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'Minha filha era alegre e foi se apagando até ser morta pelo marido'

Marcela e Cida: mãe conta que a filha foi se afastando em meio ao relacionamento - Arquivo pessoal
Marcela e Cida: mãe conta que a filha foi se afastando em meio ao relacionamento Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Jéssica Nascimento

Colaboração para Universa, em Brasília

29/05/2024 04h00

A mãe de Marcela Luise disse que a filha de 31 anos mudou seu comportamento após conhecer o marido, o fisiculturista Igor Porto Galvão. Ele está preso suspeito de espancar e matar Marcela. A jovem teve um relacionamento de 9 anos com Galvão e deixou uma filha de cinco.

'Queria afastá-la de nós'

Marcela parou de sorrir e de compartilhar momentos com os amigos, segundo a arquiteta Cida Freitas, 54. Galvão também teria convencido a mulher a se mudar de Brasília para Goiânia, com o objetivo de afastar Marcela da família, segundo a mãe.

Cida diz que não sabia das agressões físicas sofridas por Marcela. Mas se lembra de momentos em que ele teria sido grosseiro e ríspido com a filha. Apesar dos conselhos da família, a jovem decidiu manter o relacionamento principalmente pela filha do casal.

A gente nunca sabe o que se passa na casa das pessoas, mas, como mãe, eu já não gostava muito do jeito como ele a tratava. Quando moravam em Brasília, eu conseguia ficar de olho, mas ele a convenceu a se mudar para Goiânia com a desculpa de que lá tinha um custo de vida menor. O que ele queria mesmo era afastá-la de nós.
Cida Freitas

Cida lembra que a filha estava trabalhando como secretária do marido e havia apagado as redes sociais. Com o passar dos anos, houve uma mudança no comportamento da Marcela, diz a mãe.

Ela mudou completamente de personalidade, jeito, fala. Era uma menina muito sorridente, alegre e foi se apagando. Isso ocorre com todas as vítimas de relacionamentos abusivos. Ela sabia o que passava, mas insistia no relacionamento por causa da família. Cida Freitas

Disse que era uma queda

A mãe se lembra de quando recebeu a ligação do fisiculturista, informando que Marcela estava internada no hospital, segundo ele, por uma queda. "Ele só disse: 'vem pra cá que a Marcela foi para o hospital'. Depois, ligou novamente que não precisava que eu fosse mais porque ele já estava em casa e ela, no centro cirúrgico."

Como ainda não sabia das proporções, pedi que ele ficasse calmo, mas quando desliguei o telefone, meu coração ficou apertado, fiquei gelada e disse para minha outra filha e marido: ela está no hospital por causa dele. Coração de mãe não se engana.
Cida Freitas

'Não merecia ir dessa forma'

Cida conta que ficou desesperada ao saber do estado de saúde da filha quando chegou ao hospital. Os médicos disseram que Marcela teria apenas dois destinos: morte cerebral ou ficar em estado vegetativo.

Sei que agora ela não sofre mais, mas minha filha não merecia ir embora dessa forma. Ela era muito pequena, magrinha e ele, um homem forte e alto. Ela já está fazendo muita falta pra todos nós. É uma coisa que você não imagina nem nos piores pesadelos. Cida Freitas

Agora, a família de Marcela busca justiça. "Agradecemos aos policiais e ao juiz pela prisão do Igor. Nada vai trazer minha filha de volta, mas espero que ele tenha muito tempo para pensar no que fez. Ele destruiu uma família, tirou minha filha de casa. Deveria cuidar dela e não a matar. Ele deixou uma filha sem mãe. E, agora, sem pai também.

Prisão e perícia

Marcela morreu na noite do dia 20, após ficar dez dias internada em um hospital em Aparecida de Goiânia. Segundo a Polícia Civil de Goiás, a mulher chegou à unidade com a clavícula e oito costelas quebradas, além de traumatismo craniano e vários machucados.

Imagens de câmeras de segurança, cedidas pela Polícia Civil, mostram o momento em que Galvão chega ao hospital com Marcela. A mulher está desacordada e o suspeito pede ajuda para os funcionários. Ele e um enfermeiro tiram a vítima do carro, que está com os braços cobertos.

O fisiculturista teria dito aos médicos que a esposa sofreu uma queda em casa. Segundo a delegada responsável pelo caso, Bruna Coelho, porém, as lesões encontradas no corpo da vítima são incompatíveis com uma queda da própria altura.

Galvão tem um histórico de violência doméstica contra uma ex-namorada e contra Marcela. Marcela registrou um boletim de ocorrência contra o fisiculturista em 2020 e conseguiu uma medida protetiva, mas a decisão foi suspensa porque o casal reatou o relacionamento.

O fisiculturista foi preso no dia 17 e passou por uma audiência de custódia no dia em que Marcela morreu. Em seu interrogatório, Galvão optou por permanecer em silêncio. A prisão foi mantida pelo poder Judiciário em audiência de custódia, por suspeita de feminicídio. Procurada pelo UOL, a defesa de Galvão disse que o inquérito policial foi finalizado na última sexta-feira e ainda encontra-se com o Ministério Público. "A defesa aguarda o posicionamento ministerial."

Os laudos periciais apontaram vários traumatismos na vítima. Ouvimos, inclusive, uma mulher que teve um relacionamento extraconjugal com o autor. Ela contou que também sofreu agressões físicas e foi perseguida por ele. Além disso, esta mulher e a Marcela tatuaram o nome do fisiculturista no corpo, a pedido dele, o que aponta o quanto o autor era persuasivo e agia de modo a dominar psicologicamente a vítima.
Bruna Coelho, delegada

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

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