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Viagem de Lula a países árabes pode ampliar relações comerciais em novos setores

29/11/2023 07h20

Para alavancar o crescimento do país e atrair os petrodólares de países como a Arábia Saudita, o presidente Lula aproveitará a viagem à COP 28 para viajar a Riad e Doha. Especialistas ouvidos pela RFI vêem uma abertura para ampliar a relação comercial entre o Brasil e o Oriente Médio, não apenas no agronegócio, mas em áreas como energia limpa e indústria de transformação.

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A retomada das viagens internacionais do presidente Lula tem por destino final a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças do Clima (COP28), que começa dia 30 em Dubai, nos Emirados Árabes.

Mas, além de levar propostas sobre meio ambiente e dados sobre a queda do desmatamento na Amazônia, o presidente brasileiro tem no roteiro paradas importantes, onde o público-alvo são os árabes e seus bilionários fundos soberanos. Para isso, ele trará na bagagem um cardápio de obras, projetos de infraestrutura e parcerias em várias setores.

"A aproximação com países árabes pode ser muito profícua a ambos. O ideal seria negociar investimentos na indústria de transformação brasileira, capaz de incorporar valor, empregar e contribuir para uma pauta de exportações de maior valor agregado", afirmou à RFI a economista Cristina Helena Pinto de Mello, da PUC/SP.

Lula tem eventos e encontros nesta quarta-feira na Arábia Saudita, onde ontem se reuniu com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Os dois líderes estimaram que os negócios entre brasileiros e sauditas, hoje na casa dos U$ 8 bilhões, podem chegar a U$ 20 bilhões em sete anos, incluindo investimentos e negócios que envovem de produtos agropecuários à energia verde, passando por projetos nas áreas de Defesa e Ciências.

O líder saudita ressaltou a presidência rotativa do Brasil no G20, que começa agora no fim do ano, e o fato dos dois países estarem no BRICS. O economista Luciano Losekann, professor da Universidade Federal Fluminense, afirmou à RFI que o Brasil tem potencial de atrair os recursos árabes.

"São investimentos que são possíveis e fazem bastante coerência para o Brasil. Podemos pensar, por exemplo, no setor de energia, não apenas na cadeia de petróleo, mas também em hidrogênio, que é a grande vedete hoje dessa área. E aí utilizar as vocações brasileiras nesse ramo de produção de renováveis", disse Losekann.

O economista também citou a produção de insumos agrícolas como ponto de interesse comum entre os dois países e que, no caso brasileiro, carece de um leque mais ampliado de fornecedores, como ficou evidenciado com a Guerra da Ucrânia, que atingiu os principais vendedores desses produtos para o Brasil. "Outro segmento é o de fertilizantes, porque o Brasil tem muito interesse nisso e os árabes têm tradição na produção. E nesse caso é um setor que não demanda tanto aporte de recursos para se produzir".

Diversificação de pautas

O menu de projetos que o Brasil está apresentando lá fora se ancora também na retomada do PAC - o Programa de Aceleração do Crescimento - , que foi o principal projeto da área de fomento das gestões petistas anteriores.

A especialista Cristina Helena Pinto de Mello diz que as exportações de minério, carne e grãos do Brasil já são conhecidas e que o país precisa agora criar oportunidades para que essa pauta se diversifique.

"Países árabes possuem recursos e o Brasil é capaz de exportar proteína animal, produtos agrícolas, entre outros. E vislumbro investimentos no escoamento dessa produção, com infraestrutura em modais de transporte, silos e armazéns, infraestrutura portuária. E há muito espaço para incremento de exportações. Já fomos fortes na pauta agropecuária, mas queremos ser uma força também na indústria de máquinas e equipamentos e de transformação".

Brasileiros em Gaza

Na quinta-feira Lula irá para Doha onde, além de negócios, vai pedir ajuda para que mais 86 brasileiros sejam retirados de Gaza, já que o Catar é um dos países influentes nessas negociações, por abrigar lideranças do Hamas. Depois o brasileiro embarca para Dubai, onde o foco será o meio ambiente, mas onde ele também terá agendas bilaterais buscando atrair investimentos ao Brasil.

A viagem de Lula teve ainda seu grau de saia justa, já que o clímax do primeiro dia nas terras sauditas foi o encontro com o príncipe e principal líder do país, Mohammed bin Salman, o mesmo que fascinou a família Bolsonaro com joias de alto quilate, com atraso e muita polêmica devolvidas ao Estado brasileiro.

Comandante de fato do país, o príncipe é apontado como responsável pelo assassinado de Jamal Khashoggi, em 2018. Reportagens e colunas do jornalista sobre o regime autocrático da Arábia Saudita não só incomodavam o herdeiro, como eram consideradas por ele perigosas aos interesses da família.

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