Topo
Notícias

Salvadorenhos pedem justiça aos 42 anos do massacre de El Mozote, na guerra civil

09/12/2023 21h13

Centenas de salvadorenhos exigiram justiça, neste sábado (9), aos 42 anos do massacre de El Mozote, o maior da América Latina, no qual cerca de mil pessoas morreram nas mãos do Exército durante a guerra civil (1980-1992).

"Agora, aos 42 anos (do massacre), ainda não se alcançou a justiça, mas acreditamos que se nos unirmos, podemos conseguir essa justiça que tanto queremos", afirmou o líder da Associação Promotora de Direitos Humanos de El Mozote, Leonel Tobar.

O massacre ocorreu entre 9 e 13 de dezembro de 1981, quando unidades do Exército salvadorenho, lideradas pelo batalhão contra-insurgente Atlacatl - treinado pelos Estados Unidos -, lançaram a chamada "Operação Resgate" contra o povoado no nordeste do departamento (estado) de Morazán.

O governo de El Salvador estabeleceu em 2017 que ao menos 988 pessoas, entre elas 558 crianças, foram assassinadas em El Mozote e comunidades vizinhas.

Outras 712 pessoas que sobreviveram ao ataque abandonaram a região. 

O conflito em El Salvador deixou mais de 75.000 mortos, ao menos 7.000 desaparecidos e milhares de deslocados.

Frases como "Diante de um processo de anos de impunidade, queremos justiça já" ou "Aos 42 anos pedimos justiça, verdade e medidas de não repetição" diziam alguns cartazes no início dos atos comemorativos em El Mozote, cerca de 200 km a nordeste de San Salvador.

"Vimos muitas vítimas morrerem sem ter realizado o desejo de justiça", lamentou María José Araya, advogada do programa para a América Central e o México do Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil), que acompanha o processo há décadas.

"Em El Mozote, a morte chegou antes da justiça, mas acreditamos fielmente que a esperança não se rende ao esquecimento", afirmou.

Embora Araya tenha reconhecido que há "poucos avanços", estes não foram suficientes porque "até hoje, nenhuma pessoa foi julgada, muito menos sancionada pelos graves crimes cometidos e o processo penal não avançou para além da fase de investigação".

O processo está em fase de instrução (investigação) em um tribunal de San Francisco Gotera, oeste do país, desde 9 de junho de 2017.

Araya assegurou que o massacre de El Mozote é "o maior assassinato em massa" conhecido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), que condenou o Estado salvadorenho em 28 de outubro de 2012.

"Hoje, reafirmamos nossa luta pela memória coletiva e a justiça em El Salvador com o propósito de não ceder ao esquecimento e à impunidade, nem agora, nem nunca", sentenciou Araya.

bur/ec/cjc/mvv

© Agence France-Presse

Notícias