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Jovem morre em corrida ligada a Pablo Marçal; família pede investigação

Bruno Teixeira, morto aos 26 anos após um mal súbito durante uma maratona "surpresa" no d - Instagram/Reprodução
Bruno Teixeira, morto aos 26 anos após um mal súbito durante uma maratona 'surpresa' no d Imagem: Instagram/Reprodução
do UOL

Colaboração para o TAB, de Valinhos (SP)

20/06/2023 04h00

A Polícia Civil de São Paulo investiga as circunstâncias da morte de Bruno da Silva Teixeira, 26, um prestador de serviços de uma das empresas ligadas a Pablo Marçal, durante uma corrida de rua realizada em Alphaville (SP) no último dia 5.

Segundo boletim de ocorrência registrado em uma delegacia de Barueri (SP), Bruno corria com um grupo de funcionários da XGrow por volta das 22h quando teve um mal súbito e caiu. De acordo com o BO, ele sofreu uma parada cardíaca e foi levado de carro até o Hospital Albert Einstein, onde os médicos tentaram reanimá-lo, mas ele foi declarado morto às 23h20.

Bruno era contratado como PJ pela XGrow, empresa criada por Pablo Marçal que hoje é comandada por seu sócio, Marcos Paulo de Oliveira. O influencer se desfez das participações de parte de suas companhias quando quis se candidatar a presidente em 2022, mas elas ainda são atreladas ao seu grupo econômico, segundo fontes ouvidas pelo TAB.

A corrida, segundo familiares, foi organizada por funcionários do autointitulado "estrategista digital" — que ficou conhecido, em janeiro do ano passado, por ter levado colaboradores e seguidores para o Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, num dia de chuva. O grupo precisou ser resgatado pelos bombeiros, sob risco de morrer de hipotermia.

A escalada fazia parte do programa "O Pior Ano da Sua Vida", uma das muitas mentorias em que Marçal orienta funcionários e alunos a vivenciarem situações extremas para superar limites, aprender a tomar decisões difíceis e enriquecer.

'Pior Corrida'

Proibido de voltar ao Pico dos Marins desde o episódio do resgate, Marçal tem mudado o foco dos desafios e passou a estimular funcionários e seguidores a romper seus limites em corridas de longas distâncias.

Segundo os irmãos de Bruno Teixeira, o grupo saiu do prédio da Plataforma Internacional, que pertence a Pablo Marçal, com o desafio de correr, de última hora, 42 quilômetros, o equivalente a uma maratona. Marçal não estava no grupo. Entretanto, dias antes, o influenciador afirmou ter completado essa mesma distância num desafio que chamou de "Pior Corrida da Sua Vida".

"Minha mãe não é mãe de fraco. Meu pai não é pai de otário. Minha vó não é vó de trouxa", chega a dizer o influencer numa postagem em que se gaba de completar a maratona.

Amigos de Marçal dizem que ele nunca foi praticante de maratona e duvidam que ele tenha de fato terminado o percurso.

'Olha onde eu fui me enfiar'

Horas antes de morrer, Bruno, que estava acostumado a correr curtas distâncias desde 2018, gravou uma série de vídeos. Um deles mostra o momento em que ele e os colegas são avisados, para espanto geral, que a meta de correr 21 km havia dobrado. Entre eles estava seu chefe imediato e o personal trainer de Pablo Marçal. Felipe Cintra, CEO da Plataforma Internacional, também aparecia nas imagens.

Na frente da empresa, o funcionário chegou a brincar: "Fui inventar de andar com os caras de frequência alta, olha onde fui me enfiar. 42 quilômetros!".

Em outro vídeo, Bruno tentava acompanhar o personal trainer, que corria enquanto fazia uma live. "Ele está produzindo, destravando as pessoas, correndo e destravando ele mesmo", elogia Bruno no vídeo, usando um dos muitos jargões de Marçal, que promete "destravar" os alunos em busca da prosperidade.

Bruno passou mal perto do 15º quilômetro da corrida.

