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Garotin de São Gonçalo lança álbum com R&B consciente e homenagem a Vini Jr

Trio Os Garotin de São Gonçalo - Pedro Micelli/Divulgação
Trio Os Garotin de São Gonçalo Imagem: Pedro Micelli/Divulgação
do UOL

Tarso Oliveira

Colaboração para Splash, de São Paulo

20/05/2024 12h00

Com referências que vão de Jorge Ben, João Bosco e até o groove da música negra norte americana, o trio carioca Os Garotin de São Gonçalo lança seu primeiro álbum de estúdio, "O Calor do Momento" —já disponível em todas as plataformas digitais.

Ao longo dos 37m51s, o disco traz 12 faixas autorais e chega para consolidar a trajetória do grupo, que bombou nas redes sociais com o primeiro EP, "Os Garotin Session" (agosto de 2023), dos hits "Zero a Cem" (4,4 milhões de views no YouTube) e "Pouco a Pouco" (907 mil views no YouTube). O trio conta a Splash que estava confiante, mas ainda assim se surpreendeu com o estouro.

"Após muito trabalho, o EP mostra de forma brilhante a mistura musical e o nosso encontro. É algo divino! Que com certeza está gravado pra sempre em nosso coração. Sem sobras dúvidas se tornou um divisor de águas nas nossas carreiras, mesmo sendo o nosso primeiro álbum", diz Cupertino, que forma o trio ao lado de Anchietx e Leo Guima.

Sobre a conexão do grupo ser "algo divino", a referência não é à toa. O trio é nascido e criado na cidade de São Gonçalo (RJ), município considerado o mais evangélico do Brasil pela quantidade de igrejas que existem na região. Com a forte presença evangélica nas favelas, a igreja acaba sendo o marco zero da trajetória de grandes artistas —história compartilhada com grandes nomes mundialmente conhecidos como Stevie Wonder, Beyoncé e Whitney Houston.

Com Os Garotin não foi diferente. Eles mencionam que grande parte de suas referências vieram primeiro da música gospel. Além de enxergarem a igreja com um corpo que promove iniciativas onde o Estado brasileiro não atua, veem o espaço ainda como um verdadeiro laboratório musical, já que gera a oportunidade de músicos iniciantes se desenvolverem e se sentirem motivados para tocarem em cultos aprendendo também com os mais velhos, que fazem questão de passar seu conhecimento para que a evangelização por meio da música continue acontecendo.

"Normalmente, o músico quando tá começando não tem oportunidades de se apresentar em barzinhos e casas de shows. Enquanto isso, na igreja, o jovem tá tocando no culto no mínimo quatro vezes por semana e isso estimula a estudar porque ele sempre vai ter lugar pra se apresentar. Eu aprendi a cantar no microfone e tocar bateria na igreja e isso potencializou o meu conhecimento musical"
Cupertino

Os artistas também mencionaram a influência do funk e do samba, ritmos muitos presentes na favela de São Gonçalo. Essas vivências são citadas na faixa "Violão Amarelo", que resgata não só o aprendizado musical deles como também as dificuldades que enfrentaram e enfrentam por conta das mazelas sociais e raciais enraizadas no Brasil. Leo Guima aponta que não teria como não abordar essas questões no disco, pois elas também atravessarem o seu cotidiano assim como de vários jovens pretos periféricos.

"Quando a gente sai da igreja, daquela pureza espiritual, a gente vai pra rua e pega aquela malandragem no bom sentido da palavra. Podendo ter uma amplitude maior de vivências, histórias e desafios de uma pessoa preta favelada. Isso transformou a nossa essência e nos transformou no que somos hoje"
Anchietx

Uma outra particularidade interessante desse trio é que cada artista tem sua carreira individual, tratando o conjunto como uma demonstração dessa união orgânica e sincera entre eles.

Anchietx por exemplo, teve sua primeira ligação com a arte através da dança e depois acabou se conectando de vez com o canto com a música gospel. O artista começou sua carreira em 2018, e singles como "Quando Eu Te Vi" e "Não Quero Te Perder" chamaram atenção. Há 5 anos, ele vem participando de festivais e emplacando hits nas redes sociais.

Já o cantor Leo Guima é um dos cantores e acabou de lançar seu primeiro EP solo, "Só Vem", trazendo sua essência do soul e da funk music. Cupertino também não ficou de fora e com o EP "Mais uma História de Amor" vem desenvolvendo sua própria hsitória.

"Antes dos Garotin, a gente já tinha nossa carreira individual e fazia nossas próprias músicas. Tendo a nossa individualidade respeitada, a gente tem muita saúde a oferecer pro grupo", analisa Leo Guima. "E o principal é a admiração que temos um pelo outro. Essa admiração recíproca faz a gente chegar à conclusão que é o trabalho solo é necessário", completa Cupertino.

Além de muito amor e romance, as faixas "Em Nome da Paz", "Vini Jr" e "Desapega", com aquela levada inspirada na MPB de Jorge Ben e Gilberto Gil, trazem de forma contundente e autêntica o questionamento e a reflexão sobre o impacto profundo que o racismo perpassa na vida da população preta e periférica.

O álbum promove uma festa por meio de uma música muito dançante e potente para que o público possa se divertir, se apaixonar e também se conscientizar. Na faixa "Vini Jr", o jogador multicampeão do Real Madrid Vinícius Júnior, que também é cria de São Gonçalo, é homenageado. Um dos melhores jogadores do mundo é visto pelo grupo e por jovens da cidade como uma grande inspiração. Os trechos finais dessa faixa ressaltam essa consideração pelo atleta: "Quem diria que o Vini Jr chegaria um dia, quem diria que São Gonçalo um dia venceria".

"Não teria como não citarmos o Vini Jr no nosso disco. Ele leva o nome de São Gonçalo pro mundo todo. E esse também é o nosso intuito por meio da música"
Cupertino

"No R&B brasileiro, num contexto geral, o público limita o gênero a falar de amor, mas a gente vem de uma escola de artistas que sempre fez questão de mostrar suas vivências e opiniões dentro da sua arte", conta Anchietx. "Fazemos questão de deixar explícito. E vemos outros artistas da cena do R&B, cena que sempre existiu, também colocando isso na sua música!"

O disco que começou a ser produzido em agosto de 2023, juntamente com o produtor e músico Júlio Raposo traz uma mistura musical que vai além das referências brasileiras e afro-norte-americanas. Na faixa "Pique Anitta", foram colocados arranjos e melodias vindos do afrobeat, ritmo que também é de origem africana e vem de uma grande cena na Nigéria. A faixa contextualiza a profundidade e os rumos de estudos aguçados que Anchietx, Cupertino e Leo Guima têm pela música.

O novo álbum já nasceu com dois clipes, das faixas "Curva Escura" e "Calor do Momento", que tem como inspiração shows da cantora Lauryn Hill dos anos 90 e traz os músicos ao vivo com a energia implacável da união afetuosa que existe entre eles.

O grupo está com apresentações marcadas em dez cidades do Brasil, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Eles contam que o show tem tudo para impactar o público pelo cuidado e atenção que dedicam a cada arranjo.

"Foi muito prazeroso ter produzido e gravado o disco com coisas que vieram do nosso coração, do nosso sentimento. A nossa conexão é algo espiritual e não dá pra explicar em palavras. Só em música mesmo! Podemos garantir que tá sendo um momento único nas nossas vidas o que estamos vivendo com esse disco"
Cupertino

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