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Com o 'lar' nas costas: como vivem os quase 1 milhão de nômades da Mongólia

Homem e sua filha em acampamento nômade na Mongólia - LightRocket via Getty Images
Homem e sua filha em acampamento nômade na Mongólia Imagem: LightRocket via Getty Images
do UOL

De Nossa, em São Paulo

26/05/2024 04h00

Das pouco mais de 3 milhões de pessoas que vivem na Mongólia quase um terço é nômade, mudando de lar diversas vezes ao longo de um ano - e carregando a casa "nas costas".

Essas pessoas vivem em um "ger", palavra que significa "casa" em mongol: o lar portátil tem uma estrutura semelhante a uma grade de madeira, coberta por uma lona que forma as paredes da tenda.

Por que a população se muda tanto?

O clima na Mongólia vai do extremo frio ao extremo calor, o que obriga parte do seu povo - que tem a agricultura e a criação de animais como principais atividades - a se deslocar pelo país em busca dos melhores lugares para viver.

No inverno, ficar em frente a uma montanha costuma ser uma boa solução, já que ela protege as casas do gelo. Já nas estações mais quentes, os mongóis se deslocam para mais perto de rios, para estocar água.

O jornalista Michael Turtle, fundador do site timetravelturtle, viajou à Mongólia para acompanhar o dia a dia de alguns membros de sua comunidade nômade. Ele ouviu da comunidade que visitou que a maioria se desloca, em média, quatro vezes ao ano. Mas aqueles que têm mais animais chegam a se mudar até 30 vezes, já que seu estoque de comida acaba muito mais rápido.

animais nomades - Reprodução/Youtube/Slice/Hamid Sardar Production/France Televisions - Reprodução/Youtube/Slice/Hamid Sardar Production/France Televisions
Trecho do documentário 'Taiga' mostra animais transportando pertences de pastoreiros; hoje, caminhões também participam do deslocamento
Imagem: Reprodução/Youtube/Slice/Hamid Sardar Production/France Televisions

Como a Mongólia virou nômade?

"Espremido" entre China e Rússia, o país tem um clima afetado pelo Deserto de Gobi — onde as temperaturas variam entre 45°C e - 40°C. A estrutura dos "gers", com uma manta térmica confeccionada usando inclusive a pele de animais, mantém a casa habitável mesmo nos extremos.

Antes de virar Mongólia, o país fez parte de vários povos nômades, em uma história conectada até com os Xiongnu, guerreiros que levaram China a construir a Grande Muralha. O primeiro registro do termo "mongol" é do século 11 d.C.

O mongol mais famoso, Genghis Khan, virou líder do povo no início dos anos 1200. Quando ele morreu, em 1227, ele já tinha conquistado territórios suficientes para formar o Império Mongol, que ocupava boa parte da Europa e da Ásia — mantendo o estilo de vida nômade como parte da cultura.

Como são as casas dos nômades?

Cada casa leva menos de três horas para ser construída e pode abrigar até 15 pessoas, dependendo do tamanho da estrutura, segundo a WWF.

Já a desmontagem leva apenas uma hora e transforma os gers em pacotes sem muito volume, que podem ser transportados facilmente.

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Base das casas nômades na Mongólia: "ger" demora em média três horas para ficar pronto
Imagem: Reprodução/Youtube/ BBC Earth Unplugged

A base dos gers é feita de uma estrutura entrelaçada de madeira, facilmente dobrável para as viagens e de postes que são unidos por cordas para formar o telhado.

Depois, ela é coberta por tecidos feitos com couro de animais e lona, que fica exposta na parte externa da casa.

Internamente, os moradores costumam enfeitar a casa com uma tapeçaria colorida, típica do país, e instalam até mesmo piso. Já o banheiro costuma ser o cômodo mais improvisado, com os banhos limitados a uma banheira pouco maior que um balde, segundo mostrou o canal Artger, que visitou e viveu "um dia nômade" com os locais.

ger internamente - Reprodução/Youtube/ARTGER - Reprodução/Youtube/ARTGER
Parte interna de um "ger"
Imagem: Reprodução/Youtube/ARTGER

Cultura é protegida pela Unesco

Apesar do estilo tradicional se manter, a Mongólia passa por um rápido processo de modernização desde os anos 1990.

Muitos da geração mais nova procuram um estilo de vida mais urbano, se mudando para os grandes centros e abandonando a vida nômade, de acordo com o site The Diplomat, especializado no pacífico asiático.

Para preservar a cultura, o governo mongol fechou uma parceria com a Unesco para registrar danças e artefatos nômades como patrimônio cultural imaterial do país.

Essa proteção também inclui algumas montanhas e lagos do país, que são poupados da mineração, uma atividade importante para a economia da Mongólia.

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