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Pesquisadores encontram novos indícios da presença de água na Lua

26/10/2020 17h47

A Lua teria mais água do que imaginavam cientistas. O elemento estaria preso, em forma de gelo, em múltiplas micro-crateras, segundo estudos publicados nesta segunda-feira (26). A descoberta poderia representar uma fonte potencial para futuras missões espaciais.

Por muito tempo a Lua foi vista como um astro totalmente árido. Esta ideia mudou em  2008, quando pesquisadores descobriram moléculas de água no interior do magma trazido por astronautas das missões Apollo. O gelo estaria aprisionado no fundo de grandes crateras que ficam constantemente na sombra, perto dos polos, onde as temperaturas são extremamente baixas.

Um estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Astronomy dá mais indícios da presença do precioso líquido na superfície da Lua. O trabalho revela a existência de várias micro-crateras que também reteriam em seu fundo a água em forma de gelo. Elas foram chamadas de "armadilhas frias".

"Imaginem a Lua, perto de um de seus polos: vocês veriam uma imensidão de pequenas sombras espalhadas pela superfície, a maior parte menores que uma moeda. Cada uma seria extremamente fria, o suficiente para conservar gelo", explica Paul Hayne, professor do departamento de astrofísica da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.

A equipe de Hayne utilizou dados de dois instrumentos do orbitador de reconhecimento da Nasa, LRO, e combinou estas medidas com modelizações 3D. Dessa maneira os pesquisadores puderam reproduzir o tamanho e a repartição das sombras, em escalas menores que o milímetro.    

As temperaturas seriam as mesmas que nas grandes crateras: por volta de -160°C. Mas elas são bem mais numerosas. "Encontramos dezenas de milhares contra algumas centenas para as maiores", detalha Paul Hayne.

Somando às superfícies já identificadas, a superfície total de água na Lua chegaria a 40.000 km2, 60% no polo sul, "sugerindo que a água é mais abundante na Lua do que pensávamos", explicou à AFP o pesquisador, principal autor do estudo.

Asteróides

Outro estudo, publicado na mesma revista, traz a prova química de que o material encontrado é realmente água.

O telescópio aerotransportado do Observatório estratosférico para a astronomia infravermelha (SOFIA, na sigla en inglês) forneceu novos dados graças à observação do satélite em um comprimento de onda mais preciso que antes - a 6 microns em lugar de 3. E pela primeira vez, os pesquisadores puderam diferenciar claramente a molécula H2O (formula química da água) de um outro composto químico, a hidroxila, OH, ao qual ela está misturada.

Mas de onde vem esta água? Provavelmente da queda de asteróides que chocaram com a Lua há milhares de anos, a mesma fonte que teria fornecido o elemento para a Terra. As moléculas de água projetadas durante a queda destes corpos teriam caído no fundo destas crateras onde ficaram "presas para sempre" pelo frio, explica Francis Rocard, especialista do sistema solar do Centro nacional de pesquisas espaciais da França (CNES).

Se uma técnica de extração for desenvolvida, a descoberta representaria um recurso potencial para futuras missões espaciais, sobretudo a Lunar Gateway, a futura miniestação que será montada na órbita da Lua.

Para as futuras missões habitadas para Marte por exemplo, poderíamos imaginar "decolar da Terra, fazer uma parada 'no posto' que será a Lunar Gateway, de onde seriam enviadas sondas para a superfície lunar recolher água e assim encher o tanque com a água necessária para a equipe efetuar a viagem até Marte", diz Francis Rocard, que não participou dos estudos.

"Isso poderia baixar o custo do programa, porque é menos caro que levar água da Terra", explica o astrofísico francês, insistindo que a viagem para Marte dura seis meses.

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