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Sem documento e sobrevivendo de 'bicos': quem era idoso morto em banco

Estado de saúde de Paulo Roberto Braga, 68, piorou rapidamente após internação, diz família - Arquivo pessoal
Estado de saúde de Paulo Roberto Braga, 68, piorou rapidamente após internação, diz família Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Do UOL, em São Paulo

24/04/2024 04h00Atualizada em 24/04/2024 08h16

Paulo Roberto Braga, 68, o idoso que aparece morto em um vídeo em uma agência bancária no Rio, enquanto a sua sobrinha tentava sacar um empréstimo em seu nome, já foi militar do Exército, motorista, apicultor e trabalhou até em mineradora.

Quem era Paulo

Sem filhos, Paulo viveu por mais de 20 anos com a sobrinha e com os filhos dela. Segundo a família, ele morava em uma casa com Erika de Souza Vieira Nunes. Ela foi presa por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver após ser flagrada tentando sacar um empréstimo de R$ 17 mil com o tio já morto em uma cadeira de rodas, em uma agência bancária em Bangu, zona oeste carioca. A defesa dela pediu revogação da prisão na Justiça, alegando inocência e dizendo que ela sofre de transtornos psiquiátricos.

Paulo já foi militar do Exército, motorista, apicultor e chegou até a trabalhar em uma mineradora. Mas não tinha carteira assinada há mais de 15 anos, quando perdeu todos os documentos e não foi atrás da segunda via.

De lá para cá, passou a sobreviver de "bicos".

Na relação de documentos perdidos, estavam carteira de identidade, de trabalho e até a certidão de nascimento. "Nos últimos anos, conseguimos ofícios na Defensoria Pública para entregar nos cartórios. Mas, devido ao alcoolismo, ele não conseguia ir a esses locais. Por isso, demorou tanto", disse o bombeiro Lucas Nunes dos Santos, 27, filho de Erika e sobrinho-neto de Paulo.

Em 2023, Paulo começou a receber um salário mínimo mensal do governo federal, um benefício concedido a idosos pobres. O benefício só foi obtido após ele conseguir fazer uma nova carteira de identidade. Graças a ele, Paulo conseguiu solicitar um empréstimo bancário, um mês antes de morrer, disse Ana Carla de Souza, advogada da família.

Desde quando me entendo por gente, o tio Paulo já não trabalhava com carteira assinada porque tinha perdido documentos. Fazia um 'bico' ou outro, mas não tinha emprego fixo. Ele tinha problemas com álcool, mas tinha muitos amigos.
Lucas Nunes dos Santos, filho de Erika e sobrinho-neto de Paulo

Problemas de saúde. Paulo perdeu o baço e teve malária antes da piora do seu estado de saúde, agravado do ano passado para cá, quando precisou passar por internações hospitalares. Ele teve "pneumonia não especificada" dependente de oxigênio e ficou internado de 8 a 15 de abril na UPA de Bangu, indica o prontuário médico. Acabou morrendo no dia seguinte à alta hospitalar.

Segundo a família, era Erika quem cuidava de Paulo quando o estado de saúde dele piorou. "Quando ele esteve internado, a única pessoa que o visitou foi a minha mãe. Ela o visitou todos os dias em que ele esteve internado", disse Lucas.

Vascaíno e fã de futebol, Fórmula 1 e das músicas de Roberto Carlos. "Era um sujeito brincalhão, extrovertido e criativo. Gostava de caminhar, de pegar o sol da manhã. E sempre foi família. São memórias que vão permanecer para sempre na nossa vida".

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