Salman Rushdie relata em novo livro 'Faca' o atentado que quase tirou sua vida
O escritor Salman Rushdie lança nesta terça-feira (16) sua nova obra, "Faca: Reflexões sobre um atentado", na qual comenta o ataque que sofreu há quase dois anos em Nova York, quando perdeu um olho.
Perseguido há mais de três décadas por uma fatwa (chamado à sua morte) pelo seu livro "Os Versos Satânicos", o escritor, nascido na Índia há 76 anos, sobreviveu às dezenas de facadas que lhe foram infligidas por um jovem americano de origem libanesa, quando iria dar uma palestra no dia 12 de agosto de 2022 na Instituição Chautauqua, no estado de Nova York, para mil pessoas.
No livro, Rushdie não menciona o nome do agressor e se refere a ele como o "Imbecil que imaginou coisas sobre mim" e imagina longas conversas com ele para tentar entender seu ato.
Em entrevista à CBS, ele disse que antes de viajar para Chautauqua, no noroeste de Nova York, havia sonhado alguns dias antes que "era atacado em um anfiteatro".
"Eu disse para minha esposa, Eliza, 'não quero ir' por causa do sonho. Aí pensei: 'Não seja bobo, é um sonho'", afirmou.
Ele chegou a pensar que "estava morrendo", mas "não vivi isso como um drama ou algo particularmente horrível. Apenas me pareceu possível", diz o escritor.
Ele sobreviveu, mas perdeu um olho que caiu da órbita como "um ovo cozido", segundo descreveu na televisão, o que "o incomoda todos os dias".
Após algumas tentativas frustradas nos mais de 30 anos que se passaram desde a fatwa decretada pelo então líder supremo do Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini, na sequência da publicação da sua obra "Os Versos Satânicos" em 1988, seus inimigos quase conseguiram acabar com sua vida.
O tradutor japonês do livro teve menos sorte. Foi assassinado em 1991, assim como quase 20 pessoas em manifestações violentas na Índia e no Paquistão.
- "Dura lembrança" -
Na Feira do Livro de Frankfurt em outubro do ano passado, Rushdie contou que o ataque foi "uma lembrança bastante dura e clara" desta sentença de morte ainda em vigor.
"Senti como se algo tivesse saído de um passado distante e tentassem me arrastar de volta no tempo para me matar", descreveu na entrevista.
Após viver vários anos com uma escolta e escondido, Rushdie se estabeleceu em Nova York em 2000 e desde então teve uma vida social intensa.
Porém, em seu livro ele fica surpreso com a falta de segurança naquele grande evento. "Não havia seguranças presentes no anfiteatro naquela manhã. Por quê? Não sei. Portanto (o agressor) conseguiu me alcançar sem nenhum obstáculo", diz ele.
O livro termina com um retorno ao local dos fatos, mas desta vez sem público. "Eu estava no mesmo lugar, ou no que pensei ser o lugar exato, onde desabei. Senti, confesso, um pequeno lampejo de triunfo por estar ali".
"Faca" é a segunda obra publicada pelo romancista anglo-americano desde o ataque. Antes publicou seu 15º romance, "Cidade da Vitória", uma história épica que havia terminado de escrever antes do atentado.
Defensor da liberdade de expressão, é autor de diversos outros romances como "Os Filhos da Meia-Noite", "Vergonha" e "Quichotte", além de diversos ensaios.
af/lbc/db/arm/yr/fp/aa
© Agence France-Presse
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