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Cotações não explodem ao redor do mundo, mas dólar sofre esticão no Brasil

Dólar - Mathieu Turle/Unsplash
Dólar Imagem: Mathieu Turle/Unsplash
do UOL

Colunista do UOL

15/04/2024 16h46Atualizada em 15/04/2024 19h38

A cotação do dólar, no mercado brasileiro, voltou a escalar, na sessão vespertina desta segunda-feira (15). A moeda americana, que começou o dia cotada a R$ 5,10, subiu, na parte da manhã, até R$ 5,18, avançando até R$ 5,21, depois das 14 horas, com alta forte de 1,7%.

Logo depois, porém, voltou ao nível de R$ 5,18, com alta um pouco menor, no dia, de 1,3%. Fechou o dia D+1 depois do ataque iraniano neste nível, o mais alto em um ano.

A Bolsa brasileira vive um pregão sem tendência definida. O Ibovespa chegou a subir, retornando aos 126 mil pontos, por volta do horário de almoço. Mas não sustentou esse patamar e recuou para 125 mil pontos ao longo da tarde, carregando perda, até moderada, de 0,5%.

Reação moderada no mundo

Com uma certa distensão na crise ampliada no Oriente Médio, depois do ataque do Irã a Israel no sábado, a cotação do dólar registrava recuo em relação a outras moedas, ao redor do mundo, na segunda-feira. Mesmo assim, permanecia próxima aos níveis mais elevados a que chegou ao longo da semana passada, impulsionada pela expectativa do ataque iraniano.

Analistas vinculavam o esticão do dólar, no mercado brasileiro, ao anúncio da alteração da meta fiscal para 2025. Anteriormente, o governo Lula tinha se comprometido a obter superavit de 0,5% do PIB, no ano que vem. Projeções para o desempenho do setor público, contudo, fizeram o governo revisar a meta para déficit zero, relaxando um pouco as torneiras fiscais.

É também possível, porém, que a pressão mais forte sobre as cotações do dólar no mercado brasileiro tenha a ver também com a liquidação de títulos públicos, lançados em 1997 -- as NTN-A. Na semana passada, o BC ofereceu ao mercado US$ 1 bilhão de dólares, sob a forma de swap cambial, exatamente para conter a pressão de compra, na liquidação das posições. Mas, no mercado, onde se estima que tais posições somavam US$ 3,5 bilhões, ficaram dúvidas se a oferta de apenas um terço desse total evitaria uma escapa da cotação.

Prematuro falar em novo equilíbrio

Lá fora, o dólar cedeu ante outras moedas, mas o ambiente é de renovadas incertezas. O Irã anunciou que não faria outra ofensiva e Israel, até aqui, tem sido contido por aliados, mas os especialistas acreditam ainda ser prematuro concluir que um novo equilíbrio já tenha sido encontrado.

A "trégua", porém, parece ter sido suficiente para estancar altas no mercados de moedas, e também nos de commodities, principalmente de petróleo. O preço do barril do petróleo Brent, numa sessão volátil, rondava à tarde US$ 90, mesmo nível a que chegou na semana passada, impulsionado pelos rumores, depois confirmados, do ataque iraniano.

Especialistas em mercados de petróleo estimam que, se apenas oferta e procura formassem os preços, o barril do Brent deveria estar sendo negociado a US$ 84. A cotação atual reflete o sentimento dos operadores do mercado de que é preciso esperar o desenrolar dos acontecimentos, para avaliar melhor seus efeitos sobre as cotações.

Ambiente negativo para baixar juros

O "desenrolar dos acontecimentos" é negativo para a condução da política de juros pelos bancos centrais. Se já havia incertezas no horizonte — incertezas econômicas, sobre, por exemplo, o aquecimento dos mercados de trabalho e seus reflexos na inflação —, elas agora foram reforçadas por dúvidas sobre o comportamento de mercados essenciais, como os de petróleo.

Ainda que a situação no Oriente Médio prossiga contida, as mudanças ocorridas no ambiente econômico global, depois do último fim de semana, sugerem maior cautela dos banco centrais relevantes, sobretudo o Fed (Federal Reserve, banco central americano), com relação ao ritmo e ao nível das reduções previstas nas taxas de juros de referência.

No caso brasileiro, é nessa direção que o mercado parece evoluir. As curvas futuras de juros estão indicando que a taxa básica (taxa Selic) pode terminar o atual ciclo de cortes em 10% ao ano ou mesmo 10,5%. Até a semana passada, a mediana das projeções, no Boletim Focus, ainda sinalizavam recuo até 9% ao ano, embora muitos analistas já estimassem o fim do atual ciclo mais próximo de 10%.

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