'Não mataria meu sócio', diz traficante sobre ex-presidente hondurenho julgado nos EUA
"Não estava em meus pensamentos matar meu sócio", disse, nesta quarta-feira (28), à Justiça dos Estados Unidos, um traficante hondurenho ao explicar por que não participou de um plano para assassinar o então presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, julgado por narcotráfico em Nova York.
Devis Leonel Rivera, fundador, juntamente com o irmão, Javier, do cartel hondurenho Los Cachiros, revelou os vínculos do narcotráfico com a classe política do país, à qual ajudou com contribuições financeiras a chegar a cargos eletivos, em troca de proteção para o narcotráfico procedente da Colômbia.
Autor confesso de 78 homicídios, o traficante começou a colaborar com a agência antidrogas americana (DEA) em 2013, antes de se entregar, em janeiro de 2015, às autoridades dos Estados Unidos.
Rivera lembrou que os irmãos Arnulfo e Luis Valle, do cartel dos Valle-Valle, queriam matar Juan Orlando Hernández e seu irmão, Tony Hernández, porque as autoridades tinham-lhes "apreendido várias propriedades" e haviam parado de atender seus telefonemas.
O então deputado pelo departamento (estado) de Cortés, Reynaldo Ekónomo, falou com Rivera, a quem conhecia desde 2004, e este lhe disse que, apesar de os irmãos Valle terem-lhe pedido para participar do magnicídio previsto para o início do primeiro mandato de Juan Orlando Hernández (2014-2018), ele não "aceitou".
"Não estava em meus pensamentos matar meu sócio, a quem tinha subornado [em troca de proteção] e, em segundo lugar, já estava trabalhando com a DEA", disse Rivera à Promotoria. Ele cumpre pena de prisão perpétua mais 30 anos por traficar mais de cinco quilos de drogas aos Estados Unidos, tráfico de armas, chefiar uma quadrilha de narcotraficantes, 78 homicídios e lavagem de dinheiro.
Em outro telefonema com Ekónomo, no qual supostamente estava o então presidente, Rivera teria tranquilizado Hernández, dizendo-lhe: "em nenhum momento quis lhe fazer mal".
Depois dessa conversa, Ekónomo lhe disse que "Juan Orlando" estava "satisfeito com a explicação".
Durante seu interrogatório, realizado na tarde de terça-feira, Rivera expôs os vínculos do traficante com a política hondurenha.
Segundo a DEA, entre 90% e 95% da cocaína consumida nos Estados Unidos vêm da Colômbia e, desde 2004, de 92% a 94% passam pela América Central (Costa Rica, Nicarágua, Honduras e Guatemala) antes de atravessar o México.
San Pedro Sula, capital econômica hondurenha, é o principal "hub" ou centro operacional da rota, segundo Jennifer Taul, especialista em narcotráfico da DEA, durante o julgamento do ex-presidente de Honduras.
Hernández, conhecido pelas iniciais JOH em Honduras, é acusado de conspirar com o narcotráfico, tráfico e posse de armas, crimes que poderiam levá-lo a passar o resto da vida na prisão, assim como seu irmão, Tony Hernández, outro personagem central do crime organizado internacional e do narcotráfico.
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