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Qual a relação do investimento público e privado com distribuição de renda?

SÃO PAULO, SP, 14.07.2022 -Pessoas recebem doações de alimentos em Paraisópolis, zona sul de São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 14.07.2022 -Pessoas recebem doações de alimentos em Paraisópolis, zona sul de São Paulo Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

01/03/2024 11h01

Um estudo conduzido por pesquisadoras do Made-USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP) revela que um aumento de 10% no investimento público leva a um incremento de 3,4% nos investimentos privados, quando o nível de desigualdade de renda no país é menor.

O que dizem os números

Elas avaliaram investimento da seguinte forma: na esfera pública são aqueles concentrados em infraestrutura, e o da iniciativa privada são aqueles voltados para construção de máquinas, equipamentos na construção civil e outros ativos fixos.

Os cálculos levaram em conta os dados trimestrais de 1996 a 2022. Para o investimento público, elas combinaram a série divulgada pela Secretaria do Tesouro Nacional, que traz dados de investimento público a partir de 2010, com a série de dados de investimentos públicos nas esferas municipal, estadual e federal —com exceção de estatais— antes de 2010.

A referência para o investimento privado foi um índice do Ipea. O Índice de Formação Bruta de Capital Fixo mede os investimentos em máquinas e equipamentos na construção civil e em outros ativos fixos.

A relação de aumento de investimentos é chamada de crowding-in. Esse efeito ocorre quando o investimento privado responde positivamente ao investimento público. Já o termo crowding-out é utilizado para explicar o impacto negativo da alta do investimento público sobre o privado.

Os agentes privados, como empresas, podem decidir investir a depender da sua taxa de lucro atual e esperada, da taxa de juros da economia, ou do nível de suas vendas atual e esperado, por exemplo. Já o setor público pode incluir o investimento como parte de um programa de governo que busca solucionar gargalos estruturais e gerar desenvolvimento econômico.
Estudo do Made-USP assinado pelas pesquisadoras Clara Brenck, Marina Sanches, Tainari Taioka e Rubia Oliveira

Quais são os desafios pela frente

Presidente Lula fala com imprensa em visita à Etiópia - Foto: Ricardo Stuckert / PR - Foto: Ricardo Stuckert / PR
Trabalhar em políticas públicas que buscam reduzir a desigualdade devem ser complementares aos investimentos públicos, diz estudo
Imagem: Foto: Ricardo Stuckert / PR

Se a economia brasileira cresceu, o investimento caiu. As pesquisadoras apontam que o crescimento de 2,9% do PIB em 2023 está em descompasso com o investimento, que registrou queda de 1,1% no acumulado de quatro trimestres, em relação ao mesmo período anterior.

O estudo aponta que o investimento privado tende a subir ao passo em que o público aumentar. Ainda, sugere que políticas públicas que buscam reduzir a desigualdade devem ser complementares aos investimentos públicos.

O impacto positivo do investimento público no privado é mais elevado quando a desigualdade de renda é menor. Na leitura das pesquisadoras, a economia de um país se torna mais dinâmica se a população de socialmente vulnerável tem mais acesso à renda.

Quando há uma redistribuição de renda das classes mais ricas para as classes de renda mais baixas, há não só um estímulo ao consumo das famílias, mas também impulsiona o investimento privado, que responde positivamente ao aumento da procura agregada.

Mas as pesquisadoras recordam que o investimento ganhou nova roupagem no governo Lula. A aprovação do arcabouço fiscal em 2023 implica que, mesmo que o investimento público tenha um piso orçamentário, ele pode disputar espaço com outras políticas na hora de execução do orçamento. "É essencial ampliar o espaço fiscal para maiores investimentos públicos e políticas redistributivas", concluem elas.

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