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'A Queda do Céu', uma celebração da vida dos yanomamis em Cannes

Doc. em um livro escrito pelo antropólogo francês Bruce Albert e o líder yanomami Davi Kopenawa - Divulgação
Doc. em um livro escrito pelo antropólogo francês Bruce Albert e o líder yanomami Davi Kopenawa Imagem: Divulgação

19/05/2024 14h28

Os brasileiros Eryk Rocha e Gabriela Carneiro apresentaram, neste domingo (19), o documentário "A Queda do Céu", que aborda a cosmologia yanomami e serve de alerta para a humanidade diante das ameaças sobre a Amazônia.

O que aconteceu

Baseado em um livro escrito pelo antropólogo francês Bruce Albert e o líder yanomami Davi Kopenawa, o documentário começou a ser idealizado em 2017, antes da crise do covid-19.

A câmera acompanha a vida de uma aldeia dos yanomami no coração da floresta, uma etnia de cerca de 30.000 indígenas que dispõem legalmente de seu próprio território, mas que regularmente sofrem com as invasões de garimpeiros e madereiros.

A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. (...) Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar. Davi Kopenawa

Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha documentaram os yanomamis durante quase uma década para esse projeto, mas reconhecem, em entrevista à AFP, que quando chegaram à comunidade, a única coisa que poderiam fazer era deixar se levar pela magia do lugar.

Filmaram um dos rituais mais importantes dos yanomami, um "reahu", uma espécie de cerimônia que a aldeia organizou em homenagem ao sogro falecido de Kopenawa.

"Havíamos lido o livro, tínhamos feito vários roteiros", recorda Eryk Rocha, "mas ao viver essa festa em seu interior, foi uma experiência muito forte". "Nós ficamos um mês convivendo com eles. O filme nasceu ali", acrescenta. "Nos deixamos levar pela força, pelos sonhos dessa comunidade".

Durante o ritual, os yanomami consomem drogas alucionógenas, dançam e cantam. Mas também cantam e sonham durante sua passagem pela floresta, durante suas tarefas diárias.

O único momento em que a harmonia é quebrada e a tensão é palpável é quando eles recebem notícias de outras aldeias, por frequência de rádio. Notícias de assédio, de invasões, de doenças "trazidas pelos brancos".

"Temos essa forte crença de que o filme, a arte, é uma forma de encontro, uma forma de relacionamento, uma forma de criar outros mundos, outras possibilidades. Acho que os yanomami também entendem isso", explica Gabriela Carneiro.

Eryk Rocha é filho do prestigiado cineasta Glauber Rocha (1939-1981), um dos integrantes do Cinema Novo brasileiro, ao qual seu filho prestou homenagem em um documentário apresentado em Cannes em 2016. "É muito emocionante estar aqui novamente, trazendo a luta do povo yanomami, o sonho do povo yanomami", diz o cineasta.

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