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Descoberta no Peru comprova: civilização que bebe unida, permanece unida

Cervejarias tiveram boa influência no desenvolvimento do império inca. Acima, Machu Picchu, no Peru, que abrigava templos incas - Mike Theiss/National Geographic Creative
Cervejarias tiveram boa influência no desenvolvimento do império inca. Acima, Machu Picchu, no Peru, que abrigava templos incas Imagem: Mike Theiss/National Geographic Creative
do UOL

Luiza Ferraz

Especial para o UOL, em São Paulo

23/04/2019 14h44

Na história da humanidade, sabemos que várias civilizações entraram em guerra e acabaram dizimadas. Mas arqueólogos norte-americanos acharam uma solução para isso: basta elas beberem juntas, que permanecerão unidas.

Brincadeiras à parte, uma equipe de estudiosos passou a analisar a sociedade de Wari, que se desenvolveu no Peru antigo e criou sua própria arquitetura, arte, equipamentos de guerra e também bebidas.

Eles contavam com cervejarias, administradas por mulheres e que produziam diversos tipos de fermentados. Essa cultura se espalhou por boa parte do território, entre a Cordilheira dos Andes e a costa do Pacífico, e teve boa influência no desenvolvimento do império inca.

"As instituições que cercam as produções de fermentados desempenharam um papel importante na união de povos", afirmou Ryan Williams, arqueólogo do Field Museum, em Chicago (EUA), segundo o portal Popular Science.

De acordo com as análises, muitas civilizações começaram a produzir bebidas alcoólicas antes mesmo de desenvolverem a escrita. Os hominídeos, por exemplo, criaram gosto pelo produto ao comerem frutas caídas de árvores que já estavam maduras e haviam fermentado sozinhas.

No caso dos Wari, o drinque mais famoso se estende até os dias de hoje. Trata-se da Chicha, bebida típica de países da América do Sul, fermentada do milho e de outros cereais.

A equipe acredita que essas fábricas se conservaram por tanto tempo devido ao fato de produzirem seu próprio material, não precisando importar de outras civilizações. Além disso, o fator natural também ajudou: elas contavam com resquícios de uma espécie de pimenta que crescia em todos os tipos de clima, durante o ano todo.

Os fabricantes de Wari produziam de 1.500 a 2.000 litros de bebida por vez e as distribuíam em festivais para que toda a comunidade a consumisse.

"Se você está um pouco embriagado, acaba se tornando mais amigável e a experiência de beber junto com certeza ajuda a criar laços", disse Donna Nash, da Universidade da Carolina do Norte, ainda à publicação.

Além da socialização, a bebida servia, em diversas culturas, como uma espécie de pagamento para funcionários e também em rituais políticos e religiosos.

"Não podemos ignorar a ligação de suas crenças e comportamentos com essa espécie de bebida", completou Nash.

Para entender melhor como funcionava a produção de Chicha, a arqueóloga decidiu produzi-la sozinha e descobriu que o processo é simples e pode ser feito em um dia. Desta maneira, muitos povos da antiguidade a produziam em suas próprias casas.

Segundo a pesquisadora, esse estudo prova como pequenas características de uma sociedade podem ajudar a mantê-la unida. Ela ainda afirma que os Wari estavam cientes do quão influente essa prática poderia ser na união de comunidades.

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