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'Içaram minha vó, cadeira ficou': o drama de pessoas com deficiência no RS

Jair (esqueda) e Tainá (centro) com suas famílias que foram resgatadas das enchentes no RS - Divulgação
Jair (esqueda) e Tainá (centro) com suas famílias que foram resgatadas das enchentes no RS Imagem: Divulgação
do UOL

Do UOL, em São Paulo

09/05/2024 14h16

Tainá Camargo de Freitas, 22, passou momentos de muita dificuldade com sua família, em Canoas (RS), durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Com ela, estava a avó de 88 anos, que faz uso de cadeira de rodas.

"Minha avó é cadeirante há dois anos, desde que quebrou o fêmur. Quando a água começou a subir, a colocamos no segundo andar da casa. Não achávamos que a situação ia ser tão absurda", contou em entrevista ao UOL.

Moradora do bairro Mathias Velho, um dos grandes afetados da cidade, a situação da família foi só piorando com o passar dos dias.

Os barcos passavam por nós, mas não conseguiam se responsabilizar pelo que poderia acontecer no manejo da minha avó e sua deficiência. Então ficamos. Tainá Camargo de Freitas

A essa altura, eles já não tinham mais água, comida nem bateria. Na madrugada de sábado (4) para domingo (5), os bombeiros conseguiram levar mantimentos para a família, mas ainda não tinha uma maneira de retirar sua avó de forma segura. "Eles avisaram que iam nos ajudar, independente das dificuldades", conta Tainá.

O resgate chegou pela manhã e de helicóptero do exército.

Estavam resgatando nossos vizinhos da casa da frente. O primeiro a ser içado pelo telhado foi meu pai, que é cardíaco e diabético. Depois eles tiveram todo o cuidado de fazer amarrações nas pernas e no peito da minha avó para tirá-la também. Tainá Camargo de Freitas

Contudo, a cadeira precisou ficar. "Minha irmã e meu primo ficaram em casa e levaram a cadeira no dia seguinte, no resgate de bote", explica Tainá.

Ela e sua família foram acolhidos pela Acadef (Associação Canoense de Deficientes Físicos). A ONG trabalha com reabilitação de pessoas com deficiência e está precisando de todo tipo de apoio e doação. Eles estão acolhendo, nesse momento, cerca de 100 pessoas. "Se não fosse por eles, não sei dizer como estaríamos", conta Tainá.

'Perdi minha casa e meus sonhos'

Jair Silveira, 53, é tetraplégico e faz uso de cadeira de rodas há 22 anos. Ele também era morador do bairro Mathias Velho, em Canoas, e perdeu tudo com as enchentes, inclusive seu grande sonho: o carro adaptado.

"Minha casa está coberta de água até o teto. Mas conseguimos sair sem precisar de resgate. Eu e meu filho estávamos observando as informações e evacuamos antes que o dique de contenção cedesse. Foi questão de minutos", disse ao UOL.

São sonhos que a gente idealizou, planejou, realizou e agora voltamos à estaca zero. Uma casa adaptada para um cadeirante tem elevador, banheiro especial e detalhes que dão autonomia. E foi tudo por água abaixo. Jair Silveira

Silveira e seu filho também estão acolhidos na Acadef. "Viemos direto para cá, porque existe uma estrutura mobilizada e pensada para quem tem deficiência", conta.

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