'Por conta e risco'

Segundo Tassio Renam Souza Botelho, advogado de Pablo Marçal, a morte do jovem foi uma fatalidade. Ele afirma que Bruno estava acostumado a atividades do tipo, correu por conta e risco e que é "má-fé" associar a tragédia com as lições de superação do coach.

"Pablo nem estava na corrida. Estava dormindo em casa quando foi acordado com essa triste notícia. Estamos todos tristes, mas infelizmente em qualquer corrida isso é passível de acontecer. O que temos é um relato de inspiração do Pablo, que correu 42 quilômetros, e isso mexeu com ele."

O advogado afirmou ainda que "estudos da internet" apontam que mortes do tipo em pessoas de menos de 30 anos se tornaram mais comuns após a vacinação contra a covid-19.

Não há qualquer estudo científico a respaldar a informação dada pelo advogado; as vacinas contra a covid-19 se provaram seguras. O que está sob investigação, em diversas instituições de pesquisa pelo mundo, é a relação entre a própria doença (covid-19) e maior incidência de doenças cardiovasculares em adultos.

Jogo de empurra

Familiares dizem que o jovem trabalhava na XGrow desde o fim de 2022 e tinha como sonho chamar a atenção e atuar mais perto de Marçal, de quem era fã e seguidor. A página de Bruno no Instagram tem uma série de postagens sobre sucesso e superação.

A defesa da família está reunindo elementos para apurar possíveis responsabilidades dos dirigentes das empresas no caso. Um dos questionamentos é se foi chamado o Samu para socorrer a vítima, que foi levada até o hospital em um carro particular.

"Nada disso teria acontecido se não fosse a loucura do Pablo em fazer todo mundo correr 42 quilômetros", afirma Luciano Teixeira, um dos irmãos da vítima.

Segundo a advogada da família, Glaucia Ferreira Rocha, Pablo tinha grande poder de influência sobre o grupo e isso deve ser investigado. Além disso, para ela, a empresa onde Bruno trabalhava ainda é, na prática, parte da holding comandada por Marçal.

Falha nos primeiros socorros

A advogada lembra que, em casos como este, os primeiros socorros são fundamentais para a sobrevida da vítima. "Ao que tudo indica, ninguém ali sabia o que fazer em caso de parada cardíaca, o que demonstra despreparo por parte dos idealizadores de um treino de tamanha intensidade. Isso nos causa estranhamento", afirma.

Os familiares também querem saber que tipo de apoio e estrutura os responsáveis pelo treino providenciaram, mesmo não se tratando de uma maratona oficial.

Eles se queixam ainda pelo fato de os advogados de Marçal terem, segundo eles, tomado a dianteira nos procedimentos no hospital e também na delegacia, como testemunhas. E que há lacunas na história que querem entender. A defesa de Marçal diz que tem prestado todo o apoio aos familiares.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que a ocorrência foi registrada como morte suspeita no plantão da Delegacia de Barueri e encaminhada ao 2º Distrito Policial da cidade, que investiga o caso. "Exames foram solicitados ao IML (Instituto Médico Legal) e estão em elaboração para auxiliar no esclarecimento da causa da morte", afirmou, em nota.

A assessoria de Pablo Marçal, também em nota, disse que o Samu chegou a ser acionado, mas que a vítima foi levada ao hospital mais próximo "porque o serviço demoraria". Também afirmou que o ponto de encontro agendado entre os participantes era em um posto de gasolina que fica na rua onde ocorreu a fatalidade. "A maioria passou no prédio onde a empresa fica localizada para deixar seus veículos antes de seguir para o ponto de encontro que era o posto e lá acabaram pedindo instruções para os corredores mais experientes."

A nota afirma ainda que, como se tratava de um treino espontâneo e amador, é comum ver corredores se desafiarem a correr 42 km ou outras distâncias no local. "Os treinos não são estruturados. Cada um leva a sua água e suplementos de acordo com seus gostos. Lamentamos essa fatalidade profundamente, pois todos estão sujeitos a uma fatalidade. (...) Certas pessoas se utilizaram dessa dor para outros fins", mas "o todo tempo prestamos o suporte necessário à família".

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