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Brasil defende 'nova globalização' em reunião do G20, com guerra na Ucrânia de fundo

28/02/2024 14h13

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs redefinir a globalização para combater a desigualdade e as mudanças climáticas, em uma reunião das autoridades titulares das finanças do G20, nesta quarta-feira (28), em São Paulo, onde a guerra na Ucrânia prevalece entre as preocupações.

"É hora de redefinirmos a globalização", disse Haddad ao inaugurar o evento do G20. O Brasil preside este ano o grupo das maiores economias do planeta.

"Precisamos entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização sócio-ambiental", acrescentou o ministro por videoconferência, após ser diagnosticado com covid-19.

Enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta impor suas prioridades na agenda global, os riscos gerados pelas guerras no mundo ganham força como tema central da reunião.

"Sabemos que o mundo vive um momento geopoliticamente tenso", mas "temos tentado fazer o esforço de sensibilizar em busca de um consenso de uma agenda que está uniforme", disse à imprensa Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda.

As negociações sobre o comunicado que será emitido na quinta-feira ao fim da reunião avançam sobre esse acordo. "O que a gente está garantindo é: há um consenso, há uma coesão, nos temas econômicos", acrescentou.

No entanto, Durigan esclareceu que discussões como a política tributária para aumentar os impostos sobre os ricos, impulsionadas por países como Brasil e França, ficariam de fora do comunicado.

Ministros e outros altos funcionários do G20 - composto pelas 19 maiores economias do mundo, pela União Europeia e, pela primeira vez, pela União Africana - participam da primeira reunião do ano de titulares das Finanças e presidentes de bancos centrais em São Paulo.

- Reunião do G7 -

Os ministros das finanças dos países do G7 - Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos - e da União Europeia realizaram uma reunião em separado nesta quarta-feira sobre a renovação do apoio ocidental à Ucrânia, desesperada por mais ajuda.

O ministro ucraniano das Finanças, Serhiy Marchenko, participou virtualmente da discussão.

Um dos pontos-chave é o uso de ativos russos em um fundo para Kiev, utilizando os lucros gerados de cerca de 397 bilhões de dólares (1,97 trilhão de reais) em ativos congelados pelo Ocidente devido à invasão lançada por Moscou.

Na véspera, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, propôs discutir com "urgência" o uso de ativos russos congelados para aumentar a ajuda a Kiev.

"Ainda não temos base legal para nos apropriarmos dos ativos russos [...] e não daremos nenhum passo" sem isso, afirmou, no entanto,  o ministro francês, Bruno Le Maire, nesta quarta.

Funcionários do governo brasileiro que participaram das conversas econômicas do G20 indicaram que o tema não foi abordado nesse grupo.

- 'Transição verde' -

Também participaram do encontro em São Paulo representantes de organismos multilaterais, como a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, o presidente brasileiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, e o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga.

Os três concordaram sobre a urgência de destinar recursos para combater as mudanças climáticas, ao participarem de um painel nesta quarta-feira à margem da reunião do G20.

"A crise climática está sobre nós, temos que admitir que fomos um pouco lentos para abordá-la", disse Georgieva.

Nesta quarta, dados oficiais mostraram que os incêndios na Amazônia Legal totalizam quase 3.000 focos em fevereiro, um recorde para este mês do ano, associado à deterioração do clima e ao desmatamento.

A chefe do FMI pediu que se acelere a redução das emissões, eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis - estimados em 1,3 trilhão de dólares (6,49 trilhões de reais) em 2023 - e mobilizar capitais para alcançar "a enorme oportunidade da transição verde".

Goldfajn, por sua vez, afirmou que o BID planeja triplicar "de 50 bilhões de dólares para 150 bilhões de dólares" (248,44 bilhões para 745,31 bilhões de reais) seu apoio a projetos contra as mudanças climáticas na América Latina na próxima década.

- Taxação de bilionários -

No que descreveu como uma "conjuntura econômica global desafiadora", Haddad apontou as prioridades do Brasil, como o "combate à fome e à pobreza, a promoção do desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global".

Além disso, o governo brasileiro pretende promover uma "justa contribuição em impostos" por parte dos "bilionários do mundo".

Nesse sentido, Le Maire também disse à imprensa que a França quer "acelerar" as negociações internacionais em direção a uma tributação mínima para os mais ricos.

O Brasil pretende, ainda, aliviar "o endividamento crônico" dos países mais pobres para que possam "fazer os investimentos necessários para a transição energética, combatam a fome e a pobreza", indicou Haddad.

À margem do G20, o ministro das Finanças argentino, Luis Caputo, teve uma reunião "excelente" com a diretora do FMI, na qual apoiou "os esforços contínuos das autoridades para restaurar a estabilidade", conforme Georgieva escreveu na rede social X.

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© Agence France-Presse

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