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Chega a 100 número de mortos em cheias no RS; resgates são suspensos por novas chuvas

08/05/2024 14h11

O número de mortos nas históricas enchentes no Rio Grande do Sul chegou a 100 nesta quarta-feira (8), enquanto as operações de resgate em Porto Alegre foram suspensas por novas chuvas.

Segundo a Defesa Civil, pelo menos 100 pessoas morreram, 374 ficaram feridas e 130 estão desaparecidas nas inundações provocadas pelo transbordamento de rios após as chuvas torrenciais da última semana no estado.

Um milhão e meio de pessoas foram afetadas e mais de 163 mil precisaram deixar suas casas por causa do desastre climático, cuja violência especialistas e o governo vinculam às mudanças climáticas.

Expulsos de casa pelas águas, os moradores da favela Santo André em Porto Alegre montaram um acampamento improvisado em uma estrada deserta. "Estou com medo, mas o que posso fazer?", questionou Adan Moreira dos Santos, um comerciante de 55 anos.

O rio Guaíba, que transbordou em Porto Alegre, baixou em mais de 20 centímetros desde terça-feira e marcava 5,06 metros, mas a situação ainda é instável.

Voluntários com lanchas e jet-skis tentavam desde cedo abrir passagem nas ruas inundadas para resgatar os que ainda estavam presos em suas casas ou simplesmente não quiseram deixá-las por medo de saques.

Mas quando a água começava a baixar em algumas áreas, a chuva voltou a cair, interrompendo as operações.

A prefeitura pediu nas redes sociais "que os barcos em operações de resgate suspendam temporariamente suas atividades, devido à previsão de chuva de até 15mm, possíveis descargas elétricas e ventos acima de 80 km/h nas próximas horas na Região Metropolitana".

- Água contaminada -

As autoridades também insistiam no perigo de retornar prematuramente a áreas vulneráveis e alertavam sobre a possibilidade de instabilidade nos terrenos e de riscos para a saúde.

"As águas contaminadas podem transmitir doenças", disse Sabrina Ribas, porta-voz da Defesa Civil.

Perto da inundada Arena do Grêmio, onde está funcionando um porto improvisado, os voluntários começaram a retirar suas embarcações com o início das chuvas, constataram jornalistas da AFP.

Mas, apesar do novo risco de cheia, muitos moradores se negam a deixar suas casas. Alguns foram vistos nos telhados de suas residências humildes.

- Vazão recorde -

No sul do estado, as inundações devem ser de "graves proporções" nos próximos dias devido ao "colossal" volume de água que caiu no Guaíba e em outros rios que alimentam a Lagoa dos Patos, com saída para o Atlântico, alertou o MetSul Meteorologia.

"A vazão recorde equivale à cheia decamilenar da barragem, ou seja, o que poderia se esperar em recorrência estimada uma vez a cada dez mil anos", informou a instituição em nota.

As precipitações devem prosseguir, com "tempestades" de sexta a domingo na região de Porto Alegre, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.

O governo do estado decretou nível de emergência em cinco reservatórios, dois deles em "risco de ruptura iminente".

As enchentes no Rio Grande do Sul podem "causar impactos em outros países" da Bacia do Rio da Prata (Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai), pois "o volume de águas passa por rios transfronteiriços, que deságuam em outros territórios", alertou o Serviço Geológico do Brasil.

- Casas danificadas -

A Confederação Nacional de Municípios disse que mais de 61 mil casas foram danificadas ou destruídas pela água, uma correção para baixo da estimativa prévia de 100 mil.

As perdas econômicas são estimadas em aproximadamente 6,3 bilhões de reais. Os danos das escolas, hospitais e prefeituras somam 351 milhões de reais.

Após o fechamento por tempo indeterminado do aeroporto internacional, a base militar de Canoas receberá voos para transportar doações e passageiros, informou a Força Aérea.

- 'Corredor humanitário' -

As autoridades trabalham para construir um "corredor humanitário", segundo o prefeito de Porto Alegre, Sebastián Melo, uma passagem entre a cidade e a região metropolitana, chave para o abastecimento da população, agora carente de água potável.

"Não tá faltando nada, só água", mas "para alguns produtos usamos estoque", relatou à AFP Roger da Silva, de 36 anos, gerente de um supermercado no município de Viamão, a leste da capital.

"Tem alimentos como arroz, feijão, que foram pedidos", mas não chegaram. As distribuidoras "tem caminhões parados e não podem entregar", explicou Silva.

Por sua vez, o governo federal anunciou que importará 200 mil toneladas de arroz para garantir o fornecimento e evitar especulações no preço, já que a região inundada fornece mais de dois terços do arroz consumido no país.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou em um comunicado a perda de vidas no sul do Brasil e ressaltou que desastres como esses são "um lembrete dos devastadores efeitos da crise climática".

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© Agence France-Presse

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