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"Retrato da Senhorita Lieser", de Gustav Klimt, arrecada US$ 32 milhões em leilão

24/04/2024 17h22

Por Francois Murphy

VIENA (Reuters) - O "Retrato da Senhorita Lieser", de Gustav Klimt, quadro de uma jovem que ficou inacabado quando o artista austríaco morreu, foi vendida em leilão nesta quarta-feira por 30 milhões de euros, apesar de questões ainda em aberto sobre a personagem retratada e sobre seus proprietários anteriores. 

Durante muito tempo, acreditava-se que a obra estava perdida, mas ela passou décadas pendurada em uma vila privada perto de Viena, segundo a casa de leilões Im Kinsky, que a colocou em exibição em janeiro antes de bater o martelo. A Im Kinsky havia estimado seu valor entre 30 e 50 milhões de euros. 

O quadro mostra uma provável adolescente em um vestido turquesa com um manto floral esvoaçante contra um fundo vermelho, sua pele de alabastro e olhos castanhos claros e penetrantes, contrastando com o cabelo escuro e encaracolado. 

Apesar de retratá-la com tanta clareza, ainda resta incerto afirmar quem a "Senhorita Lieser" realmente era. Os irmãos Adolf e Justus Lieser foram industriais ricos do Império Austro-Húngaro e construíram fortuna com juta e cânhamo, produzindo barbantes e cordas. 

Henriette Amalie Lieser-Landau, apelidada de "Lilly", foi casada com Justus até o divórcio em 1905 e tornou-se uma conhecida patrona das artes. É possível que tenha encomendado a pintura de uma das suas filhas ou que Adolf Lieser tenha pedido o retrato da filha Margarethe. 

"De acordo com a mais recente pesquisa de procedência, a modelo de Klimt possivelmente não era Margarethe Constance Lieser, sobrinha de Lilly Lieser, mas uma das suas filhas (com Justus), ou Helene, a mais velha, nascida em 1898, ou a sua irmã Annie, que era três anos mais jovem”, afirmou a casa de leilões em seu site. 

Também não está claro o que ocorreu com a pintura após a morte de Klimt, em 1918, especialmente o que se sucedeu após a Alemanha nazista anexar a Áustria, em 1938, e perseguir os judeus do país, expropriá-los e enviá-los a campos de concentração. 

Margarethe saiu da Áustria para a Hungria e depois para o Reino Unido, mas a casa de leilões diz que o quadro, comprovadamente, nunca deixou a Áustria. Lilly Lieser ficou em Viena até ser deportada em 1942 e foi morta em Auschwitz no ano seguinte. 

Suas filhas voltaram para Viena após a Segunda Guerra Mundial para recuperar seus bens, mas a pintura não foi mencionada em nenhum dos documentos, disse a Im Kinsky. 

"Foram essas muitas ambiguidades e lacunas históricas que levaram os atuais donos a entrarem em contato com os sucessores legais da família Lieser e concordarem com uma 'solução justa' com todos eles em 2023", disse a Im Kinsky, sem identificar os atuais proprietários. 

"Foi acertado não divulgar o conteúdo desse acordo; mas pode-se afirmar que todas as reivindicações concebíveis de todas as partes envolvidas foram resolvidas e atendidas por meio do leilão da obra de arte", disse. 

"O acordo essencialmente significa que -- do ponto de vista puramente legal -- é irrelevante quem encomendou a pintura a Gustav Klimt e qual das três jovens em questão ela retrata." 

(Reportagem de Francois Murphy)

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