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Deputada brasileira na Suíça fala sobre condenação do país na área ambiental

13/04/2024 15h43

A Suíça foi condenada por falta de iniciativas no combate às mudanças climáticas após um grupo de vovós entrar com uma ação contra o país num tribunal da Europa. A associação "Idosas pelo clima" é formada por 2.500 mulheres com idade média de 73 anos. A RFI conversou com uma deputada brasileira no país, que acompanhou de perto essa decisão histórica.

Valéria Maniero, correspondente da RFI em Lausanne, na Suíça

Carine Carvalho mora há 25 anos na Suíça e é deputada estadual no cantão de Vaud, onde atua em áreas ligadas à questão ambiental. Segundo ela, a condenação da Suíça é importante por várias razões. 

"Essa decisão estabelece um precedente jurídico muito interessante no direito europeu", afirma a deputada. Além disso, "a Corte considera claramente a questão ambiental como sendo uma questão de direitos humanos também, o que é muito importante. Ela também exige dos Estados uma ação significativa para lutar contra as mudanças climáticas e responsabiliza os governos locais, os Estados, para criarem medidas coerentes para a retomada da situação", avalia. Carine Carvalho lembra ainda que "a decisão responsabiliza um país, como a Suíça, que é um centro financeiro importante em nível mundial, um país industrializado, onde as pessoas têm alto poder aquisitivo" e que essa condenação "vai responsabilizar países como a Suíça pelo aquecimento global", diz.

"Pela primeira vez um país é condenado pela inação em relação ao aquecimento global, às mudanças climáticas. A Suíça foi criticada pela Corte por não agir de maneira apropriada e coerente diante da urgência climática", afirma a deputada

Repercussão na Suíça

Segundo ela, a repercussão da decisão na Suíça foi grande. "As associações ambientais e os partidos de esquerda comemoraram uma decisão histórica, que dá razão às suas críticas contra a política do governo federal que hoje é considerada muito lenta, muito pouco significativa para mudar".

No entanto, ela destaca que o principal partido de extrema direita está criticando a decisão, de maneira feroz, por considerarem uma interferência dos tribunais e dos juízes estrangeiros na política suíça. "Eles consideram isso como um ataque à soberania do país. Então, há hoje um debate político entre o respeito da vontade do povo, conforme expresso nas urnas, e o respeito às convenções internacionais".

Carine lembra que, em breve, será votada na Suíça um projeto da extrema direita para limitar o número de habitantes no país, "uma iniciativa que eles camuflam como ecológica, ligando a questão demográfica à questão ambiental". Na mesma data, ela diz, será votada também uma nova lei sobre energia renovável. "No fim, o povo vai ter a palavra final e vamos ver se a decisão dessa semana terá impacto sobre como as pessoas veem a questão ambiental e o papel da Suíça".

Participação ativa em áreas ligadas à questão ambiental

Há dez anos Carine atua na política pelo Partido Socialista. Ela começou como vereadora e depois se tornou deputada."Nosso partido tem uma plataforma ecológica também, se preocupa com a questão ecológica, energética, como desenvolver energias renováveis, mudar a maneira de consumo", explica. 

A brasileira também é diretora da Secretaria de Igualdade de Gênero da Universidade de Lausanne e participa de maneira ativa de ações de conscientização na área ambiental. "Eu me preocupo bastante com a questão da saúde: como é que as mudanças climáticas vão atingir a saúde das pessoas numa situação em que a saúde custa muito caro aqui na Suíça. Essas são preocupações que eu tenho na minha ação política", conta.

Sensibilizar com a música

Ela também faz parte de um coral criado recentemente para sensibilizar as pessoas sobre a questão ambiental por meio da música. O grupo está ensaiando para vários concertos no dia 11 de maio, pelas ruas de Lausanne. "Nós vamos cantar um repertório para sensibilizar as pessoas sobre como consumimos, sobre a responsabilização das pessoas - será que estamos consumindo de maneira sustentável para o meio ambiente?", pergunta.

Ela explica que a escolha do 11 de março é ligada ao "jour du dépassement", nome em francês dado ao "dia em que nós vamos ter consumido todos os recursos naturais que poderíamos consumir em um ano".

"Tudo o que vamos consumir depois de 11 maio estamos tirando do meio ambiente. Não vamos conseguir renovar mais. É para conscientizar as pessoas sobre esse problema. A Suíça é um país que consome mal e consome muitos recursos naturais".

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