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Por que o sinal do celular "não pega" quando estamos no trânsito?

Você também se estressa com o celular que não funciona em lugares com muita gente? - Getty Images
Você também se estressa com o celular que não funciona em lugares com muita gente? Imagem: Getty Images
do UOL

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/03/2019 04h00

É bem provável que você já tenha passado pela seguinte situação: passageiro de um carro parado em um congestionamento, você resolve passar o tempo navegando pela internet. Aí, com o smartphone em mãos, percebe que ele está sem sinal - ou, ainda, que a conexão com a operadora fica intermitente.

Quando isso ocorrer com você, não adianta ficar triste ou ter um ataque de raiva e jogar o smartphone pela janela. É bastante provável que as pessoas ao seu redor estejam com o mesmo problema, e há uma explicação para isso.

Trata-se do excesso de conexões em uma mesma antena de celular.

"É similar ao que acontece quando muitas pessoas estão conectadas ao mesmo tempo na rede wifi de sua casa. O sinal fica fraco e o roteador pode até recusar a conexão. Isso também ocorre em grandes antenas quando há um número muito grande de acessos", explica o professor João Carlos Lopes Fernandes, do curso de Engenharia de Computação do Instituto Mauá de Tecnologia.

E não é só em congestionamentos que isso acontece. Na verdade, qualquer aglomeração de pessoas usando o celular, como em um evento esportivo ou show musical, causa esse tipo de oscilação.

Apesar de estarmos falando de antenas muito mais potentes do que aquelas do seu roteador, as chamadas ERBs (sigla para Estações Rádio-Base) também têm um limite de conexões simultâneas, o que é determinado por cada operadora de telefonia móvel.

"Elas são dimensionadas para um número fixo de canais, de acordo com uma previsão de demanda. Se essa demanda se modifica em algum instante, o número de canais disponíveis pode se tornar inadequado momentaneamente", explica Michel Daoud Yacoub, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp.

A ANTENA COM MELHOR SINAL

A tendência, claro, é que isso ocorra quando há a combinação de dois fatores: muita gente usando o celular e poucas antenas disponíveis. Do contrário, os smartphones acabam fazendo uma seleção automática de qual rede irão se conectar.

"A conexão, normalmente, é feita com uma torre da sua operadora. Quando há várias delas, o celular, normalmente, escolherá aquela com o melhor sinal ou, ainda, uma que esteja menos congestionada", diz Yacoub.

O que determina se um celular pode ou não se conectar a determinada antena é o IMEI, que age como uma credencial atrelada a uma operadora. "Por isso o IMEI é útil para resolver casos de roubo ou perda do aparelho, pois, com ele bloqueado, o telefone não vai funcionar", salienta Fernandes.

MOVIMENTO TAMBÉM ATRAPALHA O SINAL

Se a conexão do seu smartphone é prejudicada pelo fato de você estar preso a um congestionamento, saiba que o oposto também atrapalha. Ou vai dizer que você nunca passou pela situação de ser um passageiro em um veículo trafegando em uma rodovia e, na hora de usar o celular, perceber que o sinal fica "indo e voltando"?

Isso acontece porque o aparelho fica em uma troca constante de antena, "saltando" de uma para a outra conforme as áreas de cobertura de cada ERB termina.

Em situações comuns, não percebemos quando o smartphone troca de antena, situação bastante diferente de quando estamos em movimento constante, como em uma rodovia. "Nesta situação, pode acontecer de o celular ficar sem conexão, decorrente da velocidade do veículo e da distância da ERB. Em alguns casos, é necessário desligar e ligar novamente o celular para retomar a conexão, pois a torre da operadora tenta encontrar o celular, mas não consegue se conectar", explica Fernandes.

Outra questão que também pode prejudicar o sinal do celular quando estamos em movimento é que a velocidade do veículo pode alterar a frequência do sinal recebido pelo aparelho.

"É o chamado efeito Doppler. É uma situação parecida com a que há quando ocorre a alteração da percepção do som da buzina de um carro em movimento. No caso dos celulares, esse efeito acaba causando um ruído na recepção do sinal", diz Yacoub.

OUTROS INIMIGOS DO SINAL

Além do congestionamento de conexões em antenas e da influência da velocidade na recepção do sinal, há outros fatores que atrapalham o bom funcionamento de um smartphone.

Existir uma barreira física é um deles. "É por isso que a qualidade do sinal dos aparelhos é pior em lugares fechados, já que concreto, aço e outros materiais de construção diminuem a propagação do sinal", diz Fernandes.

É a mesma razão pela qual você perde sinal em um túnel ou, ainda, fica sem sinal no túnel do metrô quando não há repetidores de sinal instalados nessas estruturas.

E, por fim, São Pedro também pode jogar contra quando você está tentando completar uma ligação. Isso ocorre porque o clima também interfere no sinal do celular. "Tempestades, raios e grande volume de água dificultam a passagem do sinal, causando conexões mais instáveis. É algo parecido com o que acontece com uma TV via satélite", conclui Fernandes.

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