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Thunberg repreende líderes em cúpula climática da ONU sem surpresas

23/09/2019 22h13

Nações Unidas, Estados Unidos, 24 Set 2019 (AFP) - "Como se atrevem?", questionou indignada e com lágrimas nos olhos a jovem ativista sueca Greta Thunberg nesta segunda-feira (23) na cúpula do clima na ONU diante de dezenas de líderes mundiais durante seu discurso, no qual acusou os dirigentes de traírem sua geração por inação diante do aquecimento global.

"Você vem até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?", criticou.

"Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu sou uma sortuda. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso", acusou.

"Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano", disse ainda, com a voz trêmula, ao ler seu discurso. "Mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês".

Antes do apaixonado discurso da adolescente de 16 anos na cúpula convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, 66 países, 10 regiões, 102 cidades e dezenas de empresas se comprometeram a alcançar a neutralidade nas emissões de carbono em 2050, anunciou a organização. As nações que assumiram esse compromisso passaram a integrar a "Aliança de Ambição pelo Clima", segundo o secretário.

Vários países se comprometeram a plantar mais de 11 bilhões de árvores.

"Mas ainda temos um longo caminho a percorrer", acrescentou. "Precisamos de planos mais concretos, mais ambição de mais países e mais empresas" para alcançar a neutralidade de carbono para 2050 e limitar o aumento da temperatura média a +1,5ºC em relação ao século XIX.

A falta de anúncios significativos dos países mais contaminantes, como China e Índia, campeões de energia solar e eólica, mas que devoram carvão, condenaram a ambientalistas.

- Perdendo a corrida climática -"Estamos perdendo a corrida da emergência climática, mas ainda podemos vencê-la", declarou Guterres diante dos líderes.

A cúpula deve revigorar as promessas do Acordo de Paris de 2015 e mostrar quem são os líderes que atuam no combate às mudanças climáticas, destacou o secretário-geral, que pediu "planos concretos e não apenas palavras".

De acordo com um balanço feito pela ONU, 59 países anunciaram sua intenção de fortalecer suas metas nacionais para combater as mudanças climáticas até 2020, e outros nove iniciaram processos internos para tornar suas metas mais ambiciosas.

Os países anunciaram seus objetivos nacionais no Acordo de Paris de 2015 e, agora, vão revisá-los para cima.

O objetivo coletivo é reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 45% até 2030 e, assim, preparar-se para alcançar a neutralidade de carbono em meados do século.

A Aliança foi anunciada pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera, em preparação para a COP25 a ser realizada em Santiago, em dezembro.

"Acabar com o carvão é uma prioridade", afirmou a ONU.

Um grupo que busca eliminar o uso de usinas a carvão agora se expandiu para cobrir 30 países, 22 estados, ou regiões, e 31 empresas que se comprometeram a não construir mais novas usinas até 2020 e fazer a transição para energias renováveis.

Laurence Tubiana, presidente da Fundação Europeia do Clima, disse à AFP que a cúpula representa "o momento da verdade", mas enfatizou "a tensão entre os países que querem avançar para transformar seus objetivos em políticas verdadeiras e aqueles que não o querem".

- Reunião sobre a Amazônia -Antes da cúpula começar, o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente colombiano, Ivan Duque, e seu colega chileno, Sebastian Piñera, se reuniram para discutir a situação na Amazônia.

O Brasil, que possui 60% da maior floresta tropical do planeta, tenta convencer o mundo de que está com a situação sob controle, depois que o forte desmatamento e a propagação de incêndios florestais causaram uma crise internacional em agosto.

Apesar desta questão ser o centro das discussões, o presidente Jair Bolsonaro não compareceu ao encontro, assim como o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, cujo governo persegue agressivamente uma agenda amiga do carvão.

"Há indícios de que o processo de 'savanização' já começou" em mais da metade da Amazônia, disse à AFP Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em clima do mundo.

"Pode ser revertido? Acho que sim. Mas se o desmatamento continuar, se permanecer descontrolado, temos um enorme risco de perder a Amazônia. Será um suicídio", disse ainda Nobre, entrevistado pela AFP na ONU.

Durante a cúpula, que não contará com a presença do presidente Donald Trump - que retirou seu país do Acordo de Paris - os líderes também se encontrarão com jovens lideranças, incluindo Thunberg, criadora das Greves das Sextas-feiras, que se espalharam por todo o mundo.

O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a ONG Conservação Internacional decidiram doar US$ 500 milhões adicionais para o reflorestamento da Amazônia e de outras florestas tropicais, anunciou a presidência francesa nesta segunda-feira.

Um primeiro anúncio formal deve ser feito durante a reunião sobre a Amazônia.

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