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Análise: Morte de Navalny é mais uma prova da tirania sem limites de Putin

23/02/2024 05h38

A morte mais que suspeita de Alexei Navalny, o mais fervoroso opositor do governo russo, leva as revistas semanais francesas a analisar o regime déspota de Vladimir Putin.

A morte de Navalny, 47 anos, foi anunciada no dia 16 de fevereiro. Ele cumpria pena em uma prisão em região montanhosa na Sibéria, no polo Ártico, preso desde que retornara da Alemanha, em janeiro de 2021, após uma longa recuperação de um envenenamento que sofrera.

Navalny insistiu em voltar à Rússia, e a uma provável morte, em vez de militar no exílio. As acusações arbitrárias, às quais sempre refutou, foram traduzidas em penas abusivas que levariam décadas para serem cumpridas.

Apesar de a viúva Yulia Navalnaya ter declarado que vai continuar a luta de oposição ao regime de Putin, a perda foi grande.

"Na guerra criminosa na Ucrânia, o líder do Kremlin passou a se sentir intocável. Nada o afeta, nem criticas ocidentais, nem os protestos, cada vez mais reprimidos, de uma população anestesiada pela propaganda ou agredida em público quando deposita flores em uma calçada", diz a revista francesa L'Express.

A publicação relembra o acidente de helicóptero que matou o poderoso Evgueni Prigozhin, ex-confidente de Putin e líder mercenário paramilitar do grupo Wagner, que cometeu a imprudência de organizar uma rebelião contra o Kremlin em agosto de 2023.

Mas L'Express aponta que a morte de Navalny faz surgir as evidências de um regime que está perdendo legitimidade e de um ditador paranoico. "A morte de Navalny é o sinal de que o sistema tem medo de um cigarro da oposição mal apagado, que poderia levar à explosão do esterco politico", diz o cientista político russo Vladimir Pastukhov, citado pela revista.

Relatos da descida aos infernos

A revista L'Obs destaca trechos do diário de Navalny desde que foi encarcerado na Sibéria, publicados em russo no Instagram por meio dos advogados do ativista. "Estou ainda na primeira metade da apaixonante transformação de 'esqueleto que mal consegue andar' a 'um homem apenas faminto'", escreveu em 2 de maio de 2021. "Sou considerado um gênio, capaz de comandar uma rede criminosa", ironizou.

Apesar dos maus tratos, Navalny fazia questão de levantar o moral dos apoiadores. "Lembrem-se que temos apenas um país. (...) Lutar por ele não é uma corrida rápida, mas uma maratona longa e difícil", dizia.

"Putin queria que Navalny caísse no esquecimento", explica Alexei Venediktov, 68 anos, outro opositor fervoroso do Kremlin, em entrevista à revista Le Point. "Mas ele continuava a falar através dos advogados, então foi mandado para o Ártico. Mas isso não o calou", diz o militante responsável pela rádio independente Eco de Moscou, fechada desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Eliminação de oponentes

Venediktov liga a morte de Navalny a de outros que ousaram desafiar Putin, como Prigozhin, do grupo Wagner, e do espião Alexander Litvinenko, além da tentativa do envenenamento de outro agente, Serguei Skripal - que, como Navalny, se recuperou.

Ele também teme pelo destino de outros dois oponentes presos - Vladimir Kara-Mourza e Ilia Iachine. "Ambos são extremamente corajosos e Mourza está muito doente", aponta o opositor, à revista francesa. Mas Kenediktov explica que Navalny é quem tinha o papel "unificador dentro da oposição".

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