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Brasil retira seu embaixador de Israel em meio às tensões sobre a guerra em Gaza

29/05/2024 12h27

Brasil e Israel deram, nesta quarta-feira (29), um novo passo na crise causada pela guerra em Gaza, com a decisão do Governo Federal de retirar o embaixador brasileiro em Tel Aviv e não nomear imediatamente um substituto para o cargo. 

O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, havia sido inicialmente chamado para consultas logo após declarações de Lula em fevereiro, nas quais o presidente brasileiro acusou o governo israelense de cometer "genocídio" na Faixa de Gaza, estremecendo as relações.

Não há condições "para que ele retorne" a Israel, disse à AFP uma fonte do Itamaraty. 

O conflito de quase oito meses estremeceu as relações diplomáticas de Israel com vários países, incluindo o Brasil.

Após as acusações de Lula, Israel o declarou "persona non grata". 

Meyer foi convocado ao memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, para uma reprimenda pública em hebraico, sem tradutor, que foi definida pela fonte brasileira como uma "humilhação" ao diplomata. 

O Brasil, então, chamou Meyer para consultas e convocou o representante israelense em Brasília. 

Na diplomacia internacional "não há repreensão a um embaixador perante a imprensa" e isso levou o Brasil a decidir pela retirada definitiva de seu representante em Israel, disse a fonte, que preferiu o anonimato.

A representação brasileira em Israel estará nas mãos do encarregado de negócios, Fabio Farias, e por enquanto o governo Lula não nomeará um novo embaixador. 

"Não acredito que haverá notícias de imediato", disse a fonte.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel disse em comunicado que não recebeu "notificação oficial sobre o assunto". 

O diplomata Farias "será convocado amanhã (quinta-feira) ao Ministério das Relações Exteriores (de Israel) para uma reunião sobre o assunto", acrescentou. 

Lula nomeou Meyer como representante do Brasil na Conferência sobre Desarmamento, em Genebra, na missão permanente do país junto à ONU, segundo publicou o Diário Oficial desta quarta-feira.

- Sem disposição para dialogar -

Lula tem sido uma das vozes mais fortes no cenário internacional contra a ofensiva militar israelense em Gaza, como resposta a um ataque letal de milicianos do Hamas ao sul de Israel, que desencadeou a guerra em 7 de outubro de 2023.

Na semana passada, o presidente brasileiro comemorou a "decisão histórica" de Espanha, Irlanda e Noruega de reconhecerem o Estado palestino, uma determinação que considerou positiva para promover "esforços" de paz no Oriente Médio. 

Lula, de 78 anos, lembrou ainda que o Brasil foi "um dos primeiros países da América Latina" a reconhecer o Estado palestino, posicionamento que posteriormente foi seguido por outras nações da região. 

A decisão ocorreu em dezembro de 2010, durante o final do segundo mandato de Lula. 

Segundo a fonte diplomática brasileira, a continuidade das operações israelenses em Gaza "não ajuda o diálogo de Israel com o mundo". "Eles não demonstram disposição para dialogar", enfatizou. 

As críticas de Lula a Israel foram repudiadas no Brasil pelos partidos de oposição aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que durante seu governo (2019-2022) ameaçou transferir a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, assim como fez o americano Donald Trump. 

O presidente também foi acusado de não condenar com a mesma firmeza a agressão do Hamas em 7 de outubro, na qual 1.189 pessoas foram assassinadas e mais de 200 sequestradas e levadas para território palestino, acusações rejeitadas pelo governo federal. 

Entre as vítimas da incursão do Hamas está o israelense-brasileiro Michel Nisenbaum, cujo corpo foi recentemente recuperado na Faixa de Gaza juntamente com os de outros dois reféns raptados pelo grupo palestino, conforme anunciado na semana passada pelo Exército israelense. 

Lula reagiu "com imensa tristeza" à morte e enviou sua solidariedade aos entes queridos de Nisenbaum. Mais de 36 mil pessoas, a maioria civis, foram mortas na Faixa de Gaza desde o início do conflito entre Israel e Hamas, segundo o último balanço do movimento islamista palestino que governa o território.

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© Agence France-Presse

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