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Comércio de animais selvagens aumenta o risco de epidemias

24.jan.2020 - Médicos atendem paciente infectado pelo coronavírus no hospital Zhongnan, em Wuhan, na China - Xinhua/Xiong Qi
24.jan.2020 - Médicos atendem paciente infectado pelo coronavírus no hospital Zhongnan, em Wuhan, na China Imagem: Xinhua/Xiong Qi

26/01/2020 12h08

Xangai, 26 Jan 2020 (AFP) - O vírus da SARS, transmitido por animais, revelou há 17 anos o perigo envolvendo o comércio de espécimes selvagens, uma prática generalizada que, segundo os cientistas, representa um risco significativo para a saúde humana, como evidenciado pela aparição de um novo coronavírus na China.

Assim como o vírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), esse novo coronavírus, que já causou 56 mortes e afeta quase 2.000 pessoas, teria sua origem em animais silvestres vendidos para consumo humano.

Embora ainda não se tenha chegado a uma conclusão sobre a origem da epidemia, as autoridades de saúde chinesas apontam para espécies selvagens que eram vendidas ilegalmente no mercado de Wuhan, no centro da China.

Nesse mercado eram vendidos animais vivos tão variados quanto ratos, coiotes e salamandras gigantes.

Neste domingo, Pequim anunciou uma proibição temporária do comércio de animais silvestres.

O comércio de carne desses animais, além de contribuir para a destruição de habitats, faz com que os seres humanos tenham contato cada vez mais próximo com vírus que eles carregam e que podem se espalhar rapidamente em nosso mundo ultraconectado, explica Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG especializada na prevenção de doenças infecciosas.

De acordo com o projeto Global Virome, que visa melhorar a maneira de lidar com as pandemias, existem mais de 1,7 milhão de vírus não descobertos na vida selvagem e quase metade deles pode ser prejudicial aos seres humanos.

"A nova regra será a de pandemias com cada vez mais frequência", disse Daszak, que enfatizou que "estamos cada vez mais em contato com animais portadores desses vírus".

"Tradição cultural"

A origem animal de várias doenças infecciosas que surgiram desde os anos 1980 foi estabelecida: o civet - um pequeno carnívoro - para a SARS, que causou centenas de mortes na China e Hong Kong em 2002-2003; o morcego em relação ao ebola; e o macaco na origem do HIV (vírus da aids).

A carne de aves e gado pode estar na origem de doenças como Creutzfeldt-Jakob e gripe aviária.

"Para o futuro das espécies selvagens e para a saúde humana, precisamos reduzir o consumo desses animais", diz Diana Bell, bióloga especializada em doenças e proteção da vida selvagem na Universidade de East Anglia (Reino Unido).

Ainda assim, o consumo de carne desses animais não é necessariamente perigoso, uma vez que a maioria dos vírus morre quando o portador morre.

No entanto, elementos patogênicos podem ser transmitidos aos seres humanos durante sua captura, transporte ou abate, principalmente se forem realizados em condições sanitárias precárias ou sem equipamento de proteção.

As autoridades chinesas tentaram resolver o problema promovendo a criação em cativeiro desses animais.

Isso inclui espécies ameaçadas, como tigres, muito apreciadas na China e no resto da Ásia, onde são atribuídas virtudes afrodisíacas.

Segundo grupos ambientalistas, a demanda chinesa, incentivada pelo aumento do poder de compra, é o principal motor do comércio mundial dessa carne.

Uma ação que também é apoiada por uma indústria agroalimentar que gera desconfiança após uma sucessão de escândalos, aponta Yang Zhanqiu, biólogo da Universidade de Wuhan.

"É muito difícil interromper uma atividade com 5.000 anos de tradição cultural", admite Daszak, que espera que as novas gerações mudem seus hábitos alimentares graças a campanhas de conscientização, apoiadas por celebridades chinesas.

"Acho que daqui a 50 anos isso será coisa do passado", afirmou.

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