Governo brasileiro testará remédio que reduz carga de coronavírus em 93,4%
Trata-se de um medicamento aplicado no tratamento de outras doenças, cujo nome não foi divulgado para evitar uma correria às farmácias, como ocorreu no caso da cloroquina, segundo afirmou o ministro Marcos Pontes.
"Fiz questão de não saber este nome para evitar uma correria em torno deste medicamento, enquanto não temos certeza de que ele vai funcionar", disse o ministro, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Pontes disse que o medicamento é desenvolvido por cientistas brasileiros e tem formulação pediátrica, além de ser vendido a preço acessível e ter "muito pouco efeito colateral". O secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas, Marcelo Morales, afirmou que há versões genéricas do medicamento à venda nas farmácias.
Os testes serão realizados em 500 pacientes em cinco hospitais militares no Rio de Janeiro e outros dois em São Paulo e Brasília. Alguns desses pacientes receberão um placebo, e nenhum deles sequer saberá o que está tomando. Todos eles assinarão um termo de consentimento.
O medicamento será aplicado em pessoas que deram entrada nos hospitais com pneumonia, febre, tosse e tomografia com aspecto de vidro fosco. A duração dos testes será de cinco dias, sendo que os pacientes permanecerão internados em observação durante outros nove dias.
As pesquisas sobre a aplicação do medicamento em pacientes com covid-19 foram realizadas por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, órgão vinculado ao MCTIC. Inicialmente, foram testadas em torno de 2 mil drogas já conhecidas e comercializadas, das quais seis foram consideradas promissoras para a realização de testes in vitro.
Entre estes, dois medicamentos reduziram de modo significativo a replicação do vírus nas células. A droga que obteve os melhores resultados atingiu uma redução de 93,4% da carga viral, e será agora testada em pacientes infectados com covid-19.
"Desserviço" à população
Alguns especialistas contestaram as informações divulgadas pelo MCTIC, afirmando que os resultados de testes in vitro quase sempre não se confirmam em humanos.
"Os cientistas fazem centenas, pra não dizer milhares, de testes in vitro. Quase sempre todos são muito bem-sucedidos. É uma ferramenta primitiva que não dá base para imaginar que isso possa funcionar em um organismo vivo", afirmou o infectologista José David Urbaéz Brito, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, ao portal de notícias UOL.
Brito qualificou o anúncio de Pontes como "irresponsável" e um "desserviço" à população, e criticou a ausência de testes do medicamento em animais, o que, segundo os especialistas, seria uma etapa essencial do processo, antes de serem realizados os testes em humanos.
"Nunca se viu uma informação de tão baixa qualidade", criticou o infectologista. "Notícias oportunistas têm um enorme impacto em um momento de medo coletivo."
"Falar que um remédio funciona in vitro não tem nada a ver com funcionar em rato ou em humanos. É um passo muito distante entre uma coisa e outra", afirmou ao UOL o pesquisador e professor de Medicina Intensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Luiz Fernando dos Reis Falcão.
RC/ots
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