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França vai julgar membros de seita fundada por ex-cientista que disse ter visitado 22 planetas

18/04/2024 14h25

Começa na segunda-feira (22) em um tribunal de Paris o processo contra a seita conhecida como Grande Mutação. Cinco pessoas serão julgadas por abuso de poder e exercício ilegal da medicina. O guru, que morreu em 2018, aos 81 anos, era um renomado cientista que defendia que as pessoas podiam se curar de doenças através do uso de um pêndulo.

Etienne Guillé, ex-pesquisador do Centro de Pesquisas Nacional da França (CNRS), especialista em fisiologia-bioquímica, alegava ter viajado por 22 planetas e retornado à Terra para salvar a "raça escolhida".

Ele explicava a seus seguidores, muitas vezes também diplomados como ele, que doenças como o câncer se devem a um desequilíbrio nas energias vibracionais e que era preciso deixar a barba crescer para se conectar a ondas magnéticas.

O guru propunha a seus adeptos de se reconectar com sua "cópia celestial" para ter acesso à vida eterna. Para promover as vibrações e a reconexão era usado um pêndulo.

A teoria de Guillé era construída em parte sobre uma base cientifica complexa, isso, somado a seu currículo, conferia credibilidade à seita.

"A primeira vez que fui, não entendi nada, mas achei fascinante. Falavam de eternidade com referências científicas", lembra um ex-adepto em entrevista à revista Le Point.

Os membros da seita se reuniam de diversas maneiras, em seminários com até 200 pessoas, seções restritas ou individuais.

Em março de 2015, o ex-cientista foi indiciado por "abuso de poder e corrupção de menores" com cinco dos fundadores da seita. Mas isso não impediu seus membros de continuar a se reunir.

Por trás das afirmações pitorescas, o guru do Grupo de pesquisa de energias vibratórias eternas e suportes vibratórios incorruptíveis, nome oficial da seita, levava seus adeptos a cortar laços com familiares e amigos, fazer doações de milhares de euros por ano e a recusar tratamentos médicos. Segundo a Le Point, a seita chegou a ganhar mais de € 100.000 por ano.

A própria filha de Guillé, que tinha câncer, recusou os tratamentos convencionais para "preservar seu ser celestial", segundo uma fonte próxima da investigação.

Paranoia

Marie Christine é parte civil no processo contra a seita. Sua irmã, Véronique, conheceu o guru em 2011. "Ela mudou, não era a mesma pessoa", explica em entrevista à France Inter. Com o tempo, de acordo com a irmã, Véronique foi completamente envolvida pelas teorias de Guillé.

Ela explica que as práticas da seita giravam em torno de um objeto específico. "Eles trabalhavam com um pêndulo", lembra. "O pêndulo acabou governando toda a vida dela. Se ela tinha que ligar para o médico, ela consultava o pêndulo", diz.

"Aos poucos, ela foi se desligando de todos, da família, dos amigos, dos filhos. Ela se mudou, não quis me dar o endereço dela. Esperávamos que ela estivesse superando, mas eles eram mais fortes do que nós", lamenta.

O desfecho do caso de Véronique foi trágico. Ela finalmente cometeu suicídio e seu corpo só foi encontrado várias semanas depois.

Para Margaux Machart, advogada das partes civis do caso, a história de Véronique é emblemática do processo de influência da Grande Mutação. "É a criação de um sentimento de paranoia ao dividir a população em duas raças, testar sua família, seu empregador, etc. Esse sentimento de medo desempenhou um papel muito importante na submissão, porque o guru afirmava que se continuassem em contato com eles, corriam o risco de contrair câncer", afirma.

O julgamento está previsto para durar duas semanas, até 3 de maio. Os cinco membros da seita podem pegar até cinco anos de prisão.

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