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Alemã perde processo contra coral de meninos

16/08/2019 17h15

Mãe havia alegado que filha de 9 anos sofreu "discriminação" ao ser recusada por coro de Berlim fundado no século 15 que nunca aceitou meninas. Tribunal recusou queixa e disse que esse é um caso de "liberdade artística".Um tribunal de Berlim entendeu nesta sexta-feira (16/08) que um tradicional coro de meninos da capital não foi sexista ao recusar a candidatura de uma menina de nove anos.

"O padrão acústico de um coral faz parte de sua liberdade artística", disse o juiz responsável pelo caso, que afirmou ainda ter levado em conta evidências suficientes de que um coro de meninos tem um som distinto.

O caso foi levado ao tribunal pela mãe da menina rejeitada. Ela alegou que a filha sofreu "discriminação de gênero” ao ser recusada pelo coral de meninos.

Fundado em 1465 por Frederico 2º, príncipe-eleitor de Brandemburgo, o Coro do Estado e da Catedral de Berlim nunca admitiu uma única menina ao longo dos seus 554 anos de existência.

A instituição se defendeu afirmando que o motivo "predominante" para a rejeição "não girou em torno do sexo" da candidata, mas porque sua voz não "correspondeu às características sonoras desejadas por um coro de meninos".

A administração do coral ainda lembrou que existem outros coros em Berlim que aceitam meninas, mas a mãe argumentou que sua filha não obteria o mesmo grau de treinamento em outros grupos.

Kai-Uwe Jirka, o diretor do coro, que é ligado à Universidade de Artes de Berlim (UdK), também alegou que há diferenças tonais nas vozes de meninos e meninas, e que não faria sentido forçar uma menina a treinar exaustivamente sua voz para que ela soasse como a de um menino. "Por que pais iam desejar isso para sua filha?”, perguntou.

Os administradores do coro também afirmaram que recusaram a candidatura por ceticismo sobre a possibilidade de estabelecer um relacionamento produtivo e de confiança com os pais da menina.

A mãe e a menina ainda podem recorrer.

O caso gerou debates acalorados na mídia alemã sobre tradição, cultura, talento e artes versus igualdade de gênero.

A mãe da menina de nove anos apresentou a queixa em nome da filha e disse que a rejeição foi discriminatória e "inadmissível". Ela também alegou que a decisão infringiu o direito da sua filha à igualdade de oportunidades em uma instituição que recebe fundos estatais.

A advogada da mãe e da menina, Susann Braecklein, disse que a jovem já havia se candidatado para o coral em 2016 e em 2018 e que nas duas ocasiões ela foi rejeitada antes mesmo de passar por um teste.

Ela apresentou uma terceira candidatura e desta vez foi convidada para um teste em março, mas foi rejeitada novamente. Atualmente, o coro treina 250 meninos e 75 adolescentes do sexo masculino.

Os defensores do coral argumentaram que a importância está no tom, não no talento, e que misturar os dois sexos no coro acabaria por destruir seu som tradicional.

Hannah Bethke, colunista do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, disse que "ninguém falou que garotas não podem cantar também". Segundo ela, aqueles que forçarem uma "equivocada igualdade de gênero vão acabar sacrificando um bem cultural".

Já outros permanecem inflexíveis na argumentação de que o caso envolve discriminação e ideais retrógrados.

Abbie Conant, uma trombonista americana que enfrentou discriminação quando começou a tocar com a Filarmônica de Munique em 1980, disse que inúmeros estudos revelam que "até mesmo músicos profissionais não conseguem ouvir a diferença entre um coral de meninos e meninas cantando da mesma forma".

Conant também apontou que coros de meninos em outros países, incluindo o Reino Unido, já aceitaram ambos os sexos sem que isso resultasse em disputas jurídicas.

JPS/ap/dw/ots

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