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Produção de arroz: especialistas dizem que proposta de Haddad é 'inviável'

Alexandre Garcia
do UOL

Colaboração para o UOL, de São Paulo

08/05/2024 17h35

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira (8) que a próxima edição do Plano Safra terá mecanismos para diversificar a produção agrícola entre os estados. A ideia é minimizar o impacto de desastres na cultura de determinados grãos. Para especialistas do setor, a execução imediata da proposta é inviável devido às diferentes variações climáticas e terrenos de cada região.

O que aconteceu

Haddad defende a necessidade de um Plano Safra mais diversificado. Em entrevista, o ministro afirmou que o mecanismo a ser adotado nas próximas edições do programa de crédito ao agronegócio. A iniciativa busca reduzir a concentração da produção de grãos em determinadas regiões.

A estratégia diminuiria a dependência do Sul para a produção de arroz. Vítima de temporais e alagamentos nos últimos anos, o Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção brasileira de arroz. Com a alteração proposta, Haddad, prevê induzir a diversificação para definir estoques reguladores.

Se todos os estados saírem da monocultura, e ampliarem um pouco o cardápio de produção de alimentos, O Brasil é tão grande que, se acontecer um problema em um estado, a produção dos outros compensa.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

A proposta defendida por Haddad é vista como inviável. Devido às características peculiares de cada estado brasileiro, a diversificação é considerada improvável. A percepção envolve as condições distintas das áreas de cultivo e dificuldades para adaptar um solo para plantações de grãos diferentes.

Na prática, acho que a fala dele foi mais para trazer um alento aos produtores do que ter algum efeito prático por questões climáticas e sazonais. O Rio Grande do Sul, por exemplo, não tem condições de produzir no inverno porque a temperatura e a radiação solar não são adequadas.
Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios

A diversificação efetiva depende da análise de cada região. Para possibilitar uma melhor e efetiva distribuição das culturas agricolar envolve o estudo e a avaliação das áreas com potencial para a plantação de cada grão.

O volume grande de produção do arroz está concentrado em um estado. Mas, evidentemente, é necessário identificar o potencial e as características de cada região. Caso contrário, é possível criar um colapso ainda maior.
Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada)

A proximidade do próximo Plano Safra é encarada como empecilho. A "indução" da capacidade para diversificar citada por Haddad não deve ocorrer no curto prazo. A ser lançado no segundo semestre, o programa de auxílio para o setor agropecuário não teria condição de absorver a proposta.

O Brasil consegue produzir milho, soja e trigo no cerrado. Mas, para isso, foram anos de pesquisa e desenvolvimento genético até a criação de condições não-naturais. Isso não deve acontecer no próximo ano.
Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios

Questões de infraestrutura são citadas como entraves. A necessidade do investimento em estradas e melhores e ferrovias também é mencionado como desafio para a diversificação das culturas no país.

A discussão para não existir monoculturas é válida, mas precisamos ver o potencial das regiões. Eu posso ter um grande investimento que vai resultar em baixa produtividade, que não vai gerar receita para o produtor. Esse processo tem que ser muito bem estudado.
Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada)

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