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SP: Falta de limpeza de vans que transportam mortos preocupa funcionários

Flores e coroas de flores para vítimas de outras doenças são transportadas no mesmo veículo que leva corpos vítimas de covid-19 - Arquivo pessoal
Flores e coroas de flores para vítimas de outras doenças são transportadas no mesmo veículo que leva corpos vítimas de covid-19 Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

22/04/2021 04h00

Vans particulares, entre elas as escolares, destinadas ao transporte de alunos da rede privada, começaram neste mês a operar transportando corpos de vítimas de covid-19 na capital paulista. Contudo, em poucos dias de atuação, profissionais do serviço funerário já denunciam que não tem havido a higienização adequada dos veículos.

O procedimento faz parte do protocolo de regras sanitárias em casos de covid-19 após o óbito do paciente: Para a realização da nova função, os veículos tiveram os bancos e adesivos laterais removidos. De acordo com a entidade, todos serão higienizados no início e no final do trabalho. Motoristas e assistentes receberão materiais para segurança como máscaras, luvas e álcool em gel.

Não devo falar que precisa higienizar o veículo. Isso é o básico. É a mesma coisa de questionar se o médico deve lavar a mão: ele deve lavar sempre."
Paulo Lotufo, epidemiologista e professor de medicina da USP

Outra questão relatada por profissionais à reportagem é a colocação de coroas de flores de vítimas de outras doenças sendo transportadas nos veículos destinado a uso exclusivo na pandemia. De acordo com um deles, que não terá a identidade relevada a pedido, em seu setor, já se somam seis funcionários com covid-19 e quatro estão afastados.

Os funcionários não têm autorização para colocar flores nos caixões de vítimas de covid-19 e não há velório para mortes decorrentes de coronavírus.

Segundo o profissional, o veículo próprio para fazer o transporte dos ornamentos não fica disponível, principalmente aos fins de semana, ocasionando o uso da van "contaminada". "É um risco grande, porque o mesmo carro que está com covid leva esses ornamentos", teme.

Sem os equipamentos adequados de segurança, os funcionários temem a contaminação do coronavírus em quem faz o manuseio dos itens, motoristas dos carros e o alto risco aos familiares que farão os velórios. Sobre essa denúncia, a Prefeitura se restringiu a dizer que conta com uma van para fazer a distribuição logística de flores e urnas funerárias.

Infectologista do Hospital das Clínicas, Evaldo Stanislau reforça que o ideal, em casos de covid, é o manuseio mínimo dos corpos. Já Plínio Trabasso, infectologista e professor associado do Departamento de Clínica Médica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que como os corpos são acondicionados em sacos duplos, o risco é pequeno nesse tipo de serviço.

Existem regras funerárias e elas são muito estritas. Esses itens, neste momento que não estamos seguindo o hábito cultural [de velórios], são secundários e terciários."
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas

A Prefeitura confirmou que a prática de colocar flores nos caixões das vítimas da covid-19 e de outras doenças contagiosas não é comum, "uma vez que o corpo é envolvido por um invólucro (manto protetor) e o caixão é lacrado". Após contato do UOL, o serviço funerário também afirmou que está à disposição para analisar ao menos três notas ficais que mostram a venda dos ornamentos e, no mesmo documento, o registro da causa da morte por coronavírus. "Cheguei a denunciar no ano passado, porque isso é errado, está pegando dinheiro das pessoas", disse o profissional.

Higienização dos veículos

Desde março, o serviço funerário tem vivido situações drásticas devido ao agravamento da pandemia. Um plano de contingência tem sido estruturado caso a capital a paulista bata o recorde de sepultamentos diário, acima de 420. No dia 30 de março, a cidade chegou em 426. No começo deste mês, por exemplo, a Prefeitura começou a abrir 600 valas por dia.

Infectologista do Hospital das Clínicas, Evaldo Stanislau reforça que a limpeza entre um transporte e outro é um protocolo mínimo a ser seguido. "Assim como os funcionários precisam ter os EPIs, os carros precisam passar por uma limpeza constante", explicou.

Todas as doenças passíveis de transmissão por fluídos corporais são um risco nesta situação."
Plínio Trabasso, infectologista e professor associado da Unicamp

Vale lembrar que no fim de março, a gestão de Bruno Covas (PSDB) contratou a empresa Era Técnica Engenharia Construções e Serviços, sem licitação e em situação emergencial, para locar 54 veículos, sendo 50 para transporte de corpos e quatro de passeio para levar agentes funerários.

O contrato de um mês totalizou R$ 1,7 milhão aos cofres da Prefeitura. A contratação levantou suspeitas e fez o TCM (Tribunal de Contas do Município) abrir uma auditoria para verificar possíveis irregularidades no contrato.

A Secretaria Municipal das Subprefeituras afirmou ter cumprido a legislação no processo de contratação da empresa e que os esclarecimentos já foram prestados ao TCM.

Em nota, a Prefeitura se limitou a dizer que os contratos com as empresas terceirizadas preveem a higienização dos veículos, assim como os equipamentos de segurança. "A autarquia [do serviço funerário] realiza fiscalizações, e caso seja constatado desrespeito ao contrato, as empresas podem ser punidas", disse.

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