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Papa quer ter voz na construção de um mundo melhor após a pandemia

27/05/2020 14h37

Cidade do Vaticano, 27 Mai 2020 (AFP) - O papa Francisco, que nesta quarta-feira manteve novamente sua tradicional audiência semanal, mas sem as multidões que normalmente se reúnem na Praça de São Pedro, devido ao coronavírus, quer ter voz e presença na construção de um mundo melhor após a pandemia.

"É hora de dar um passo decisivo", confidenciou o papa argentino em março a um de seus biógrafos e reconheceu que é preciso passar "da destruição da natureza para sua contemplação", o que implica também em uma redução na "taxa de produção e consumo".

Diante de um mundo que de repente parou, que aspira a se unir mais, com uma economia "menos líquida e mais humana", como ele disse recentemente, o pontífice pede "que a memória não se perca, depois que tudo tiver passado".

Para isso, em meados de março, convocou um grupo de especialistas de várias disciplinas para elaborar propostas concretas por um ano para ajudar a mitigar as consequências da pandemia e configurar o pós-COVID.

"Um futuro que começa agora e será condicionado pelas decisões que tomamos hoje", explicou o religioso argentino Arturo Zampini, coordenador do grupo após as primeiras semanas de trabalho.

O chefe da igreja vê a pandemia como uma oportunidade de construir uma sociedade mais justa e inclusiva, que respeite a chamada "Casa Comum", como afirmou no texto mais emblemático de seu pontificado, a encíclica "Laudato si" de maio de 2015.

O texto vincula problemas sociais à ecologia e denuncia a exploração selvagem dos homens e da natureza. É um documento que teve um eco amplo fora da esfera religiosa, especialmente entre os leigos, pois defende uma "ecologia integral" que leve em consideração as pessoas e seu ambiente.

- Uma encíclica como bússola -No mesmo ano em que uma pandemia sem precedentes atinge o mundo, Francisco queria organizar uma série de iniciativas em "Laudato Si".

O texto é muito atual e é um diagnóstico detalhado dos males do planeta: poluição, mudança climática, desaparecimento da biodiversidade, dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo, predominância de tecnocracia e finanças.

"A encíclica pode servir como uma bússola moral e espiritual para a jornada para um mundo mais humano, mais fraterno, mais pacífico e mais sustentável", explicou o ministério do Vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral.

Segundo Bruno-Marie Duffé, secretário desse ministério, a pandemia destacou "a vulnerabilidade econômica" das sociedades modernas. "Estamos redescobrindo que a saúde e a solidariedade devem ser os pilares da nossa economia", resumiu o prelado francês.

Augusto Zampini também teme as consequências sociais, a fome e as crises alimentares na América Latina, a região do papa, que começa a ser severamente punida pelo vírus.

Francisco, que pediu aos padres que atendessem os doentes sem medo e confessou sentir-se "enjaulado" dentro do Vaticano por provisões antiepidêmicas, lançou várias mensagens em março de uma praça deserta e chuvosa de São Pedro.

Desde que o Vaticano elogiou todos os heróis da batalha contra o vírus, pediu "uma renda básica universal" para aqueles sem renda estável, bem como o perdão ou a redução da dívida externa dos países mais pobres.

Às acusações de antipapa e comunista por sua defesa dos pobres e por suas críticas ao modelo econômico, Francisco costuma responder com simplicidade: "Tenho certeza de que não disse mais uma coisa que não está na doutrina social da Igreja", afirma ele.

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