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Pedidos de trégua política na Eslováquia após atentado contra o primeiro-ministro

16/05/2024 10h40

O presidente eleito da Eslováquia, Peter Pellegrini, pediu nesta quinta-feira (16) a suspensão da campanha para as eleições europeias de junho no país, um dia após um atentado classificado como "político" contra o primeiro-ministro Robert Fico, que continua internado em "estado grave".

Os cirurgiões passaram várias horas na sala de operação durante a noite, lutando para salvar a vida do político de 59 anos que foi baleado, em um ataque condenado em todo o mundo.

O suspeito de abrir fogo contra o chefe de Governo, um homem de 71 anos que a imprensa eslovaca identificou como um escritor, foi acusado de "tentativa de homicídio com premeditação", anunciou o ministro do Interior, Matus Sutaj Estok, que disse que o atentado teve "motivações políticas".

"É um lobo solitário, que decidiu agir porque estava insatisfeito com os resultados das eleições presidenciais de abril", que resultaram na vitória de um aliado de Fico, Peter Pellegrini, acrescentou o ministro.

Declarações do suspeito, autor de diversos poemas, foram publicadas nas redes sociais. Em um vídeo de 2016, ele disse: "O mundo está repleto de violência e de armas. As pessoas parecem que estão ficando loucas".

Em um momento de tensão, Pellegrini pediu aos partidos que ""suspendam temporariamente" a campanha para as eleições europeias, marcadas para 8 de junho.

"Neste momento, a Eslováquia não precisa de mais confronto", disse o presidente eleito, que tomará posse em junho, em um país dividido entre simpatizantes de um governo pró-Kremlin e apoiadores da oposição pró-Ocidente.

- "Radicalização" -

Robert Fico foi atingido por vários tiros na tarde de quarta-feira, no início de uma reunião de gabinete em Handlova, no centro da Eslováquia.

Ele continua em uma condição "realmente muito grave devido às múltiplas lesões" e permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), afirmou Miriam Lapunikova,  diretora do hospital Roosvelt de Banska Bytrica, no centro del país, onde o chefe de Governo foi internado.

O atentado provocou uma grande comoção no país do centro da Europa e uma onda de condenações internacionais.

Analistas indicaram que o atentado poderia acentuar a "radicalização" da classe política. "Temo que este ataque não seja o último e que, num futuro próximo, será a vez dos membros da oposição", declarou à AFP o cientista político Miroslav Radek.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, também condenou veemente "o ataque vil". 

Outros governantes europeus enviaram mensagens de apoio a Fico, incluindo os primeiros-ministros da Espanha, Pedro Sánchez, da Polônia, Donald Tusk, República Tcheca, Petr Fiala, e Reino Unido, Rishi Sunak.

Também houve reações da América Latina. O governo do Brasil expressou consternação

- Relações com a Ucrânia -

Além de seu atual mandato como primeiro-ministro, Fico também esteve à frente do governo em outros dois períodos, 2006-2010 e 2012-2018.

Desde a sua última eleição, em outubro, o premiê fez uma série de comentários que enfraqueceram os laços entre a Eslováquia e Ucrânia, ao defender uma solução negociada com a Rússia pelo fim da guerra.

Quando ele foi eleito, a Eslováquia parou de enviar armas para a Ucrânia, que enfrenta uma invasão russa desde 2022. Durante a campanha eleitoral, ele prometeu que não forneceria a Kiev "uma única bala".

Fico também provocou protestos em massa devido às suas mudanças controversas, incluindo uma lei de Comunicação que, segundo os críticos, prejudicará a imparcialidade da rádio e da televisão públicas.

A Eslováquia já foi abalada por outros ataques violentos relacionados à política. 

Em 1995, o filho do então chefe de Estado, Michal Kovac, foi sequestrado e encontrado na vizinha Áustria. Durante anos, muitos suspeitaram que o então primeiro-ministro, Vladimir Meciar - principal rival de Kovac - estivesse envolvido no crime.

Em outro caso, um dos seus ex-ministros, Jan Ducky, foi assassinado em frente de casa em Bratislava, em 1999.

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© Agence France-Presse

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