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Conservadores vencem sem surpresas legislativas marcadas por abstenção no Irã

04/03/2024 16h06

Os conservadores reforçaram seu controle no Parlamento do Irã, nas eleições legislativas da última sexta-feira (1º), marcadas por uma abstenção recorde desde a fundação da República Islâmica, em 1979.

O Ministério do Interior anunciou quatro dias depois da votação que a taxa de participação foi de 41%.

No total, 25 milhões dos 61 milhões de eleitores "participaram, o que representa uma taxa de 41%", declarou o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, em uma coletiva de imprensa.

Esse número é inferior ao registrado nas legislativas anteriores, de 2020, nas quais votaram 42,57% do eleitorado, apesar dos transtornos da pandemia de covid-19.

Nesta segunda-feira, os Estados Unidos afirmaram que a baixa participação é um novo sinal do "descontentamento" da população iraniana.

"Acredito que não há dúvidas de que há descontentamento com o regime", declarou à imprensa Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano.

Antes da votação, houve apelos à abstenção depois que muitos candidatos moderados ou reformistas foram desclassificados.

Os iranianos votaram para eleger os 290 deputados do Parlamento e 99 membros da Assembleia dos Peritos, responsável por nomear o guia supremo.

A participação era o principal desafio dessas eleições, consideradas uma prova para o governo, já que eram as primeiras desde o movimento de contestação que sacudiu o Irã após a morte em setembro de 2022 de Masha Amini, detida por não usar o véu corretamente.

A principal coalizão de partidos reformistas, a Frente Reformista, anunciou que não participaria dessas "eleições sem sentido" depois da inabilitação de vários de seus candidatos.

- Reformistas em minoria -

Devido a esse boicote, o próximo Parlamento estará sob o controle dos partidos conservadores e ultraconservadores, aliados ao governo do presidente Ebrahim Raisi, eleito em 2021.

Estima-se que o número de deputados reformistas ou centristas será de 45, de acordo com jornais moderados.

A maioria dos eleitos apoia uma linha rígida em relação aos valores da República Islâmica e mantém uma postura firme em relação aos países ocidentais, especialmente os Estados Unidos, além de Israel, com os quais o Irã não mantém relações diplomáticas.

Será necessário um segundo turno para 45 dos 290 assentos parlamentares, previsto para abril ou maio.

A Assembleia dos Peritos, composta por 88 clérigos, também será dominada pelos conservadores. Espera-se que esse órgão desempenhe um papel-chave no processo de seleção do próximo líder supremo.

O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, celebrou nesta segunda que, "apesar da poderosa propaganda sem precedentes dos inimigos e do uso de todos os instrumentos para dissuadir as pessoas de votar, e apesar dos problemas econômicos, o povo mostrou uma magnífica mobilização".

Ele questionou as forças "nefastas, cujos serviços de inteligência e grupos terroristas" tentaram "sabotar a segurança" das eleições, sem sucesso.

Vahidi não deu detalhes sobre esses "inimigos", mas o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, havia contestado os Estados Unidos, Israel e alguns países europeus.

Os Estados Unidos consideraram na quinta-feira que as eleições não foram "livres" nem "justas".

Com base na análise das diferentes listas, 200 dos 245 deputados já definidos pertencem ao grupo dos "principalistas", como são chamadas todas as tendências conservadoras, até as mais extremas.

Os líderes dessas tendências têm se mantido discretos e nenhum deles declarou vitória.

Muitos conseguiram se reeleger com dificuldade, como o presidente em exercício do Parlamento, Mohammad Bagher Qalibaf, cuja presidência pode ser desafiada.

Desta vez, em todo o território, foram eleitas 11 mulheres, enquanto atualmente há 16 no Parlamento.

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© Agence France-Presse

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