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Morte de animais em alto-mar: a tragédia invisível do óleo na costa no NE

do UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/10/2019 20h29Atualizada em 18/10/2019 13h52

Resumo da notícia

  • Ibama contabiliza 17 animais mortos por causa de óleo vazado
  • Número é subestimado porque grande parte deles não chega até a costa
  • Tragédia no fundo no mar deve causar dano maior à fauna que o visto em praias

Desde o início da crise ambiental causada pela chegada do óleo às praias do Nordeste, no início de setembro, o Ibama (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) contabiliza 17 animais encontrados mortos por causa do material vazado. Mas o número é subestimado porque grande parte dos animais mortos não chega até a costa.

Especialistas consultados pela reportagem afirmam que a tragédia no fundo no mar deve causar bem mais danos à fauna que aquela vista em praia.

Um exemplo está em um um vídeo que o UOL recebeu feito por pescadores de Maxaranguape em alto-mar no Rio Grande do Norte. Uma tartaruga envolta de óleo foi retirada do oceano. No vídeo, eles chegam a limpar o animal, mas não o trouxeram à costa porque ainda iriam passar uma semana pescando no barco em alto-mar.

"Estima-se que apenas 10% dos animais que morrem no oceano chega à costa", diz o biólogo Bruno Stefanis, presidente do Instituto Biota de Conservação. "Tudo que morre no oceano é consumido por outros seres, seja peixes, ou mesmo se decompõe. Tudo entra nesse processo."

O professor de pesca Cláudio Sampaio, da unidade Penedo da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), explica que há outros motivos para que animais não cheguem à areia.

Muitos desses animais são levados por correntes marinhas que desviam, ou são predados, ou afundam. O que temos encontrado nas praias com certeza é um número subestimado dos animais oleados. Muitos ficam no mar

Cláudio Sampaio, professor da Ufal

Sampaio ainda demonstra uma grande preocupação com os recifes de corais. Um vídeo divulgado ontem mostrou uma imensa mancha sobre corais supostamente em São José da Coroa Grande, na divisa de Pernambuco com Alagoas.

Mancha de óleo é avistada em recife de coral em Peroba (AL)

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"Os ambientes recifais são caracterizados pela complexidade, formado túneis, canais. Essa complexidade é que vai abrigar peixes, crustáceos, moluscos, peixes. Esse óleo pode penetrar tão profundamente que sua limpeza seja impossível. E ele causa dois impactos diretos: o sombreamento e entupimento dos pólipos dos animais que vivem lá. É uma tragédia", afirma.

Ainda há outro ponto destacado pelo professor: nem todo o óleo consegue ser retirado das praias, o que deve causar mortes a longo prazo.

"Existe uma fração solúvel do petróleo que não pode ser retirada manualmente e também é conhecida por causar sérios problemas, inclusive em nível celular. Não apenas no DNA mas também na parte fisiológica, que vai influenciar desde o comportamento às taxas de crescimento", afirma.

Muitos animais, caso não morram de intoxicação aguda, vão ficar passando para os elos da cadeia alimentar essa toxina, o que chamamos de bioacumulação. Então o consumo de crustáceos e moluscos pode ser um problema no futuro

Cláudio Sampaio, professor da Ufal

O professor do Instituto de Ciências do Mar da UFC (Universidade Federal do Ceará) Carlos Teixeira diz que é sabido que a tragédia ambiental do óleo causará impactos à fauna que não chegarão a ser mensurados.

"A gente tem que pensar que tem mais animais no mar do que aí na região costeira. Esses animais podem morrer e ficar lá, e a gente não descobre. Alguns vêm para região da praia carregado pela maré, mas outros ficam e a gente não sabe", diz.

Para ele, como não se sabe a fonte e local do vazamento, não é possível saber o dano a esses animais. "A gente não sabe como apareceu, como esse óleo está, de onde ele veio, se é uma rota de animais. Você pode ter centenas de animais marinhos morrendo lá dentro e eles não estarem chegando na praia. Mas a gente não sabe tá porque a gente não sabe onde está essa mancha", explica.

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