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Economia alemã enfrenta uma persistente 'tempestade perfeita'

21/02/2024 04h56

Exportações frágeis, preços elevados da energia, uma transição climática repleta de obstáculos... a economia da Alemanha não encontra uma saída para sua crise multifacetada, uma "tempestade perfeita" que provavelmente vai perdurar e já ameaça a coalizão de governo.

A apresentação nesta quarta-feira das novas previsões do governo confirmou a estagnação da maior economia da zona do euro.

Confirmando que havia sido antecipado pela imprensa, o governo reduziu a projeção de crescimento econômico em 2024 para 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo da estimativa anterior de 1,3%, divulgada há alguns meses.

"Neste início de ano, a economia alemã segue em águas turbulentas", declarou o porta-voz do governo, Steffen Hebestreit. 

Após uma contração de 0,3% do PIB no ano passado, a situação econômica provoca um debate intenso na coalizão de governo do chanceler Olaf Scholz, que inclui social-democratas, ecologistas e liberais.

- "Situação dramática" -

A crise é provocada por vários fatores que se acumulam e afetam o setor industrial alemão. 

Este pilar da economia representa quase 20% do PIB, mas não consegue recuperar os níveis de produção anteriores à pandemia.

"É uma tempestade perfeita", resumiu recentemente o ministro da Economia, Robert Habeck, para líderes empresariais.

A indústria enfrenta desde o início da guerra na Ucrânia os custos de energia elevados, uma consequência do fim do fornecimento de gás russo, e as taxas de juros altas fixadas pelo Banco Central Europeu para controlar a inflação, o que reduz a demanda e os investimentos.

O comércio internacional, afetado pela desaceleração da China, também não permite compensar a demanda interna frágil ou manter em um nível elevado as exportações, cruciais para a economia alemã.

Além disso, a transição climática é difícil para vários setores, que consideram não receber tantos subsídios quanto seus concorrentes, em particular os americanos.

Quase 60 grupos industriais europeus publicaram na segunda-feira uma carta para exigir medidas de apoio dos líderes da União Europeia.

Entre os signatários estão os gigantes químicos alemães BASF, Bayer e Covestro. O setor registrou no ano passado uma queda de 8% na produção e 12% no faturamento.

"Sem uma política industrial específica, a Europa corre o risco de ficar dependente de certos produtos básicos. A Europa não pode permitir isso", afirmaram os signatários.

A indústria automobilística, outro pilar da economia, enfrenta a desaceleração da venda de veículos elétricos após o fim dos subsídios públicos para a compra.

- Tensão no governo" -

Os partidos da coalizão de governo estão divididos sobre como responder à situação.

Um pacote de benefícios fiscais para as empresas está sendo negociado há vários meses. Na última versão, o valor inicialmente proposto, 7 bilhões de euros, foi reduzido para metade devido à oposição dos governos regionais, que temem dificuldades para seus orçamentos com tantos incentivos.

"O que está em jogo é nada menos do que a sobrevivência do 'Mittelstand' alemão", alertaram em uma carta aberta 18 organizações que representam as pequenas e médias empresas, coluna vertebral da economia alemã.

O líder dos liberais, o ministro das Finanças Christian Lindner, defende cortes de impostos e a redução da "burocracia".

"Se não fizermos nada, nosso país vai entrar em colapso e a Alemanha será mais pobre", afirmou.

O ministro da Economia, o ecologista Robert Habeck, considera que as medidas mencionadas não serão suficientes. Ele pediu a flexibilização das normas orçamentárias para investir nos setores do futuro.

O "freio da dívida", consagrado na Constituição, limita o déficit público anual a 0,35% do PIB. Suprimir este símbolo da austeridade orçamentária alemã é uma linha vermelha para os liberais.

As tensões internas colocam em perigo o futuro da coalizão: os três partidos estão em queda nas pesquisas antes das eleições regionais deste ano.

O secretário-geral dos liberais, Bijan Djir-Sarai, já mencionou a possibilidade de retirar o partido da coalizão.

"A mudança econômica é necessária (...) e o ponto decisivo é saber se esta coalizão conseguirá iniciar a mudança nas próximas semanas e meses", disse.

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© Agence France-Presse

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