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Fujimori insiste que houve 'fraude' no Peru; Castillo pede 'serenidade'

Keiko Fujimori (Força Popular) e Pedro Castillo (Peru Livre), candidatos à presidência do Peru em 2021 - Angela Ponce e Alessandro Cinque/Reuters
Keiko Fujimori (Força Popular) e Pedro Castillo (Peru Livre), candidatos à presidência do Peru em 2021 Imagem: Angela Ponce e Alessandro Cinque/Reuters

12/06/2021 20h54Atualizada em 12/06/2021 23h12

A candidata de direita Keiko Fujimori insistiu neste sábado (12) que houve "fraude" na eleição presidencial do Peru realizada no domingo (6) — embora a OEA (Organização dos Estados Americanos) tenha negado a hipótese —, enquanto o candidato de esquerda Pedro Castillo, que está na frente na contagem, pediu "serenidade" a seus apoiadores.

"Há fraude na mesa, manipulação na mesa", "há acontecimentos gravíssimos nesta última etapa" da contagem de votos, disse Fujimori em reunião com a imprensa estrangeira, enquanto suas chances de ganhar a votação parecem cada vez mais reduzidas.

"Vou reconhecer os resultados, mas temos que esperar o fim", prometeu, insistindo que irregularidades teriam favorecido seu adversário, professor de uma escola rural de Cajamarca (norte).

Analistas acreditam que, diante do que parece ser uma vitória iminente de Castillo, Fujimori tenta lançar dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral para não parecer derrotada e não ver sua liderança política diminuída.

"Ela busca se apegar ao discurso da fraude para não derrubar tudo o que fez. É a maneira de se livrar do fracasso, da queda", analista Hugo Otero, ex-assessor do ex-presidente Alan García, disse à AFP.

À tarde, apoiadores de Fujimori e Castillo se manifestaram em frente à sede do Júri Nacional Eleitoral (JNE), em Lima, e dezenas de policiais formaram um cordão de isolamento para evitar que os dois grupos se enfrentassem, observou um jornalista da AFP. Em seguida, os apoiadores de Fujimori se reuniram na praça Grau, próximo ao Palácio da Justiça, em um ato que contou com a presença da candidata.

Manifestações semelhantes de ambos os lados ocorreram em outras cidades do interior do país, segundo a mídia local.

Castillo pediu neste sábado a seus apoiadores "paciência" e "tranquilidade", convencido de que está perto de ser proclamado o vencedor. "Hoje é o momento em que o Peru precisa de serenidade e de frieza, para não cair em provocações, já que estamos em um momento crítico", disse o professor de 51 anos.

"Intervenção" da esquerda

"Não há vencedores ou perdedores [ainda] aqui", disse Fujimori, que garantiu que a "esquerda internacional está intervindo" nas eleições no Peru, se referindo aos cumprimentos que Castillo recebeu de importantes líderes latino-americanos, incluindo o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Diante das saudações do exterior, o governo peruano "foi obrigado" a entregar notas de protesto aos embaixadores desses países, informou a chancelaria.

"Sem irregularidades graves"

"Se vencermos, espero que eles [os eleitores de Castillo] se aproximem", acrescentou a filha de 46 anos ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000). "Vamos construir pontes assim que o resultado acabar."

A Missão de Observação Eleitoral da OEA afirmou ontem que a votação no Peru foi um "processo eleitoral positivo" e que não detectou "irregularidades graves". O relatório dos enviados da OEA, liderados pelo ex-chanceler paraguaio Rubén Ramírez, apoiou o trabalho dos órgãos eleitorais peruanos questionados por Fujimori.

Castillo tem uma vantagem de cerca de 51 mil votos, com 99,89% das urnas apuradas, mas o JNE, órgão que analisa o processo e proclama o vencedor, ainda não decidiu sobre os pedidos de contestação de milhares de votos, especialmente feitos por Fujimori.

O prazo para contestação expirou na quarta-feira e Fujimori conseguiu apresentar apenas parte das cédulas que queria que fossem anuladas, segundo a mídia local.

Indulto ao pai

A candidata, que prometeu indulto a seu pai, que cumpre pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade, esclareceu que ele não seria membro de seu eventual governo. "Meu pai não será funcionário se vencermos", disse ela.

Fujimori também criticou o presidente em final de mandato, o centrista Francisco Sagasti, que na quinta-feira ligou para várias pessoas de ambos os lados para acalmar a situação, incluindo o Prêmio Nobel peruano Mario Vargas Llosa.

"Ficou demonstrado que o presidente Sagasti está interferindo", afirmou a candidata.

O premiado escritor de 85 anos tem apoiado ativamente Fujimori da Espanha, onde reside, apesar de ter sido antifujimorista no passado.

Pedido de prisão preventiva

As mudanças no modelo econômico promovidas por Castillo, que despertaram temores entre empresários e investidores, "nada têm a ver com a proposta venezuelana", disse seu principal assessor, Pedro Francke, em entrevista à AFP na sexta-feira (11).

Na quinta-feira (10), um promotor pediu a prisão preventiva de Fujimori por suposta violação das regras de sua liberdade condicional no caso da construtora brasileira Odebrecht, pela qual ficou presa por 16 meses.

O pedido será decidido por um tribunal em 21 de junho.

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