignorância total das pessoas sobre o que se passa no mundo. Foi o único país que visitei onde as pessoas nunca tinham ouvido falar do Pelé."

Na Marie Claire, de novo ao lado da amiga Dagmar, outro momento marcante da carreira. Reportagem sobre crianças desaparecidas na qual ajudou a encontrar uma menina (sua xará) que estava sumida havia três anos. "Testemunhamos a ação da polícia e o reencontro com os pais. Foi muito emocionante. Ela tinha sido raptada por uma mulher que precisava apresentar uma criança ao namorado, pois dizia que ele era o pai."

Faixa preta

"Com muitos anos de cobertura política em Brasília, Thaís tem ótimas fontes que rendem histórias inéditas. Ela não cai em análises redutoras e foge do debate ideológico mais rasteiro. Sabe muito bem separar o detalhe que importa do detalhe sem interesse. Seu texto é excelente, sempre deixa gancho de um capítulo para o outro, prendendo o leitor", as palavras são do músico e antropólogo Ricardo Teperman, 41, editor da jornalista na Companhia da Letras.

"Além de trazer os bastidores dos primeiros movimentos do governo [Bolsonaro], o livro ajuda a formar uma ideia do que está por vir."

Em um momento em que parte do país é pautada por fake news e disparos robóticos de Whatsapp, atuações como a de Thaís ganham relevância. "A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão em geral são indispensáveis para a saúde de qualquer regime democrático", conversa Ricardo.

"E, como vimos nas últimas semanas, esse não é o entendimento do atual governo --que não esconde sua aversão ao pensamento livre. Mulheres jornalistas têm sido vítimas preferenciais dos ataques do presidente e da militância bolsonarista. O livro da Thaís é uma prova da coragem e do valor desses profissionais."

A autora de Tormenta e colunista do UOL é casada, não tem filhos, nem bichos de estimação. Quando não está praticando o bom e velho jornalismo, pratica remo. Ela traz no corpo e na mente a disciplina e o foco de 15 anos de treino de caratê, estilo shotokan. Thaís Oyama é faixa preta.

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