Contra racismo, "noirauds" da Bélgica param de pintar rosto de preto
Bruxelas, 3 mar (EFE).- Famosos por percorrerem os restaurantes de Bruxelas desde 1876 pedindo recursos para obras beneficentes, os "noirauds" deixarão de pintar os rostos de preto para utilizar uma maquiagem com as cores da bandeira da Bélgica e assim evitar qualquer polêmica envolvendo o racismo.
A tradição, que começou há 143 anos para salvar uma creche que fecharia as portas e virou um evento anual, coincide com o período de exploração colonial da África. As fantasias usadas pelos "noirauds" lembram as roupas usadas pelos nobres da época.
Normalmente formado por homens brancos, os "noirauds" se fantasiam pintando os rostos de negro, fenômeno atualmente conhecido como "blackface" e considerado como racismo.
O grupo, que em 1959 assumiu o nome de "Oeuvre Royale dês Berceaux Princesse Paola", em homenagem à rainha dos belgas entre 1993 e 2003, defendia que o objetivo da ação era o humor.
No entanto, nos últimos anos, a polêmica sobre lembrar a história colonial duvidosa foi provocando polêmica no país. Em 2015, o então ministro de Relações Exteriores, Didier Reyners, se fantasiou e "noiraud", levantando questionamentos da opinião pública.
"Há dois ou três anos estamos refletindo. Por que fazer um grande esforço e provocar animosidade? Temos que evoluir", explicou à emissora "RTFBR" o coordenador do grupo, Albert Vermeiren.
A primeira oportunidade de lançar as novas fantasias ocorrerá entre os dias 14 e 17 de março. Com a bandeira da Bélgica pintada, "noirauds" tentam coletar recursos para crianças desabrigadas;
A polêmica sobre a caraterização de brancos como negros não é exclusiva da Bélgica. Na Holanda, polêmica similar ocorreu envolvendo o Zwarte Piet, o pajem negro que acompanha São Nicolau na distribuição de presentes no dia 6 de dezembro de cada ano.
A mudança da fantasia dos "noirauds" ocorre em um momento de revisão do passado colonial da Bélgica. Em dezembro, o novo Museu Real da África Real, construído em 1897, foi reinaugurado. O local permaneceu cinco anos fechado e volta a funcionar dando aos belgas uma visão diferente sobre os tempos do Rei Leopoldo II.
No início de fevereiro, um grupo de especialistas em população africana da ONU convidou a Bélgica a pedir desculpas pelas "atrocidades" provocadas pela colonização. O primeiro-ministro do país, Charles Michel, se esquivou da solicitação dizendo que isso seria de responsabilidade do parlamento, não governo.
"A época colonial é parte da nossa história, assim como é parte da história de outros países. Não é preciso dizer que essa história deve ser colocada dentro de um contexto histórico internacional mais amplo", disse o primeiro-ministro.
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