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Jornal francês destaca seca histórica no rio Negro, que "castiga as populações ribeirinhas"

24/10/2023 10h00

O jornal Le Monde desta terça-feira (24) traz uma reportagem sobre a seca histórica no rio Negro, na Amazônia, que "deixa a vida em suspenso", diz o diário. Esse, que é um dos principais afluentes do rio Amazonas, atingiu seu nível mais baixo em 121 anos.

O jornal Le Monde desta terça-feira (24) traz uma reportagem sobre a seca histórica no rio Negro, na Amazônia, que "deixa a vida em suspenso", diz o diário. Esse, que é um dos principais afluentes do rio Amazonas, atingiu seu nível mais baixo em 121 anos.

A repórter Anne-Dominique Correa foi enviada pelo Le Monde a Manaus onde, segundo ela, a seca do rio Negro "resultou surgimento a uma longa praia de areia amarela onde se acumula lixo deixado pelo recuo das águas" no porto da capital amazonense. Em entrevista ao diário, o marinheiro Dhion Clyve explica que a baixa do nível das águas é tamanha que os navios chegam a colidir contra pedras ou tem a passagem obstruída pela lama.

A situação no local se degrada desde o mês de junho quando o fenômeno El Niño provocou uma diminuição das chuvas e o aquecimento do norte do oceano Atlântico. Segundo o meteorologista Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o nível do rio Negro chegou a um nível "alarmante" baixando 10 centímetros por dia, em média.

Le Monde alerta que o governo do Amazonas colocou 59 municípios em estado de emergência e cerca de 633 mil pessoas são afetadas pela seca. Segundo a prefeitura de Manaus, 54 comunidades ribeirinhas estão isoladas. O nível das águas é tão baixo que moradores são obrigados a descer das embarcações e fazer o trajeto entre algumas localidades a pé, caminhando na lama. 

A situação suscita grandes problemas à região, como dificuldades do transporte de mercadorias, na ida das crianças às escolas, à pesca e ao trânsito de viajantes; em algumas localidades 70% da renda vem do turismo. "No final de setembro, milhares de peixes e botos foram encontrados mortos nas margens do rio Tefé, a 520 quilômetros de Manaus, provavelmente devido ao aumento de temperatura das águas", diz a reportagem. 

Incêndios florestais

O problema da seca é agravado pelos incêndios florestais. Segundo a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, as queimadas, que tiveram um aumento de 154%  em relação ao ano passado, são de origem criminosa. "Agricultores incendeiam terras para desmatar e criar áreas de criação de animais ou plantar novas culturas", ressalta a matéria, lembrando que no início de outubro Manaus foi classificada como uma das capitais mais tóxicas do mundo, segundo o ranking da World Air Quality Index. 

Diante da emergência, o governo do Amazonas iniciou há poucos dias duas operações de dragagem nos rios Solimões e Madeira. A defesa civil também mobilizou cerca de três mil funcionários para distribuir alimentos a cerca de seis mil famílias afetadas pela seca. 

Le Monde questiona quanto tempo a Amazônia conseguirá aguentar. Desde meados de outubro, chuvas, ainda que escassas, voltaram à região, ajudando bombeiros a controlar os incêndios florestais e contribuindo para limpar o ar. No entanto, as precipitações não resultaram em nenhuma melhora da seca e "todos os dias, o nível do rio Negro continua a diminuir", conclui o jornal. 

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