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Glenn previu em diálogo que seria acusado por 'tentativa de hackear'

2.set.2019 - O jornalista Glenn Greenwald no programa Roda Viva - Ronaldo Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
2.set.2019 - O jornalista Glenn Greenwald no programa Roda Viva Imagem: Ronaldo Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
do UOL

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

21/01/2020 17h45Atualizada em 21/01/2020 20h31

Resumo da notícia

  • Glenn Greenwald foi acusado pelo MPF de ser cúmplice na invasão de celulares de autoridades
  • MPF afirma que, em diálogo com um dos acusados, Glenn o orientaria, o que implicaria seu envolvimento
  • No diálogo interceptado, Glenn previu que poderia ser acusado de hackear telefones se invasões não tivessem terminado
  • Gilmar Mendes proibiu investigação contra Glenn; MPF diz que diálogo estava em computador apreendido legalmente

Em diálogo com integrante do grupo acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de ter interceptado comunicações de centenas de autoridades, o jornalista Glenn Greenwald, diretor do site The Intercept Brasil, previu que poderia ser acusado de tentar hackear celulares — o que ele nega.

O diálogo foi incorporado à denúncia que o MPF ofereceu hoje contra o jornalista e os hackers.

Em conversa com Luiz Henrique Molição, 19, apontado pelo MPF como porta-voz dos hackers, Glenn demonstra preocupação em deixar provas de que só foi procurado pelo grupo após a interceptação ter ocorrido. Dessa forma, rechaçaria a tese de que teria participado das invasões.

A transcrição nesta imagem respeita a grafia adotada pelo MPF:

As mensagens obtidas pelo grupo foram divulgadas no ano passado pelo The Intercept Brasil em parceria com alguns meios de comunicação, entre eles o UOL. Elas revelam o modo de operação da Lava Jato e mostram que Moro, quando era juiz, não se limitou a julgar processos da operação, mas também interferiu na investigação.

Segundo a peça do MPF, a cronologia dos fatos é esta:

  • 5 de junho (quarta): Imprensa noticia que o celular de Moro foi hackeado
  • Após publicação da notícia sobre ataque ao aparelho de Moro: em conversa com Glenn, hacker diz que não invadiu aparelho do ex-juiz e que seu grupo, na verdade, não invade aparelhos, mas obtém dados "da nuvem".
  • 9 de junho (domingo): o The Intercept Brasil publica a primeira reportagem com base em diálogos obtidos pelos hackers, mostrando que Moro orientava a Lava Jato.

Deltan já sabia de invasão, diz hacker

Nos diálogos, Molição diz a Glenn que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, sabia que teve o celular invadido. Em junho, o MPF iniciou uma investigação interna para descobrir o que houve e como orientar outros procuradores a respeito.

Glenn afirma a seguir não entender o objetivo de Moro ao divulgar a invasão e diz que o ministro não deve saber quem obteve conversas hackeadas, já que, antes da publicação pelo Intercept, não tomou medida judicial para impedir a divulgação das reportagens.

Em seguida, Molição pergunta se o grupo deve manter os diálogos gravados. Glenn responde que precisa ter cuidado com o que responderia ao hacker sobre esse assunto, pois poderia ser acusado de ter participado da invasão.

Após fazer essa introdução, Glenn explica em seguida que o fato de o grupo de invasores apagar as conversas não prejudicaria o trabalho do The Intercept, pois, a essa altura, o material já estava guardado em local seguro.

Operação Spoofing

Os diálogos fazem parte do capítulo II da denúncia da Operação Spoofing, no qual o MPF individualiza as condutas de cada acusado e aponta as razões pelas quais entende que Glenn é co-autor de 126 crimes de interceptação ilegal de comunicações e de 176 crimes invasão de dispositivos informáticos. O jornalista também é acusado de ter se associado criminosamente aos hackers em busca das informações depois publicadas pelo The Intercept.

A denúncia não traz evidências de que Glenn estivesse em contato com os hackers enquanto os aparelhos eram invadidos.

Para o MPF, contudo, a conversa de Glenn com o "porta-voz dos hackers" é prova de que o diretor do The Intercept "de forma livre, consciente e voluntária, auxiliou, incentivou e orientou, de maneira direta, o grupo criminoso DURANTE a prática delitiva, agindo como garantidor do grupo".

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MPF diz que não é jornalismo

Segundo o procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira, autor da denúncia do MPF, a conduta do diretor do The Intercept no caso não se enquadraria no livre exercício do jornalismo, pois entende que a atividade criminosa do grupo que invadiu os celulares das autoridades não havia cessado e que Glenn sabia disso.

Glenn fala em "tentativa óbvia de atacar a imprensa livre".

Gilmar proibiu investigar Glenn

Glenn não poderia ser investigado pelo MPF. Em agosto, o ministro Gilmar Mendes, do STF, concedeu uma liminar em ação movida pela Rede Sustentabilidade, na qual o partido pedia que autoridades fossem proibidas de investigar ou responsabilizar Glenn pela recepção das informações publicadas pela imprensa.

Na nota à imprensa de divulgação sobre a denúncia, o MPF afirma que o jornalista não foi investigado em respeito à decisão de Mendes. Contudo, afirma o MPF, ao analisar um computador apreendido na casa do investigado Walter Delgatti, foi encontrado o citado diálogo entre Molição e Glenn.

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