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Em queda nas pesquisas, Trump parece não se importar com ameaças à Constituição americana

03/08/2020 13h02

As eleições americanas sempre foram um esporte de combate sem luvas, com trapaças e até violências, com presidentes e candidatos assassinados. Mas os pleitos se sucedem em dia e hora, apesar de crises econômicas pavorosas e uma das guerras civis mais sangrentas da História.

As instituições da república democrática sempre aguentaram o tranco. Só que desta vez, Donald Trump foi muito além da Tapobrana, ameaçando diretamente a Constituição e o equilíbrio democrático do país.

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O "lourão" da Casa Branca soltou um tuite, exigindo que as eleições presidenciais de novembro fossem adiadas. A pretexto da pandemia de coronavírus. Pior ainda, decretou que seriam as eleições mais fraudulentas da história por culpa dos votos por correspondência que favoreceriam os candidatos democratas. Claro, sem nenhuma prova ou dados estatísticos confiáveis.

A rebordosa veio na mesma hora. Os parlamentares, tanto republicanos quanto democratas, não acharam a mínima graça. Sobretudo depois do presidente declarar que não deixaria o poder, nem que perdesse. Ainda por cima, Trump não tem autoridade para postergar a eleição. Isso é prerrogativa exclusiva do Congresso que não está nada a fim de entregar a rapadura numa aventura que cheira a golpe de Estado.

Na verdade, o magnata está despencando nas sondagens, incapaz de liderar respostas eficientes para combater a epidemia, enfrentar a crise econômica e pacificar um país revoltado pelos crimes racistas.

Estratégia de criar clima de polarização

A cem dias do pleito, a possibilidade de uma derrota feia está claramente no ar. E como de hábito, Trump parte para a ofensiva inventando uma chanchada midiática. Só que a jogada ameaça profundamente o futuro da democracia americana.

O objetivo dessa campanha de tuites é promover a ideia de que o processo eleitoral não passa de uma enorme fraude. Se eu for eleito, tudo bem, senão é por que fui roubado. E portanto, daqui não saio, daqui ninguém me tira. A tática é preparar o terreno para lançar um tsunami de recursos jurídicos contra o resultado desfavorável das eleições em cada Estado da União, tentando anular os votos por correspondência contrários e permanecendo na Casa Branca sem aceitar a derrota.

Claro, Donald Trump sabe muito bem que não tem poder para isso. A Constituição é cristalina: se não for possível proclamar um vencedor até o dia da posse - em 20 de janeiro - é a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, que assume o cargo interinamente com todas as prerrogativas, incluindo o comando das Forças Armadas e dos Serviços de Segurança.

A estratégia é portanto criar um clima de extrema polarização entre os seus seguidores mais fanáticos e o resto dos americanos. Um ambiente de tensão política violenta para minar a legitimidade do seu possível sucessor e fortalecer o seu papel de líder incontestável de um facção extremista do eleitorado. Uma maneira de continuar tendo um peso desproporcional no cenário político do país, mesmo fora da Casa Branca.

Ameaça à democracia americana

Trump não vai se aposentar tranquilamente como os seus antecessores e vai continuar jogando lenha na fogueira. Também por motivos pessoais: fora do poder ele está ameaçado de inúmeros processos judiciais por corrupção, trapaças financeiras e até traição à segurança nacional. E precisa de tropas para combater.

O perigo é que depois de quatro anos de histeria permanente nas redes sociais, o país não está tão longe de um conflito civil sem solução. O mínimo de opacidade necessária para o exercício do poder está sendo sitiado pela vontade de transparência absoluta da mídia em rede.

A democracia vai ter que inventar uma maneira de sobreviver nesse ambiente propício a qualquer tipo de manipulação. A Constituição é a pedra angular da sociedade americana desde a Independência. Hoje, ela está ameaçada pela nova civilização digital. Mas rasgá-la é porta aberta para o caos. Trump parece não se importar com isso.

 

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