Hamas alerta que ofensiva israelense em Rafah frustraria acordo sobre reféns em Gaza
O Hamas alertou, neste domingo (11), que uma operação militar israelense em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, frustraria as negociações sobre a libertação dos reféns detidos neste território palestino.
A comunidade internacional alertou sobre a "catástrofe humanitária" que implicaria um ataque a esta cidade, onde mais de 1,3 milhão de palestinos se refugiam, segundo a ONU. A grande maioria fugiu da guerra que dura quatro meses entre Israel e o movimento islamista.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou esta semana que o Exército se "prepare" para entrar em Rafah, afirmando que a "vitória" sobre o Hamas só pode ser alcançada com essa operação.
No entanto, um alto funcionário do movimento islamista, que governa Gaza desde 2007, afirmou neste domingo à AFP que "qualquer ataque [...] contra Rafah minaria as negociações" sobre os reféns que permanecem na Faixa, sequestrados durante o ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que desencadeou a guerra.
O que Netanyahu e seu Exército "não conseguiram fazer em mais de quatro meses, não conseguirão durante o tempo da guerra", acrescentou.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a Netanyahu que não execute uma operação militar a menos que tenha um "plano crível e realizável que garanta a segurança" da população.
O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Uma trégua de uma semana no final de novembro permitiu a troca de uma centena de reféns por prisioneiros palestinos. Estima-se que 132 pessoas capturadas em 7 de outubro permanecem em Gaza e que 29 delas teriam falecido.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma campanha incansável de bombardeios e operações terrestres contra Gaza, onde 28.176 pessoas morreram até agora, principalmente mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
A nível diplomático, há negociações em andamento, com a mediação do Catar e do Egito, para chegar a uma nova trégua, que permita a libertação de reféns e a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
- 'Devastação e sofrimento' -
Os combates foram intensos neste domingo, alguns quilômetros mais ao norte, em Khan Yunis.
Correspondentes da AFP constataram diversas explosões, aviões sobrevoando a área e fumaça preta dentro e ao redor da cidade.
O Exército israelense indicou que "continua eliminando terroristas e conduzindo operações direcionadas no oeste" da cidade.
Um representante da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Hossam al Sharqawi, afirmou que "todos os dias motoristas de ambulâncias morrem ou ficam feridos" em Gaza.
"Nunca tinha visto esse nível de devastação e sofrimento em 35 anos de missões humanitárias pelo mundo", acrescentou.
O Hamas afirmou neste domingo que quase cem corpos foram descobertos em dois bairros da cidade de Gaza após a retirada das tropas israelenses.
O braço armado do grupo islamista, as Brigadas Ezzedine al Qassam, afirmaram que dois reféns morreram e outros oito ficaram gravemente feridos nos bombardeios nos últimos quatro dias.
- 'Último reduto' -
"A vitória está ao nosso alcance. Nós vamos conseguir. Vamos destruir os batalhões terroristas restantes do Hamas e Rafah, que é o último bastião", declarou Netanyahu em uma entrevista neste domingo à ABC News.
Israel garantirá "uma passagem segura à população civil para que possa sair" da cidade, situada junto à fronteira fechada do Egito, acrescentou o premiê, sem especificar onde os civis poderão se refugiar.
Durante uma visita neste domingo a uma base militar no sul do país, Netanyahu declarou que Israel que "alcançar a desmilitarização da Faixa de Gaza". "Isso requer nosso controle [...] sobre a segurança de toda a região ao oeste da Jordânia, incluindo a Faixa de Gaza".
"Não sei para onde iremos" se houver uma ofensiva, disse à AFP Farah Muhammad, que já fugiu da cidade de Gaza, no norte.
"Não há outro lugar para fugir. Não tenho dinheiro para ir ao centro da cidade, as estradas são perigosas e a morte está por toda parte", disse esta mulher de 39 anos, mãe de cinco filhos, que perdeu contato com o marido há um mês.
- "Catástrofe humanitária indescritível" -
Os Estados Unidos, principal aliado e apoio militar de Israel, alertaram que os planos para invadir Rafah poderiam causar um "desastre". O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a campanha militar israelense de "excessiva".
Para o alto representante da diplomacia europeia, Josep Borrell, uma ofensiva em Rafah causaria "uma catástrofe humanitária indescritível".
A França reiterou seu apelo ao "fim dos combates" e alertou contra "uma situação humanitária catastrófica de uma dimensão nova e injustificável".
A Arábia Saudita convocou no sábado uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, apelou à exclusão de Israel da ONU, alegando que a ofensiva israelense em Gaza foi um "crime contra a humanidade".
Em Rabat, milhares de marroquinos se manifestaram neste domingo em apoio ao povo palestino.
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