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Por que marcas correm contra o tempo para ter SUVs híbridos flex no Brasil

Novo Toyota Yaris Cross é um dos modelos da nova leva de SUVs híbridos flex que serão lançados em breve no Brasil - Toyota/Divulgação
Novo Toyota Yaris Cross é um dos modelos da nova leva de SUVs híbridos flex que serão lançados em breve no Brasil Imagem: Toyota/Divulgação
do UOL

Julio Cabral

31/05/2024 04h00

Por mais que os híbridos flex não sejam exatamente novidade, tendo sido introduzidos no nosso mercado em 2019, com o Toyota Corolla Hybrid, tais modelos são a bola da vez no Brasil.

Fabricantes já instalados no país ou que estão a caminho de inaugurar fábricas aqui correm contra o tempo para lançar esse tipo de tecnologias em seus veículos, o que inclui até modelos híbridos do tipo plug-in (recarregáveis na tomada). Dentre as explicações para esse fenômeno está a necessidade de colocar no mercado carros mais eficientes e menos poluentes, para atender as novas regras do governo brasileiro que vêm aí. O etanol, combustível sustentável que compensa na respectiva produção suas emissões, é um diferencial brasileiro crucial nessa equação.

Estamos falando dos novos limites de emissões do Proconve L8, que começará a valer no ano que vem. O programa será mais exigente de maneira escalonada nos anos seguintes, com endurecimentos previstos para as etapas de 2027, 2029 e 2031. Cada fabricante terá que responder às metas de menores emissões divididas pela linha inteira da marca, não modelo a modelo. Portanto, os híbridos terão que ter grande volume.

Aprovado no último dia 29, o Mover (programa de mobilidade verde) é outra explicação para esse movimento dos híbridos flex. O programa já foi votado pela Câmara dos Deputados e caberá ao Senado Federal analisá-lo.

A iniciativa é marcada pelo incentivo de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente as ligadas ao processo de descarbonização, prometendo descontos no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e também incentivos financeiros, além de prever a isenção de impostos de importação de peças não disponíveis no mercado nacional, como são os casos de muitos componentes de modelos eletrificados.

Caminho sem volta?

Lançado em 2021 no Brasil, Toyota Corolla Cross é pioneiro SUV híbrido flex - Divulgação - Divulgação
Lançado em 2021 no Brasil, Toyota Corolla Cross é pioneiro SUV híbrido flex
Imagem: Divulgação

Conforme falado, a primeira companhia a introduzir um híbrido flex no Brasil e no mundo foi a Toyota, com o Corolla sedã - em 2021, a marca lançou o Corolla Cross Hybrid com a mesma tecnologia.

A marca japonesa é pioneira na oferta de carros híbridos no planeta - movimento que, em nosso mercado, começou com o Prius no distante ano de 2013.

"Era um carro híbrido a gasolina. Naquela época, a venda de eletrificados no Brasil não passava de 500 unidades por ano", relembra Roberto Braun, diretor de comunicação e presidente da Fundação Toyota.

O crescimento do mercado híbrido levou a marca a investir no desenvolvimento de um modelo flex do tipo. O processo de adaptação do carro de gasolina para bicombustível foi de 2016 a 2019, quando foram feitas as adaptações de calibração e de componentes. O fabricante também planeja colocar no mercado um híbrido plug-in flex que, por ora, está sendo testado em um RAV4.

Mais do que um projeto nacional, os híbridos bicombustíveis já se tornaram produtos de exportação da marca. Até mesmo o conceito está sendo analisado em outros países, nações que desejam seguir a solução de descarbonização brasileira.

"O conceito está sendo exportado para a Índia, onde eles estão fazendo um programa de aumento do etanol na sua gasolina, chegando até 20% de mistura até 2025. E já existem 400 postos de combustível ofertando E100, o que vai permitir que as montadoras presentes na Índia façam o lançamento de híbridos flex em um futuro próximo", analisa Braun.

A Toyota vai ampliar a oferta de SUVs híbridos bicombustíveis no Brasil no ano que vem, quando vai lançar o Yaris Cross com essa tecnologia e produção em Sorocaba (SP), integrando um ciclo de investimentos de R$ 11 bilhões na fábrica do interior paulista.

Novos SUVs híbridos flex vêm aí

Haval H6 pode ser o primeiro híbrido flex da chinesa GWM, com fabricação no interior de São Paulo - Divulgação - Divulgação
Haval H6 pode ser o primeiro híbrido flex da chinesa GWM, com fabricação no interior de São Paulo
Imagem: Divulgação

Fabricantes que, em breve, vão inaugurar suas fábricas no Brasil também estão investindo nessa tendência.

A GWM (Great Wall Motors) é uma delas. Com a fábrica de Iracemápolis, no interior de São Paulo, prevista para ser inaugurada no final do ano, a marca chinesa começará a produzir localmente seus primeiro modelos no início de 2025. Ainda não foi definido qual será o primeiro híbrido flex, mas ele será escolhido muito em breve.

