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Glenn pede 'investigação completa' sobre espionagem da Abin: 'Chocado'

do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/10/2023 12h13

O jornalista Glenn Greenwald disse estar "chocado" por ser um dos alvos da espionagem ilegal feita pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e pediu uma "investigação completa" sobre o caso.

Várias vezes, na minha carreira como jornalista, tive a suspeita de estar sendo espionado, inclusive durante a reportagem que fiz sobre o [Edward] Snowden. Relatei que o Brasil era um alvo grande de espionagem ilegal dos EUA. Ser alvo de espionagem ilegal da Abin é invasivo. Estou um pouco chocado por saber que pessoas de dentro da Abin realmente estavam lendo nossas mensagens. Obviamente queremos uma investigação completa. Glenn Greenwald, jornalista

Em 2013, Greenwald revelou um esquema de espionagem do governo dos Estados Unidos, com base em documentos secretos divulgados por Edward Snowden. O ex-técnico da NSA (Agência de Segurança Nacional, na sigla em inglês) detalhou como funcionavam programas utilizados pelas autoridades norte-americanas para monitorar pessoas —incluindo conversas da então presidente Dilma Rousseff com assessores.

Greenwald suspeita que se tornou alvo da espionagem da Abin por sua atuação na Vaza Jato, quando divulgou conversas de membros da Lava Jato que culminaram no reconhecimento da parcialidade de Sergio Moro no caso do triplex atribuído a Lula. O jornalista destacou que seu marido David Miranda, ex-deputado federal que morreu em março deste ano, também esteve na mira do monitoramento ilegal por suas críticas a membros da família Bolsonaro.

Um dos motivos é a informação jornalística sobre a Vaza Jato. Naquele momento, foi considerada como uma grande ameaça ao governo Bolsonaro porque o alvo principal foi Sergio Moro, que era o 'superministro da Justiça'. Isso derrubou tudo no processo de prender Lula. Eu era 'inimigo' do governo Bolsonaro, mas eu já o estava criticando bem antes disso. Ele me xingou várias vezes nas redes sociais. Ele também atacou David. Glenn Greenwald, jornalista

O jornalista disse que nenhum funcionário do governo o procurou para fornecer maiores detalhes sobre o que houve. Greenwald estuda se entrará com algum processo e espera descobrir que tipo de informações foram obtidas e de que forma elas poderiam ser usadas.

Não falei com nenhuma autoridade brasileira. Até agora, ninguém do governo entrou em contato comigo para me explicar o que aconteceu. Estou consultando meus advogados sobre a possibilidade de processar e tentar descobrir mais. Quero saber qual tipo de informação essas pessoas que fizeram a espionagem ilegal obtiveram. Glenn Greenwald, jornalista

Sakamoto: Abin deveria abrir a boca para pedir desculpas

Para o colunista do UOL Leonardo Sakamoto, os agentes da Abin "podem reclamar à vontade", mas o caso de espionagem ilegal promovido pelo órgão reforça o autoritarismo do governo de Jair Bolsonaro. Ele ressaltou que o ministro do STF Alexandre de Moraes "agiu certo" ao afastar Paulo Maurício Fortunato Pinto, número 3 da Abin, caso se comprove que o episódio interferiu em investigações importantes, como a dos atos golpistas de 8 de janeiro.

A Abin deveria abrir a boca para pedir desculpas. No governo de Jair Bolsonaro, todos os órgãos de fornecimento de informações à Presidência, ao que tudo indica, foram utilizados em um grande processo de fortalecimento de um governo autoritário que visava a perpetuação no poder. Este caso ajudou a destampar uma situação muito absurda: o governo Bolsonaro, de forma que copia os piores governos fascistas, cruzou a linha. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Josias: Abin precisa explicar motivo de governo Lula ter mantido 'zagueiros' de Bolsonaro

Josias de Souza questionou a demora do governo Lula em tomar providências contra servidores da Abin, já que o órgão envia há seis meses para Alexandre de Moraes e a Polícia Federal dados de software espião. O colunista teme que o país "perca mais uma oportunidade para redefinir o papel da inteligência do Estado"

Há nos bastidores desse escândalo que envolve a Abin algo que incomoda tanto quanto o fato de Bolsonaro ter usado a agência para invadir a privacidade alheia. É igualmente incômoda a sensação de a gestão Lula ter negligenciado a descoberta de que o governo anterior usou uma ferramenta para seguir os passos de adversários. Antes de se queixar das batidas da PF, a Abin precisa explicar o porquê de o governo Lula ter mantido no seu time zagueiros da equipe adversária. Josias de Souza, colunista do UOL

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