O que são os 'poluentes eternos', presentes em objetos do cotidiano, que a França analisa proibir
A Assembleia Nacional francesa analisa a partir desta quinta-feira (4) um projeto de lei apresentado por deputados ecologistas para proibir os chamados 'poluentes eternos', substâncias sintéticas utilizadas em larga escala pela indústria e encontradas nos mais variados objetos do cotidiano, como utensílios de cozinha, embalagens ou roupas. Os "Pfas", sigla para "per e polifluoralquiladas", se dissipam pelo meio ambiente e podem levar séculos para desaparecer.
O tema ganha destaque na imprensa francesa nesta quinta-feira (4) e é a manchete de dois dos principais jornais do país, Le Parisien e Libération. O primeiro ressalta os riscos deste químico para o sistema hídrico, em especial de cidades próximas de usinas como a fabricante de panelas Tefal, que utiliza Pfas para o revestimento antiaderente de seus produtos em teflon. Uma das maiores fábricas da marca fica na cidade de Rumilly, nos Alpes franceses, onde o tema virou "um assunto delicadíssimo".
Le Parisien explica que os Pfas são formados por "cadeias de carbono-flúor, uma das combinações químicas mais resistentes que se degradam dificilmente, persistindo, portanto, por séculos, talvez até milênios no meio ambiente". Pesquisas científicas alertaram que esses químicos favorecem uma série de problemas de saúde, como cânceres e danos aos sistemas reprodutivo e imunitário.
Água contaminada
Análises da água que chega às torneiras dos habitantes de Rumilly apontaram que o índice desse poluente está 60% superior ao limite de perigo sanitário estabelecido pela Agência Nacional de Saúde da França. O projeto de lei analisado pelos deputados franceses visa proibir, a partir de 2026, o uso de Pfas nos produtos considerados mais arriscados para a saúde humana e do meio ambiente: utensílios de cozinha, cosméticos, têxteis e equipamentos de esqui, devido à poluição da neve que, depois de derretida, corre para os rios do país.
Em entrevista ao Libération, o deputado autor do projeto, Nicolas Thierry, alega que, diante dos riscos, "a proibição a médio prazo dos Pfas é inevitável".
O jornal indica que para tentar atrasar este passo, o grupo SEB, dono da Tefal, quer bancar a manutenção de uma nova estação de tratamento de água na cidade alpina, construída depois da revelação dos números preocupantes sobre a qualidade da água, há dois anos. As instalações levaram os índices do "poluente eterno" a baixarem drasticamente.
O diário ressalta ainda que nos Estados Unidos escândalos semelhantes levaram marcas como 3M aos tribunais, há mais de 10 anos.