Projeção do governo de SP indica colapso do sistema de saúde em 2 semanas
Uma projeção realizada pelo governo de São Paulo apontou que o sistema de saúde entrará em colapso em 15 de março se um fato novo não alterar o rumo da pandemia de covid-19 em território paulista. Ontem, o estado registrou 468 mortes pela doença nas últimas 24 horas, um recorde histórico.
Em projeção realizada na semana passada, o ritmo da pandemia apontava o colapso do sistema de saúde em 20 de março. Um novo cálculo, no início desta semana, indicou esgotamento em duas semanas, por causa da aceleração do contágio e da situação dos internados. Os resultados das projeções foram confirmados por quatro integrantes do grupo de formulação das medidas de enfrentamento à pandemia em São Paulo.
Na coletiva de hoje, o governador João Doria (PSDB) anunciou que todo o estado ficará na fase vermelha por duas semanas, a partir de sábado (6) —mas as escolas ficarão abertas. Também foram confirmados mais 500 leitos para pacientes com covid-19.
Extrema preocupação
O tom das entrevistas com integrantes do governo é de extrema preocupação. Além da velocidade da transmissão, médicos e integrantes do governo avaliam que uma considerável parte da população não está tomando os devidos cuidados.
O agravamento da situação em quase todo o país potencializa a possibilidade de colapso porque impede remoção de pacientes para regiões menos comprometidas, como ocorreu durante a crise em Manaus, em janeiro —na ocasião, hospitais ficaram sem oxigênio e pacientes foram transferidos para outros estados.
Tanto no Palácio dos Bandeirantes como na Prefeitura de São Paulo, a avaliação é de que medidas mais rígidas têm que ser tomadas urgentemente. Pessoas próximas às secretarias estadual e municipal de Saúde avaliam que, dada a velocidade da disseminação do vírus nos últimos dias, o colapso pode ser inevitável, mesmo com a tomada de medidas nesta semana.
Esta apreensão também parte dos prefeitos paulistas. Em reunião com o governo ontem, eles cobraram "ações rápidas e concretas" para o enfrentamento da pandemia. Até ontem, o estado estava com 74% dos leitos de UTI (unidades de tratamento intensivo) ocupados. Ao menos duas regiões, no entanto, já ultrapassaram 90%: Araraquara (92,2%) e Presidente Prudente (90,4%).
Hoje, a taxa de ocupação subiu para 75,3% —o que significa 7.415 pessoas internadas. Na Grande São Paulo, o porcentual é de 76,7%.
Coordenação nacional e discurso mais incisivo
Nas palavras de um dos formuladores das políticas de enfrentamento, somente uma coordenação nacional acompanhada de medidas duras poderia alterar o cenário. Mas não há esperanças de que o Ministério da Saúde mude o discurso e as atitudes.
Houve sugestão de acionar o Congresso Nacional. A intenção seria que deputados federais e senadores tomassem as medidas necessárias e ocupassem o vácuo na articulação de providências nacionais. Mas a ideia não prosperou.
Há ainda autoridades de saúde que defendem uma comunicação mais incisiva e forte por parte do governo de São Paulo. A sugestão é um discurso na linha do secretário de Saúde de Rondônia, Fernando Máximo, que semana passada disse: "Meu recado é para você que aglomera, que está fazendo festinha e que não está usando máscara, [que frequenta] reuniãozinha e bebedeiras. Não temos leitos de UTI para sua mãe, seu pai, seu tio, seu filho e sua namorada".
O estado por vezes rechaçou a possibilidade de fazer um lockdown geral, mesmo com a recomendação de médicos. Nos últimos dias, Doria tem mudado o discurso —não confirma a medida, mas também não a descarta.
Estamos, de fato, na pior semana de todas as semanas da pandemia de covid-19, e isso precisa ser levado em conta. Não se descarta nenhuma medida, desde que elas sejam embasadas pela ciência e pela saúde.
João Doria, governador de São Paulo, ontem
Um dos formuladores das políticas de enfrentamento declarou que, se nada for feito, em 15 de março a situação chegaria ao caos. Ele afirmou que nem mesmo ser milionário e ter jatinho serviria porque Nova York, Miami ou Londres não aceitariam um brasileiro com covid-19 entrando no país.
O UOL entrou em contato com a equipe de comunicação do governo de São Paulo para comentar oficialmente a situação, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
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