"Vai ser o Haval H4 ou H6. Estamos indo para a China e devemos bater o martelo sobre qual é a decisão ideal, as duas [opções] são feitas na mesma plataforma. Na verdade, a intenção é depois fazer as duas. O anúncio será feito daqui a 15 a 20 dias", afirma Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais e governamentais da GMW. O executivo afirma que o processo de desenvolvimento é um pouco demorado, pois a marca não tem laboratório no país, mas contou com parceiros especializados - dentre eles, a Bosch.

A rival BYD também tem a intenção de fazer híbridos flex em Camaçari, na Bahia. Uma fonte ligada ao fabricante afirma que a tecnologia "ainda não está sendo divulgada, mas está na mira da marca". O anúncio oficial não tardará muito.

Ricardo Bastos explica que a exigência do sistema flex varia de acordo com os preços do carro.

"Na medida em que você tem consumidores com volume representativo, eles querem flex. Quando ao nosso Haval, vale a pena ter flex, mas em carros de R$ 500 mil não vale. São necessários alguns milhões de reais em investimento [para adaptar o veículo à tecnologia flex]. A conta é fechada nos casos de carros que custam até R$ 300 mil. Ela se paga até o volume e, acima disso, a conta não fecha".

Outros têm híbridos flex em seus planos próximos. A Renault prepara o seu primeiro carro nacional com essa tecnologia, com vendas previstas para 2025.

A Stellantis lança ainda em 2024 seus primeiros carros com tecnologia Bio-Hybrid, como parte de um investimento de R$ 30 bilhões no Brasil, que devem ser Fiat Pulse e Fastback.

Stellantis desenvolveu diferentes plataformas para o lançamento de uma família de carros híbridos flex e elétricos no Brasil - Alessandro Reis/UOL - Alessandro Reis/UOL
Stellantis desenvolveu diferentes plataformas para o lançamento de uma família de carros híbridos flex e elétricos no Brasil
Imagem: Alessandro Reis/UOL

A Volkswagen também investirá em híbridos de vários tipos.

A Hyundai também anunciou investimento para o desenvolvimento de híbridos flex. Uma candidata a enveredar por esse caminho é a Chevrolet, entre outras marcas.

Híbridos leves flex vão predominar

Caoa Chery Tiggo 5X já traz tecnologia híbrida leve com propulsão bicombustível - Julio Cabral/UOL - Julio Cabral/UOL
Caoa Chery Tiggo 5X já traz tecnologia híbrida leve com propulsão bicombustível
Imagem: Julio Cabral/UOL

Híbridos leves (mild hybrids) também serão desenvolvidos em escala cada vez mais acelerada.

Atualmente, a Caoa Chery se destaca por fazer SUVs com essa tecnologia de 48V associada ao sistema flex, incluindo os Tiggos 5X e 7, como também o Arrizo 6.

São três os tipos de híbridos.

O híbrido leve funciona com base em um super alternador, motor elétrico que é capaz de acionar vários sistemas. A voltagem pode ser de 12V ou 48V, mais cara. De acordo com Braun, ele oferece, em média, 5% de economia em relação a um carro puramente a combustão.

Os híbridos convencionais (ou plenos) têm motores a combustão e elétrico, que podem atuar individualmente ou combinados.

Já os plug-in tem propulsor elétrico mais potente, qualidade que se soma às baterias maiores para rodar mais tempo na eletricidade. Os preços sobem de acordo com a complexidade das tecnologias.

Vale reforçar que a economia com um híbrido pleno pode ultrapassar 30% na comparação com um carro flex ou gasolina. Aqui cabe uma questão: o sistema é capaz de compensar a perda de rendimento energético de motores a etanol, calculada em 30%. Seria um empate, porém, saudável, dado que as emissões ao longo da cadeia de produção de etanol são menores.

Por mais que o híbrido pleno seja um caminho certo, a popularização passa pelos híbridos leves.

"Vai ter um crescimento nos híbridos leves. A Stellantis está trabalhando nisso, a Volkswagen e a Renault também. Essas são as que já falaram. Tem a possibilidade, sim, de termos um crescimento maior. A rota tecnológica mais frequente será dos híbridos leves, porque eles podem ser montados na mesma linha de produção, é a mesma carroceria e você pode montar um motor totalmente a combustão ou um híbrido leve. Os outros híbridos para consumir etanol, que não é um projeto complicado, mas que demora um ano, um ano e meio", analisa Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting.

Alguns fabricantes pretendem investir pesado nos três tipos de híbrido flex: mild, convencional e plug-in, o que inclui as marcas do grupo Stellantis.

"Uma das protagonistas deste investimento é a tecnologia Bio-Hybrid, que combina eletrificação com motores flex movidos a biocombustíveis (etanol) em três diferentes níveis, além de uma opção 100% elétrica", conclui Pagliarini.

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