Governos da América Latina são pouco eficazes contra corrupção, diz Transparência
Uma em cada cinco pessoas sofreu extorsão sexual na América Latina e no Caribe, segundo a organização Transparência Internacional, que enfatiza que a corrupção avança e destrói os direitos dos cidadãos perante autoridades impassíveis e ineficientes.
O Barômetro Global da Corrupção, um relatório anual preparado a partir de entrevistas com 17.000 cidadãos de 18 países da América Latina e do Caribe, mostra que mais da metade dos cidadãos acredita que a corrupção está piorando em seu país e que seus governos fazem trabalho ruim para combatê-la, pecam por falta de integridade e laxismo.
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Por exemplo, de acordo com a ONG, 91% dos venezuelanos "argumentam que seu governo está fracassando no combate à corrupção", assim como 79% dos panamenhos, 72% dos dominicanos e 54% dos brasileiros.
Como novidade, o relatório da Transparência Internacional quis explorar este ano a questão de gênero na corrupção e concluiu que muitas mulheres são forçadas a prestar favores sexuais para ter acesso a serviços públicos, como assistência médica e educação.
Segundo o documento, um em cada cinco cidadãos sofreu extorsão sexual ou conhece alguém que já passou por essa situação, e 71% dos entrevistados disseram que é um fenômeno que ocorre pelo menos ocasionalmente.
Os países com a maior proporção de casos notificados foram Barbados (30%) e Guatemala (23%). No Brasil foi de 20%.
Diante dessa situação, a organização pediu aos líderes políticos que "reconheçam e abordem as formas de corrupção que afetam principalmente as mulheres" e a aplicar o Compromisso de Lima sobre corrupção, adotado em 2018.
Subornos e compra de votos
No total, 85% da população da América Latina e do Caribe classificam a corrupção como "um grande problema", enquanto apenas 13% a consideram um problema menor.
No Brasil, a porcentagem chega a 90%.
"Os cidadãos têm o direito de denunciar a corrupção e esperar que os políticos atuem de maneira íntegra", disse Patricia Moreira, diretora geral da Transparência Internacional.
A organização também investigou os subornos quando se trata de ter acesso a serviços básicos, como atendimento médico ou a realização de um documento de identidade, por exemplo.
Do número total de pessoas pesquisadas, mais de uma em cada cinco (21%) pagou suborno para obter esses serviços.
A Venezuela é o único país de todos os observados, onde a maioria dos cidadãos, 61%, disse ter recebido pedido de subornos, segundo o relatório.
E essas práticas opacas ganham força em tempos de eleições, onde a compra de votos é uma prática comum em grande parte dos países pesquisados.
Segundo a Transparência Internacional, um em cada quatro dos entrevistados recebeu suborno durante as eleições nacionais, regionais ou locais.
Um hábito que geralmente é combinado com ameaças para que o eleitorado vote de uma certa maneira.
No México, uma em cada duas pessoas recebeu suborno em troca de seu voto e uma em cada quatro foi ameaçada de represálias.
Desconfiança
A Transparência Internacional adverte que essas práticas corruptas fazem com que os cidadãos percam a confiança nas instituições.
"Muitas vezes, presidentes, parlamentares e outros líderes políticos agem em favor de seus próprios interesses, às custas dos cidadãos aos quais devem estar a serviço", denunciou Delia Ferreira Rubio, presidente da Transparência Internacional.
Assim, na Venezuela, onde 87% dos entrevistados disseram que a corrupção havia aumentado em seu país nos últimos anos, 90% dos cidadãos afirmaram ter pouca ou nenhuma confiança na Justiça e na polícia.
No Brasil, onde a pesquisa abrange os três primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, o texto aponta que, "nos últimos oito meses, o quadro anticorrupção do Brasil sofreu uma série de golpes".
"O presidente (Jair) Bolsonaro tentou aumentar o escopo de informações confidenciais para reduzir a transparência e não deu muita atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete", insiste o texto.
Na Colômbia, El Salvador, Guatemala, Panamá e Peru, acontece o mesmo: 90% da população afirmou não confiar nessas instituições.
Além disso, 53% dos entrevistados acreditam que o cargo de presidente ou primeiro-ministro e o Parlamento são as instituições públicas mais corruptas.
Cinquenta e quatro por cento dos brasileiros apontaram que o quadro piorou nos últimos 12 meses; por outro lado 82% acreditam que podem fazer a diferença para reverter essa situação.
Represálias
O problema, lembra a ONG, é que a grande maioria dos cidadãos não conhece seus direitos. A este fato, soma-se o medo de represálias se denunciarem casos de corrupção, algo que acontece com 73% dos entrevistados.
Em alguns países, também há dúvidas sobre a eficácia das denúncias.
Enquanto no Brasil 57% da população acredita que a denúncia pode servir para que medidas sejam adotadas, na Venezuela apenas 19% acredita que pode ser eficaz.
Mesmo assim, 77% dos cidadãos argumentam que denunciar os fatos pode influenciar positivamente a luta contra a corrupção. Neste sentido, a Transparência Internacional insta os governos a "canalizar energia positiva" para "empoderar a população".