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Exército do Camarões lamenta 'infeliz acidente' após massacre em vilarejo

17/02/2020 13h20

Yaoundé, Camarões, 17 Fev 2020 (AFP) - O Exército do Camarões negou nesta segunda-feira (17) que soldados tenham matado 22 civis, incluindo crianças, em um vilarejo na região de língua inglesa, assegurando que a tragédia foi resultado de um "infeliz acidente" após trocas de tiros entre as forças de segurança e rebeldes.

Esta versão dos militares, que evocam apenas "cinco vítimas civis", provocou protestos nas redes sociais.

Na sexta-feira (14), pouco antes do amanhecer, homens armados - entre 40 e 50, todos com uniformes do Exército e alguns mascarados, de acordo com testemunhos reunidos por agentes humanitários contactados pela AFP - atacaram o bairro de Ngarbuh, na aldeia de Ntumbo, atirando. Depois, queimaram moradores.

No domingo, (16), um representante da ONU disse à AFP que 22 civis, incluindo 14 crianças, uma mulher grávida e duas mulheres carregando bebês, foram mortos por "homens armados".

A oposição, assim como muitas personalidades e ONGs de direitos humanos, acusaram o Exército. Alguns internautas postaram fotos horríveis de crianças com corpos queimados, ou mutilados. Essas fotos não puderam ser autenticadas pela AFP.

"Foi simplesmente um acidente infeliz, uma consequência colateral das operações de segurança na região", declarou hoje o porta-voz do Exército, coronel Cyrille Atonfack Guemo.

Segundo ele, quatro soldados e dois policiais que faziam uma operação de "reconhecimento noturno a pé", perto de uma casa "transformada em campo fortificado", foram alvo de "tiros".

"Sete terroristas" foram mortos durante esta operação, relatou o porta-voz.

"Os combates continuaram até a explosão de vários contêineres de combustível, seguido por um incêndio violento que atingiu algumas casas vizinhas", acrescentou o coronel Atonfack.

"Esse incêndio matou cinco pessoas, incluindo uma mulher e seus quatro filhos", afirmou.

"Eles atiraram em pessoas e queimaram vítimas. Seus corpos estão em péssimas condições", afirmou um trabalhador humanitário, que falou sob condição de anonimato.

"As pessoas nos telefonaram e contaram que os soldados chegaram e arrombaram as portas, mataram a tiros os que estavam dentro e incendiaram as casas", disse à AFP Louis Panlanjo, morador e membro de uma ONG local.

Cerca de 800 pessoas "foram buscar refúgio no centro da cidade", acrescentou.

Outras fontes apontam para um número muito maior de mortos. O advogado e ativista de direitos humanos Agbor Felix Nkongho, fala em 32 civis mortos. Um morador, que pediu para não ser identificado, disse que 35 corpos foram encontrados e acusou o Exército, em entrevista por telefone à AFP.

Amplamente criticado por seu silêncio, Yaoundé finalmente reagiu à tragédia. "Levamos todo o fim de semana para investigar, razão pela qual não reagimos até hoje", alegou o coronel Atonfack à AFP.

Há vários anos, o Exército camaronês é acusado por ONGs internacionais de cometer abusos contra civis nas duas regiões de língua inglesa, bem como no extremo norte do país, onde os soldados enfrentam o grupo jihadista Boko Haram.

Um sangrento conflito entre as forças de segurança e grupos armados separatistas de língua inglesa deixou mais de 3.000 mortos e 700.000 deslocados em três anos nas regiões noroeste e sudoeste.

Nesta segunda-feira, o julgamento de sete soldados acusados de executar duas mulheres e seus bebês friamente em 2015, adiado várias vezes nos últimos meses, foi retomado em Yaoundé. Na época dos assassinatos, o governo falou de "notícias falsas", antes de se retratar e prender os sete soldados.

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