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Exército de Israel aponta "erro de identificação" no ataque contra Ong humanitária em Gaza

03/04/2024 06h21

Em menos de dois dias, a situação se agravou no Oriente Médio. Dois episódios diferentes aumentaram ainda mais as tensões na região. Na segunda-feira, um ataque contra a embaixada do Irã em Damasco, na Síria, deixou 13 mortos. No dia seguinte, Israel atacou um veículo com trabalhadores estrangeiros em Gaza que de uma organização que tentava aliviar a fome da população local. 

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel,

A crise entre Israel e a comunidade internacional ganhou mais um capítulo após a morte de sete trabalhadores em Gaza. Os membros da organização World Central Kitchen (WCK), que se dedica a cozinhar e distribuir comida, foram mortos num ataque ao veículo em que viajavam no território palestino. Os sete trabalhadores eram cidadãos da Austrália, Polônia, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canadá e Palestina.

Em função disso, a organização decidiu suspender as operações na Faixa de Gaza.

De acordo com comunicado da WCK, os funcionários passavam por uma região onde não há conflitos e estavam a bordo de um carro com a marca da instituição. Ainda segundo a WCK, todos os trajetos teriam sido coordenados com o Exército de Israel.

Israel assumiu a responsabilidade pela ação e trata o ocorrido como "um evento trágico que não pode se repetir". 

Segundo o Chefe do Estado-Maior do Exército, Herzi Halevi, a investigação preliminar foi concluída e apontou que houve um "erro de identificação, durante a noite, em condições muito complexas". 

"Não deveria ter acontecido. Não houve intenção de atingir os trabalhadores envolvidos na ajuda humanitária", disse Halevi. 

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu garantiu que o país vai fazer todos os esforços para impedir que este tipo de "erro" volte a ocorrer. 

O porta-voz do exército, Daniel Hagari, está diretamente envolvido nas respostas. O presidente de Israel, Isaac Herzog, pediu desculpas por telefone ao fundador da World Central Kitchen, o chef espanhol José Andrés.

Israel encara a crise diplomática de forma séria. Tanto que decidiu enviar funcionários para apresentar pessoalmente as primeiras conclusões desta investigação aos países dos cidadãos mortos em Gaza. 

Comunidade internacional demonstra indignação

Há muitas cobranças duras a Israel; a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, declarou que os Estados Unidos estão "com o coração partido e profundamente perturbados" pelo incidente e exigem uma investigação detalhada por parte do exército israelense. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o governo norte-americano está "indignado". 

Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, falou com Benjamin Netanyahu e exigiu uma investigação independente sobre o caso. Três cidadãos do Reino Unido estão entre os mortos no ataque e Sunak disse ao premiê israelense que está "chocado" diante do ocorrido. 

O chefe de Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, cobrou investigações sobre o incidente:

"Condeno o ataque e exijo uma investigação. Apesar de todas as exigências para proteger os civis e os trabalhadores humanitários, assistimos a novas vítimas inocentes", escreveu em sua conta na plataforma X (ex-Twitter).

Borrel é um dos principais críticos a Israel. No mês de março, disse que o país usava a fome como arma de guerra, acusação rejeitada por Israel.

Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália, disse que seu governo entrou em contato com Israel para exigir a responsabilização dos culpados pelo ataque.

O Ministério das Relações Exteriores polonês também expressou repúdio: "A Polônia opõe-se ao desrespeito pelo direito internacional humanitário e pela proteção aos civis, incluindo aos trabalhadores de organizações humanitárias", disse o comunicado do país.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que o ataque aos trabalhadores humanitários é "absolutamente inaceitável". 

Israel não reivindica ataque contra Irã em Damasco 

O complexo que inclui a embaixada do Irã na Síria foi alvo de um ataque aéreo em Damasco nesta segunda-feira. O embaixador do país e sua família não ficaram feridos, mas 13 pessoas foram mortas, entre elas Mohammed Reza Zahedi, alto comandante da Guarda Revolucionária Iraniana (GRI)

O assassinato de Zahedi é considerado o ataque contra o alvo mais sênior do Irã desde que os Estados Unidos executaram o general Qassem Soleimani, em Bagdá, em janeiro de 2020. Soleimani dirigiu a Força Quds, da GRI, entre 1998 até sua morte e é considerado um dos principais responsáveis pela extensa rede de alianças iranianas estabelecidas com grupos armados e milícias por todo o Oriente Médio. 

Veículos da imprensa síria e do Irã culpam Israel pela operação militar e prometem vingança. A RFI entrou em contato com o Exército de Israel, que preferiu não comentar o assunto. No entanto, a informação é de que as forças israelenses estão em estado de prontidão máxima diante da possibilidade de retaliações, seja pelo Irã diretamente, seja pelo seu aliado no Líbano, o Hezbollah. 

O ataque ocorre na semana seguinte às declarações do ministro da Defesa Yoav Gallant, que disse que o país mudaria de postura, passando a atuar "no ataque e não apenas na defesa". Na mesma ocasião, Gallant afirmou que ações de Israel se estendem por múltiplas frentes e distâncias, incluindo "Beirute e Damasco". O ministro, no entanto, não deu mais detalhes.

A operação contra a embaixada aconteceu durante o período da tarde, o que é considerado incomum aos padrões israelenses na Síria. Isso poderia indicar uma mudança de Israel, mas não seria a única.

Na última quinta-feira (29), um ataque nas proximidades do Aeroporto Internacional de Aleppo, no norte da Síria, deixou 38 mortos, inclusive cinco membros do Hezbollah.

Israel não se manifestou sobre o episódio. Embora esteja em confronto aberto contra o Hezbollah, no Líbano, os israelenses não costumavam atingir alvos ou membros da milícia libanesa em território sírio. Pelo menos até agora. 

Os dois episódios, caso de fato tenham sido executados por forças israelenses, poderiam indicar mudanças na forma de atuação do país.

Desde os ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro, diversas lideranças e oficiais da GRI, do Hamas e do Hezbollah foram mortos na Síria e no Líbano. 

Rússia defende o Irã

A Rússia, aliada dos iranianos, culpa Israel e requisitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. O objetivo de Moscou era que, a pedido do Irã, houvesse uma condenação dos países ao ataque em Damasco. 

A maioria dos membros do Conselho condenou o ataque como uma violação de propriedade diplomática, mas sem mencionar Israel.

Nessa reunião, Zahra Ershadia, a representante iraniana, disse que até agora o país manteve a contenção, "mas que há limites para esta tolerância" e acrescentou que o Irã se considera no direito a dar "uma resposta decisiva". 

Os russos têm se referido às operações atribuídas a Israel na Síria como "provocações" e "ações inaceitáveis" contra a soberania do país. 

Embora Israel tenha preferido o silêncio, a imprensa israelense divulga a informação de que o país teria comunicado de forma vaga aos Estados Unidos que iria realizar uma "operação na Síria", mas sem dar qualquer detalhe adicional aos aliados em Washington. 

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